Calorias? Por que viver sem essa contagem?
por Helena Jacob
Calorias talvez seja uma das palavras mais citadas e menos conhecidas do nosso mundo contemporâneo e midiático. Não se precisa de muito tempo para ouvi-la em um restaurante, especialmente se a maioria da mesa for composta por mulheres. Ou no café, quando alguém rejeita o pequeníssimo biscoito que acompanha a bebida, alegando que irá engordar com aquela micro porção.
Vivemos na contagem de calorias eterna, sempre tentando negar nossa fome e prazeres. No mundo fitness, magro e musculoso, fica implícito o discurso de fraqueza moral para quem não consegue ser magro. Faltou força, foco e fé, expressão absurdamente utilizada e que se afastou há muito das originais conotações religiosas que possui – ou será que o corpo magro e dito perfeito é uma religião? Estou quase dizendo que sim….
Mas o que são calorias, essa expressão que tanto nos atormenta? O termo designa a medida usada na física para representar a quantidade de energia necessária para elevar a temperatura da 1 grama de água em 1 grau. Legal, o que isso tem a ver com comida? Segundo a nutricionista francesa Sophie Deram, “ uso do termo caloria na nutrição foi uma tentativa de medir a quantidade de energia que um determinado alimento traz e o quanto nós precisamos diariamente para viver.”
Que curioso! Nos torturamos porque um chocolate tem 100 calorias,mas não nos damos conta de que o conceito tem a ver com vida não com sofrimento. Precisamos das calorias para viver. Sem elas, morremos – simples assim. Então, por que viver contando calorias pra sempre sem entender que elas fazem parte da nossa vida?
Esse é um bilhete premiado para comer tudo que der vontade e cair matando na pilha de chocolates e doces da doceria mais próxima? Claro que não. Precisamos comer de tudo, de modo variado e menos industrializado possível. Mas viver vigilante e com medo do que iremos comer, sem conseguir improvisar fora de casa ou levando comida para eventos sociais (acredite, há quem leve marmita para casamentos) é distúrbio alimentar tanto quanto as conhecidas anorexia e bulimia. Trata-se da ortorexia nervosa.
Mas como vou manter o peso sem contar calorias?Comendo de tudo, mas pouco. Já reparou como nossas porções de comida no Brasil são enormes? Reduzir para metade nos mantêm alimentados e satisfeitos sem grandes esforços. O que faz mal é comer 10 brigadeiros, não um ou dois. E comer nas ocasionais festas, não todos os dias.
Como referência, conheça o trabalho do Genta, grupo especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade conduzido por uma equipe incrível de nutricionistas especializadas em nutrição comportamental, coordenada pela Marle Alvarenga, Manoela Figueiredo e Fernanda Timerman (http://www.genta.com.br/). Outro trabalho ótimo alinhado ao Genta é o blog e as redes sociais da Marina Nogueira, também nutricionista. O nome inspirou este texto e é maravilhoso “Não conto calorias” (https://www.naocontocalorias.com.br/). Nele a gente consegue se inspirar e buscar o prazer na comida no dia a dia, mantendo a saúde. 
Por que não experimentar toda a delícia e o prazer de uma fatia de um bolo desses sem pensar nas calorias?
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Helena Jacob
Sou jornalista e passei por diversos jornais e revistas, mas só atuei com gastronomia diretamente em apenas um deles, o jornal Destak, onde tive uma coluna nessa área. No entanto, não faltam “frilas” e textos no meu currículo sobre esse tema tão apaixonante.
Hoje sou também professora universitária e me realizo orientando trabalhos incríveis sobre alimentação, gastronomia e culinária, com alunos maravilhosos e sempre ávidos a discutir essa fonte inesgotável de discussão que nos move diariamente. Acredito que o tema alimentação deve estar presente em todo tipo de debate sobre questões políticas, econômicas e sociais, pois comer é um ato político e sagrado, que conecta nosso corpo à natureza. Precisamos nos divertir ao comer, mas temos que ter consciência sobre todos os aspectos que a comida traz à nossa vida - e é justamente essa a proposta para discutirmos aqui.