Oxóssi, o rei das matas
por Rodrigo Volponi
Oxóssi, na Umbanda, é considerado o Rei do Trono do Conhecimento. O Rei das matas. O grande caçador. O orixá que representa a fartura e a proteção ao meio ambiente. De acordo com a lenda africana, Oxóssi foi o caçador que enfrentou o pássaro gigante enviado por feiticeiras da terra de Ifé, que estavam muito bravas por não terem sido convidadas para a Festa dos Inhâmes. O rei Olofin chama os mais bravos caçadores da região, mas nenhum deles consegue derrotar o pássaro. Oxóssi de Ilarê então se apresenta ao rei e diz que ele pode condená-lo à morte caso não derrote o pássaro.
Sua mãe, ao saber da promessa, vai consultar um Babalaô, pedindo conselho sobre o que fazer para que o filho não morra. O Babalaô a ensina a fazer uma oferenda que agrade as feiticeiras e baixe as defesas do grande pássaro. Oxóssi atira sua única flecha, que acerta o pássaro no peito, bem na hora que sua mãe faz a oferenda na estrada. Oxóssi, então, recebe como prêmio metade das riquezas do rei e fica conhecido por todos como o grande caçador, o guerreiro de uma flecha só.
No sincretismo com a religião católica, Oxóssi é considerado São Sebastião, comandante da Guarda Pretoriana. Assim como Oxóssis São Sebastião era um grande caçador de almas, tendo a catequese como seu maior objetivo. Soldado romano preferido do imperador Diocleciano, em meados do século lll d.C. Sebastião se converteu secretamente ao cristianismo, mesmo sabendo que na época a perseguição aos fiéis aos ensinamentos de Cristo era intensa. Muitos eram feitos prisioneiros e permaneciam na cadeia aguardando para serem devorados pelos leões ou mortos em lutas pelos gladiadores no Coliseu. Sebastião, por ter uma alta patente, conseguia visitar os presos, confortando-os com a mensagem cristã de que seriam salvos após a morte.
Sua fama perante os cristãos rapidamente cresceu e logo ele foi denunciado ao imperador. Diocleciano, acusando-o de traidor, tentou fazer com que Sebastião renunciasse ao cristianismo. Sem sucesso, o imperador manda executá-lo. Sebastião é então amarrado a uma árvore e alvejado por flechas pelos seus antigos amigos. Aparentemente morto, é resgatado a tempo por um grupo de mulheres e sobrevive.
Após se restabelecer, Sebastião continua seu trabalho de evangelização. Posteriormente, mesmo sabendo dos riscos, decide solicitar uma audiência com o imperador a fim de convencê-lo a encerrar a perseguição aos cristãos. Diocleciano continua irredutível e desta vez ordena que o açoitem até a morte. Após a sentença executada, seu corpo é recolhido por uma mulher chamada Luciana e sepultado próximo das catacumbas dos apóstolos de Cristo.
O imperador Constantino, já no século IV, após se converter ao cristianismo, ordenou que fosse construída, em sua homenagem, a Basílica de São Sebastião, para abrigar o corpo do mártir. Assim, é dado início, oficialmente, ao seu culto.
Nessa época, Roma era assolada pela peste. Durante o envio das relíquias de Sebastião, a epidemia teve fim. Ele começa a ser venerado, então, como o santo padroeiro contra a peste, a guerra e a fome. Todo dia 20 de janeiro se celebra a sua data, em memória de tudo que ele fez pelo povo cristão. Na mesma data na, na religião da Umbanda, celebramos o orixá Oxóssi, o rei das matas. O grande caçador. As linhas de Caboclos que conhecemos dos terreiros estão diretamente relacionada com o orixá Oxóssi. A palavra caboclo, vem do tupi kareuóka, que significa da cor de cobre. Os caboclos são espíritos de antigos índios sul americanos que tem como missão nos ensinar a respeitar a natureza e amar o próximo por meio da caridade. São eles que no encorajam a nos mantermos no caminho da luz, da fé e da paz. Eles são os enviados ao nosso plano físico para nos ensinar a doutrina da Umbanda e nos trazer o conhecimento da natureza. Grande conhecedores das ervas por meios dos banhos, defumações e bate-folhas nos auxiliam a transmutar energias prejudicais e nos mantermos em um padrão energético elevado.Existem Caboclos de diversas qualidades, como caboclos de Ogum, de Xangô, cabocla de Iansã etc, mas todos eles tem em sua irradiação primária a de Oxóssi pois habitam em seus domínios que são as matas, as florestas e os bosques.
Minha relação com Oxóssi começa com a história da primeira incorporação de minha mãe. Segundo o coitado do meu pai – logo você vai entender o porquê do coitado –, quando eles eram ainda recém-casados, em uma madrugada qualquer, sua esposa levantou da cama, batendo a mão no peito, e se apresentou pela primeira vez como o Caboclo Arranca-Toco, falando em um dialeto de pouca compreensão. Católico, frequentador das missas de domingo, o marido estava agora de pijama, sentado na beira da cama, ouvindo em choque a esposa falando com uma voz máscula e, com movimentos firmes, explicando do que se tratava sua visita. Arranca-Toco seria o chefe da falange de dona Jane – o líder espiritual do agrupamento de espíritos da mesma vibração que seriam seus guias de trabalho que ela incorporaria durante essa vida. Meu pai, neto de italianos, de cabelos ruivos cor de fogo, olhos castanhos e de pijama azul marinho, em choque apenas concordou.
Anos se passaram e, quando eu tinha por volta de 11 anos de idade, lembro-me do passe com o chefe da falange da minha família. O Caboclo Ubiratã passava no meu corpo ervas, como Espada de São Jorge e Arruda, baforava a fumaça do charuto e estalava os dedos. Para recebê-lo, a casa era totalmente defumada e deixávamos já separado seu charuto, sua fita verde de por na cabeça e sua cerveja clara. Após terminar o passe, ele sempre perguntava como eu estava e, com sabedoria, trazia sempre uma palavra de coragem, força e carinho. Carinho bruto, diga-se de passagem. Seu cumprimento quase partia as costas de qualquer ser, seu abraço de urso era energético, cheio de amor e proteção.
As giras caseiras aconteciam sempre às quintas-feiras, na sala de casa. Meu pai, meu irmão e eu aguardávamos ansiosos pela visita das entidades. O sono, naquelas noites, era sempre muito bom, extremamente relaxante. Posteriormente, descobri que o chefe da minha falange seria também um caboclo, o Arranca-Toco. Minha primeira incorporação aconteceu no Terreiro Ogum Beira Mar, durante uma gira de Caboclos. Na época, minha função ainda era a de Cambone, aquele que auxilia as entidades dos médiuns já desenvolvidos. Sempre no final de cada gira, os que estavam em processo de desenvolvimento, como eu, podiam dar “passagem” às entidades.
Logo na primeira incorporação, meu caboclo veio, literalmente, rasgando. Batendo a mão forte no peito, com a coluna ereta, saudando a todos da casa e se apresentando. No chão ele riscou seu primeiro ponto, mostrando a sua assinatura energética, e em seguida se apresentou como o chefe da minha falange. Desde então, é a ele que recorro nos momentos mais cruciais da minha vida. Por meio dele iniciei meus estudos com as ervas, incensos e banhos naturais.
É por meio dele que acesso a irradiação da linha de Oxóssis, é com o aprendizado nas giras do terreiro com ele ao meu lado que busco melhorar a cada dia minha relação com o povo do santo, com minha família, com meus amigos, com a energia das matas e com os todos os seres que nela habitam. O Caboclo Arranca-Toco é meu chefe de falange, o general do meu exército, meu mentor e protetor.
Oxóssi é o desbravador que explora o desconhecido, que busca o novo em lugares ainda não visitados, que tem a coragem e a fé necessárias perante o inexplorável. Seu número é o 6. Quinta-feira é o seu dia da semana. Azul e verde são suas cores. Seu planeta é Vênus. Suas principais ervas são o Alecrim, Hortelã, Louro, Manjericão e a Samambaia. O seu elemento é a terra e suas armas são o arco e a flecha.
Oxóssi é o guerreiro de uma flecha só.
Okê Arô. Dê seu Brado, Majestade.
Salva Oxóssi! Salve Caboclo Arranca-Toco!
“– Quem está na trincheira ao seu lado?
– E isso importa?
– Mais do que a própria guerra”
(Ernest Hemingway)
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Banho de Oxóssi
Aproveitando a vibração do mês dos caboclos montei um banho de ervas indicado para nos auxiliar na busca pelo conhecimento que existe dentro de cada um de nós.
Ervas: Alecrim, Hortelã, Louro e Manjericão. Um punhado de cada.
Preparo: Coloque em um caldeirão de dois litros de água mineral fervida toda as ervas. Faça uma oração e mentalmente peça para que seus campos físico, mental, espiritual e emocional sejam limpos, descarregados, equilibrados e harmonizados de acordo com a Lei Maior e com a Justiça Divina.
Durante o processo mantenha uma vela branca ou verde acesa ao lado, e peça para que o Orixá Oxóssi cruze e abençoe esse banho. Deixe descansar o preparo de ervas por 20 minutos. Coe e, após o seu banho normal, jogue metade na frente e metade nas costas do pescoço para baixo. Esse banho deve ser feito a noite antes de deitar. Coloque uma roupa branca ou do tom verde e descanse.
Que a energia da linha de caboclos da mata do Pai Oxóssi possa te trazer conhecimento, luz e proteção nesse momento tão delicado. Axé.
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