Vasalisa e o ciclo Lunar Virginiano
por anaflavia.medina
Depois de 6 meses de quarentena e um mundo ainda virado de pernas para o ar, nossas reflexões são para onde podemos viajar dentro das restrições que se apresentam em nossas vidas nesse momento tão impactante da humanidade.
Eu, como quase todo mundo, fui levada a fazer uma profunda viagem para dentro da minha casa – física e psicológica. As paredes externas, os cômodos, as gavetas, o jardim… ou seja, as estruturas do imóvel que habitamos nos levam a reflexões profundas sobre nossas estruturas psíquicas, nossos pilares, nossos caminhos, nossas relações.
As oportunidades de cursos e de grupos de discussão sobre nosso momento de vida pessoal e comunitário se transformaram em janelas virtuais para o mundo, momentos para nos debruçarmos e olharmos para o exterior e respirar ares novos. Se temos algo produtivo na quarentena foi a somatória das angústias coletivas que estão promovendo reflexões incríveis, e buscas de saídas compartilhadas.
Com isso trago minha viagem desse ciclo lunar virginiano, olhando para as entranhas da minha casa e da minha vida no atual momento, cumprindo as tarefas do conto de Vasalisa – a Sabida, tão bem descrito em “Mulheres que Correm com Lobos” de Clarissa Pínkola Estés.
Para quem não conhece, esse conto é russo fala da iniciação de uma mulher e busca do desenvolvimento de seu self selvagem. Ao desenrolar do conto vamos percebendo como a personagem, Vasalisa, vai se apropriando de seu poder instintivo básico: a intuição. Todo o apelo do texto é para como as coisas não são como parecem ser, como temos que estimular, desenvolver nosso olhar selvagem e meticuloso para enxergar além das entrelinhas, e/ou das aparências.
Já no começo do conto o autor instiga seu leitor com uma frase ambígua: “Era uma vez e não era uma vez…” O texto é de uma riqueza arquetípica imensa e nos leva a refletir sobre inúmeros pontos de vista de nosso amadurecimento. mas como estamos em um ciclo lunar virginiano gostaria de focar nas tarefas de Vasalisa desempenhadas dentro da casa da Baba Yaga. A menina é mandada para a floresta com a missão de conseguir fogo para a família, em sua jornada em busca de seu crescimento e encontro com seu self selvagem, a Yaga nada mais é do que sua identidade elemental. Seu único amuleto guia nessa viagem é uma pequena boneca que, antes de morrer, a mãe de Vasalisa a presenteou.
Baba Yaga recebe a menina e concorda em fornecer fogo a ela em troca de algumas atividades domésticas, que exercitarão o aprendizado psíquico de Vasalisa: “ficar com a Deusa Megera, aclimatar-se às intensas forças selvagens da psique feminina, chegar a reconhecer o próprio poder e os poderes das purificações interiores, limpar, escolher, alimentar, criar energia e ideias.”
O ciclo lunar virginiano nos coloca em contato com os afazeres da vida-morte-vida, com as tarefas domésticas meticulosamente desempenhadas que podem transformar e exercitar a nossa psique. Ao passarmos pelas provações da Yaga saímos mais fortalecidos e com a casa da alma mais organizada, que oportunidade fantástica de viagem ao centro de nossa intimidade mais profunda, vamos mergulhar?
Para conseguir o fogo da nossa essência transformadora – temos que nos dobrar e aceitar as tarefas de Baba Yaga, segundo Clarissa Pínkola Estés temos que: “Servir ao não racional”
- Lavar as roupas da Yaga como símbolo ritual de renovação e purificação dos tecidos psíquicos.
- Varrer o casebre e o quintal de Baba Yaga com uma vassoura de material vegetal, manter limpo e organizado o ambiente psíquico, para que novas ideias e projetos prosperem. Já o quintal limpo nos fala de projetos conjuntos da porta de casa para fora, cuidando não somente de sua psique interna, mas também de seu ambiente externo para que o mato não tome conta.
- Cozinhar e alimentar a Yaga é uma demanda de como alimentamos nosso self selvagem: tem que ter fogo, é preciso arder, ter paixão. Nossa atenção tem que estar voltada ao ato de nutrir, de alimentar novos rumos, novos projetos, manter a chama acesa.
Esse singelo conto nos coloca em contato com os poderes de um ciclo virginiano que nos pede uma reclusão, um olhar atendo para nossos tesouros internos, classificação e priorização de nossas demandas e o quanto a organização da nossa casa abre espaço para a plenitude da nossa alma.
Aproveite o ciclo da lua em virgem para adotar essa profilaxia energética, física e mental e deixemos a nossa Yaga em paz trabalhando para nossa felicidade!
*Texto inspirado no livro “Mulheres que Correm com Lobos” – Clarissa Pínkola Estés, e no curso “Ciclos Lunares e Produtividade” – Titi Vidal e Lygia Pontes
**Participação de Mercúrio em Escorpião – no céu do momento e no meu natal