O “stress” e os sintomas psicossomáticos
por Erane Paladino
O conceito de “Stress”pode ter várias definições, mas se considerarmos seu sentido em inglês, podemos partir da tradução mais clara sobre a origem da palavra. Sua associação com Pressão e Tensão já nos é suficiente.
Se for possível ampliarmos seu significado, num nível mais sutil, chegamos a uma idéia de “excesso”. É, portanto, a pressão excessiva, a tensão excessiva ou as exigências para além dos nossos limites aquelas disparadoras dos sintomas.
A grande questão está no paradoxo que vivemos nos dias de hoje, pois estamos submetidos a pressão e excessos de todos os lados. Na vida profissional somos peças movidas a resultados e metas a serem atingidas. A competitividade do mercado também colabora para a sensação de insuficiência constante. Como se não bastasse, os apelos da mídia exigem felicidade, beleza e saúde, dentro de critérios às vezes padronizados que eliminam as particularidades, as singularidades e as diferenças.
Numa sociedade que fala tanto na Inclusão, podemos também observar uma grande massificação de modelos de comportamento estético, como também de estilo de vida que podem ser perigosos. Se é também muito importante parecer para além de ser, os riscos aumentam, à medida que a subjetividade, o contato com os nossos sentimentos, medos e anseios mais profundos se perdem.
Por esta razão, muitas vezes nos inserimos em projetos de vida sem saber qual o seu sentido legítimo para cada um de nós.
Esta é a base propulsora de um processo de experiências que se acumulam progressivamente, num movimento constante de sobrecarga e insatisfação que acaba por gerar o“stress’.
É importante lembrar que, quando surge a crise, há, na verdade, uma espécie de “transbordamento’de emoções das situações disruptivas que se acumularam ao longo de muito tempo. Para se evitar a dor ou o confronto com as vivências frustrantes, costumamos em geral levar a vida para a frente, sem reflexão ou questionamento. Daí a relação entre a estafa e os sintomas psicossomáticos. É como se nosso corpo gritasse por socorro.
Os conflitos vividos geram um acúmulo de energia associadas a angústias, apreensão e outros sentimentos tóxicos que acabam por comprometer o sistema imunológico e provocam um desgaste emocional que se associa com perda de apetite ou compulsão alimentar, insônia, falta de concentração e foco, descargas de adrenalina repentinas ou até crises de ansiedade mais intensas, como a chamada síndrome do pânico.
Esta dinâmica consome nossa vida psíquica e física e são disparadores de inúmeras doenças de origem psicossomática. Assim estão muitas das doenças auto- imunes como Lúpus, Miastenias, Psoríase ou sintomas alérgicos em geral e pressão alta.
Sabemos do grande desafio para mantermos o equilíbrio mental diante de tantas pressões, mas uma dica poderá ajudar: quando o corpo sofre, há sentimentos e palavras que não foram expressas, mas estão pulsando internamente. Estar atento aos sentimentos, às insatisfações e poder falar e pensar sobre elas, antes de uma situação limite, permite antecipar dores mais sérias. A melhor forma para se lidar com nosso problemas seria olharmos para eles e tentar uma reflexão cuidadosa sobre o que estamos vivenciando. Fugir dos nossos dissabores significa fugir de nós mesmos. Lembrei de uma canção do José Miguel Wisnick que diz: “Viver é afinar um instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro”.
Erane Paladino