PESSOAS INTEIRAS SE ENCONTRAM
por Ana Maria M González
O diretor Cédric Klapisch fez sucesso com o filme Albergue Espanhol com foco na experiência do protagonista em Barcelona e na multiplicidade étnica. Neste novo filme, o diretor vai além. E nos oferece mais.
ENCONTROS
“Pessoas inteiras se encontram”
O filme francês ENCONTROS (Deux Moi, 2019) nos oferece uma narrativa delicada acerca de relacionamentos. Os protagonistas nos conquistam: Rémy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot).
Os dois personagens principais estão em depressão por motivos bem diferentes. Ele não dorme, ela dorme demais. E continuam fazendo coisas na vida: ele tem uma promoção no trabalho e se preocupa com quem está sendo demitido; ela se refaz da perda de um relacionamento e quer tentar outro. Ou seja, não se trata de depressão patológica, mas de estados depressivos que vão contar com ajuda terapêutica.
E os profissionais da área psi têm presença especial. Acompanhamos o caminho realizado pelos dois em seus processos terapêuticos. Curioso (e divertido) aspecto. Recomendo especialmente para quem não conhece tais processos!
A ajuda vem e eles vão entendendo seus problemas pessoais e se preparando para um encontro. Ops, spoiler! Mas, não se preocupe. Há surpresas e detalhes. O encontro é o último que nos deve preocupar. Mais importante é a maneira como o diretor vai contando e delongando esse momento. Essa narrativa é contada a partir de um roteiro que nos deixa em suspense o tempo todo. Eficiente recurso do diretor.
O diretor sustenta a questão plantada nos expectadores: quando os dois vão se conhecer? Elementos vão compondo essa espera: a farmácia, uma música, um gato, uma loja na vizinhança; a janela ou as portas de seus prédios os aproxima. Mas, nós vemos os dois se desencontrando e se afastando um do outro. Ainda falta algo.
Nem tudo é tão óbvio quanto parece. Não devemos nos apressar em fazer julgamentos. As sessões de terapia escondem as razões para encontros que quase acontecem.
Daí que em francês o título do filme seja DEUXMOI. Duas pessoas perdidas podem não estar prontas para encontros. A descrição assim pode ser didática. No filme, o diretor dispõe a questão de forma inteligente. Encontros verdadeiros só são possíveis entre pessoas inteiras.
UMA PARIS DIFERENTE
A narrativa apresenta como pano de fundo a cidade de Paris vista não pelos olhos de turistas, mas de seus habitantes. Acompanhamos o metrô de Paris e a vida no bairro em que os dois personagens moram lado a lado.
Temos o contexto de uma Paris multiétnica de orientais, brancos e negros. A Torre Eiffel e a Basílica de Sacre Coeur aparecem ao longe rapidamente.
O suspense é mantido com surpresas e elementos para nossa reflexão juntando problemas de jovens em uma cidade grande. Questões familiares aparecem somente o suficiente para que possamos entender a dinâmica do funcionamento emocional dessas personagens. E com humor inteligente, em ritmo que não nos deixa descansar.
A fórmula de filme de encontros românticos é subvertida? De certo modo sim. Qual é a diferença? O repertório de recursos técnicos do diretor utilizados para contar a história. O roteiro, a fotografia de tons pastéis com grandes planos e trilha sonora envolvente. A criativa apresentação do filme vale a ida ao cinema.
Enfim, filme a ser visto!
PS: Você gosta de filmes românticos? Poderia citar um de seu agrado?