Maio sem açúcar (e com muito mais energia)
por Titi Vidal
Vivi boa parte da minha vida sem gostar tanto de açúcar. Nunca fui uma devoradora de doces e um pedaço de chocolate saciava minha vontade por pelo menos uns 10 dias. Sempre guardei o apetite de doces para os doces que eu amo, e que nem são tantos assim.
Pensando assim, agora, acho que dá até para listar quais são esses doces que despertam minha paixão: mousse (especialmente de chocolate, maracujá ou limão), tiramissú, bem-casado (acho que esse é meu doce preferido) e um ou outro doce em alguns momentos e lugares bem específicos, como pudim de leite na casa da minha mãe ou da minha sogra, alguns poucos sabores de sorvete e o panetone (panetone é considerado um doce?). Que eu me lembre assim, rapidamente, acho que essas são as minhas tentações.
Os outros doces, gosto quando estão ali à disposição numa sobremesa, dependendo do dia, do lugar, de quem fez. Como por exemplo um bolo de sorvete que minha prima faz no Natal ou uma cassata que minha mãe faz uma vez por ano e olhe lá.
O açúcar do cafezinho, do chá ou do suco eu cortei há pelo menos uns 12 anos. Tomo tudo puro mesmo, e como adoro café sem nada. E suco de limão puro.
Enfim, o fato é que apesar de estar lembrando de alguns outros doces que eu gosto enquanto escrevo esse texto (risos) eles nunca foram meus preferidos. Sempre troquei fácil um brigadeiro por uma coxinha, um pedaço de bolo por um sanduíche, um pedaço de pavê por uma fatia a mais de pizza. O salgado sim, esse me faz feliz. E como eu amo um carboidrato? Não abro mão do meu pão francês com manteiga de manhã, essencial para minha felicidade pelo menos umas 3 vezes na semana. A mesma coisa vale para a pizza semanal e tantos outros pratos de comida que eu adoro.
Só que isso mudou quando eu engravidei. Isso e mais uma porção de coisas na minha vida. O paladar sentiu rapidamente. Voltei a gostar de coisas que não comia há tempos, inclusive ovo que há uns bons anos me fazia muito mal. Comecei a ter vontade de coisas novas e foi assim que eu comecei a comer um pouquinho mais de doces enquanto estava grávida.
E olha que nem fui uma grávida cheia de desejos. Os maiores eram de cogumelo e escarola. Juro. Tinha que comer cogumelo ou escarola quase todos os dias. Era mais forte do que eu. Mas se eu estava me gabando por não ter desejo de atacar um bolo de chocolate inteiro, me achando o máximo por isso, essa ilusão ia acabar logo mais.
Foi só minha filha nascer e eu começar a amamentar que comecei a ter desejo de tudo. Comecei a gostar ainda mais de comer e como a fritura e o doce passaram a ser mais deliciosos no minha vida. Quando eu me dei conta, era doce quase todo dia e, de repente, todos os dias. E chocolate então? Eu queria toda hora. Não demorou muito para eu precisar de doce praticamente depois de todas as refeições e nuns horários a mais fora de hora.
Nem preciso dizer que apesar de ter amamentado quase 3 anos, o excesso de doce e a falta da atividade física que sempre me acompanhou me fizeram engordar, muito. Só pra você ter uma ideia, durante a gravidez, mesmo, eu quase não engordei.
Quando a Luiza nasceu, eu estava só com uns 8 ou 9 quilos a mais do que quando engravidei. O exercício, fiz até dois dias antes do parto. Nadava que era uma beleza. Agora, me vi com quase 20 quilos acima do meu peso, um absurdo. Fora de forma, sempre cansada, sem condições. E sem desculpa para criar vergonha na cara e voltar ao meu normal. Pelo bem da minha saúde, apesar da estética também agradecer.
O fato é que a alimentação e o corpo também tem tudo a ver com a gente – nossa personalidade, nosso momento, nossos hábitos, diz tudo sobre quem somos. E quando as vezes a gente precisa comer mais mesmo. A gente precisa engordar. A gente precisa dar conta e a comida não deixa de ser nosso combustível, não é mesmo?
E o corpo é nossa casa, nossa estrutura, precisamos dele pra nos posicionar, pra agir, pra fazer e acontecer. Também descobri que o cansaço faz a gente querer comer mais açúcar – e como me tornei uma pessoa mais cansada depois de ser mãe – só que quanto mais açúcar a gente come, mais cansada a gente fica e, com certeza, deve ser verdade que açúcar vicia e acho que eu já estava dependente química, uma verdadeira formiga ambulante.
Tudo isso pra geminiana aqui contar que depois de um feriado em família num resort cheio de doces para adoçar a boca de suas formiguinhas, enchi a cara deles e no dia 30 de abril decidi ficar um mês sem açúcar. Pra desintoxicar, pra emagrecer, pra ver o que mudava em mim. Claro que isso foi um reflexo de uma fase na qual comecei a mudar muita coisa, pra voltar a ser quem eu era e para ser quem ainda não sou.
Coisa de geminiana, que está, de novo, reestruturando carreira, reinventando forma de ser, trabalhar e viver e reorganizando a vida que ficou tão bagunçada nos últimos anos – e pra não culpar só a vida de mãe, isso com certeza teve a ver com o turbilhão de acontecimentos incluindo casamento, mestrado, mudanças de casa com direito a reforma, novos projetos chegando, problemas de saúde e tantas outras coisas.
No meio dessa busca virginiana e obsessiva por reorganizar a vida para que a vida possa se reciclar e seguir de um jeito novo, o açúcar começou a parecer over e essa experiência sem açúcar está sendo bem divertida. Percebi que não estou mais tão cansada. Pelo contrário. Minha energia voltou e estou me sentindo mais produtiva e eficiente outra vez.
Já emagreci alguns quilinhos e estou animada por isso. Sem falar que desinchei (com certeza o açúcar estava me intoxicando). Algumas roupas voltaram a servir. Consegui voltar a praticar esporte levando isso mais a sério, porque 3 anos afastada me deixaram bem fora de forma. Estou me sentindo renovada, e super feliz por ter resistido a coisas que eu amo – sim, é claro que quando a gente decide cortar alguma coisa, todo lugar que você vai tem aqueles poucos doces que você ama.
Mas resisti bravamente a 99,99% (menos a colherada no mousse de chocolate de dia das mães) e isso também me fez sentir mais forte, ver que ainda sou dona das minhas vontades e da minha própria vida.
E antes que você ache que esse texto é um manifesto contra o açúcar, preciso dizer que não tenho nadinha contra ele e que passada essa fase que eu determinei (inicialmente, maio, agora, meu aniversário – dia 13 de junho comerei o melhor bolo de nozes do mundo), voltarei a comer doces, com moderação, só o que vale a pena.
Mas fica aqui um convite para não ter medo de mudar qualquer hábito, largar qualquer coisa que você sinta que te faz mal (e que pode ser um relacionamento, ou um trabalho, por exemplo) e nunca ter medo de mudar de rota, de ajustar seu rumo, de buscar uma vida melhor. Garanto que vale a pena! E prometo contar qual será o gosto do bolo de nozes depois de mais de 40 dias sem açúcar. Aposto que será ainda mais especial.