Parabéns ao quase
por Augusto Moya
O médico, que quase descobriu a cura da doença.
A atriz, que quase ganhou o prêmio.
O time, que quase foi campeão.
Quase.
Por que ninguém mais respeita o quase?
Porque o quase constrange.
Confundem o quase com incompetência.
Coitado do quase.
O quase é só um detalhe.
E quase ninguém enxerga o todo.
Porque dá trabalho enxergar o todo.
Assim como dá trabalho ler o livro inteiro.
Vai dizer que você não fica tentado a ler a última página, só para descobrir que todos viveram felizes para sempre?
Sucesso, seja ele qual for, não aceita atalhos.
Pena que teletransporte ainda é ficção científica.
Toda vez que você cruzar com um quase na frente, não se assuste.
(Eu sei, eu sei. Eu quase desisti de escrever esse texto)
Quases, em geral, são doloridos.
São sádicos.
Machucam você sem nenhuma cerimônia.
Você aguenta?
Por pior que possa parecer, o quase é tão importante quanto o feito.
Todo mundo vê as cachaça que eu tomo, mas ninguém vê os tombo que eu levo.
Existe definição melhor?
Mas quantos quases são necessários para um sucesso?
Ninguém sabe.
Da próxima vez que um quase surgir no seu caminho, comemore.
Todo quase é um passo a mais na direção certa.
Bateu na trave?
Foi quase mais uma vez?
Vida que segue.
Levanta, sacode a poeira e vai.
Até que venha o próximo.
Respeitem o quase.
Porque quase sempre, o quase está mais próximo do sucesso do que você imagina.