Agrotóxicos: precisamos saber e combater
por Helena Jacob
Você sabia que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo? Análise realizada em 2017 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, mostra estamos consumindo o equivalente a 7,3 litros de agrotóxicos por pessoa todo ano. Alguns alimentos são especialmente contaminados, por serem muito sensíveis no seu plantio e cultivo: morango, tomate e pimentão, entre outros. Isso quer dizer que aquela torta de morango linda e apetitosa traz como extra uma quantidade nociva de veneno.
E os números podem piorar, porque uma comissão especial da Câmara dos Deputados tem feito lobby pesado para aliviar o controle do uso de substâncias químicas na produção de alimentos no Brasil, que já é muito baixo em relação às políticas de controle de substâncias químicas da Europa.
O relator do projeto que tramita na Câmara, Luiz Nishimori, defende que a atual legislação está defasada e impõe muita burocracia ao setor agrícola, que precisa ser modernizado. Mas essa modernização proposta pelo político é muito controversa.
Por que devemos usar mais veneno na nossa comida – já muito envenenada – se a União Europeia limita o uso do herbicida glifosato, por exemplo, a uma quantidade 500 vezes menor do que a permitida No Brasil? Por que dos 504 agrotóxicos permitidos no nosso país, 30% são proibidos na mesma União Europeia há mais de uma década? Será que a vida vale mais na Europa? Parece que sim.
Outro método para se medir o uso de venenos na comida é a contaminação da água. Afinal, as lavouras gastam muita água, gastamos em casa ao lidar com os alimentos e essa água contaminada vai para nossos rios, mares e lençóis freáticos. Adivinhem? Estudos indicam que o limite de contaminação por agrotóxicos na água potável brasileira é 5.000 vezes superior ao máximo permitido na Europa.
Outro agravante dessa questão: além de comermos venenos, estamos matando os trabalhadores rurais. Pelo contato direto com os venenos – tanto na manipulação cotidiana quanto pela proximidade de moradia -, esses trabalhadores são as principais vítimas de doenças relacionadas aos agrotóxicos. Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, indicam que mais de 1 milhão de brasileiros foram intoxicados por agrotóxico entre 2007 e 2014, sendo que um quinto das vítimas é criança ou adolescente.
O que todos estes dados precisam nos dizer: temos que ficar de olho nas votações dos nossos deputados, cobrar, exigir uma comida melhor para nós e nossos filhos. Temos que exigir que o país controle mais a contaminação, não que a libere mais. Se citamos tanto a Europa como parâmetro de qualidade em tantos setores da vida, precisamos copiá-la nesse assunto.
Boas fontes para obtenção de informações sobre os agrotóxicos no país são o site da Fiocruz (https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-divulga-nota-contra-flexibilizacao-de-lei-sobre-agrotoxicos) e o do Greenpeace (http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Analise-de-agrotoxicos-da-ANVISA-ignora-riscos), dentro muitos outros. O futuro da nossa saúde não pode ser piorado. Precisamos lutar por menos veneno na comida e não deixar que políticos aumentem esses números já alarmantes, apenas em defesa dos negócios deles.
Imagens: freeimages.com