Medo do quê, cara-pálida?
por Augusto Moya
Meu filho Pedro vive me surpreendendo.
Dia desses, ao ver um rapaz dirigindo uma moto recém saída do filme Easy Rider, soltou: olha lá pai, aquela moto já vem com guidão seca sovaco.
Imediatamente caímos na risada.
Para meus amigos que adoram customizar Harleys, não vejo a hora de contar essa história.
O que ele fez, aos 11 anos de idade, foi perceber algo que eu nunca tinha pensado.
Uma nova função para o volante.
Há alguns finais de semana, durante o campeonato de futebol do clube, ele resolveu tentar uma jogada diferente.
Recebeu a bola, deu um chapéu no adversário e chutou para o gol.
Diferente?
Atacantes treinam exatamente isso.
Mas acontece que o Pedro é zagueiro, o chapéu foi no atacante, e o chute foi (muito) antes da linha do meio campo.
Imagine a cena.
Pais gritando enquanto a bola fazia graciosamente sua trajetória no ar, quicava e encobria o goleiro.
Por um detalhe não foi gol.
Mas, por essa jogada, ele foi eleito o destaque da partida.
Até o técnico adversário confidenciou depois que torceu para a bola entrar.
Não, zagueiros não tentam fazer gol.
Antes da linha do meio de campo.
Depois de dar um chapéu no adversário.
Mas zagueiros não são o Pedro.
Que tem 11 anos.
Ninguém ensinou que ele não podia jogar desse jeito.
Não disseram isso para ele.
Quantas vezes não tentamos algo por vergonha de não saber?
Quantas vezes temos medo da reação das pessoas?
Quantas vezes ficamos inseguros com a possibilidade do erro?
Bom mesmo é tentar.
Dar certo é só um detalhe.
Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.
Quem falou isso foi o senhor Jean Cocteau. Um dos maiores pensadores da história.
Mas bem que poderia ter sido o Pedro.