Festa Imodesta
por Angelo Mugia
“Vamos homenagear todo aquele que nos empresta sua testa construindo coisas pra se cantar”
(Caetano Veloso)
Desde 2012, o dia 17 de outubro passou a ser o Dia Nacional da Música Popular Brasileira. O motivo da escolha dessa data deve-se ao fato de ser o aniversário da primeira compositora popular brasileira: da carioca Chiquinha Gonzaga, nascida em 1847.
Compositora da marchinha “Ó, Abre Alas”, que se tornou um hino do Carnaval Brasileiro, em uma época em que as mulheres não tinham espaço na política ou na música. Chiquinha Gonzaga foi pianista, compositora, regente e suas obras misturavam vários ritmos e transitavam entre o erudito e o popular. Participou das grandes causas sociais do seu tempo. Neste link https://www.youtube.com/watch?v=GgbKEHz9AHs, você pode apreciar “Ó Abre Alas” com as grandes Rainhas do Rádio, na década de 50: Ângela Maria, Emilinha Borba e Marlene, acompanhadas por Leandro Braga no piano.
A música popular brasileira é muito respeitada no mundo todo. E quando se fala dela, remete-se muito à Bossa Nova, que em 2018, comemorou 60 anos. Considera-se o marco do início desse movimento musical o lançamento do LP “Canção do Amor demais”, que reuniu a voz de Elizeth Cardoso, o violão de João Gilberto e as canções de Tom Jobim com letras de Vinícius de Moraes. No próximo vídeo, você poderá apreciar uma apresentação ao vivo, em Paris, com a cantora de jazz americana Stacey Kent cantando “Corcovado” (Tom Jobim) acompanhada pelo quarteto de cordas francês Ebène e o saxofonista Jim Tomlinson – https://www.youtube.com/watch?v=xbCOYejkoyw
A admiração pela música brasileira não se restringe somente à Bossa Nova, mas continua atraindo músicos estrangeiros pelo o que é criado atualmente. Um exemplo é o pianista, arranjador e compositor Cesar Camargo Mariano, que em seu último CD / DVD “Joined” reuniu músicos da Filarmônica de Berlim para tocar algumas composições suas e de grandes mestres, como você poderá apreciar no próximo link. É uma apresentação ao vivo na Sala São Paulo, na qual Cesar Camargo Mariano toca piano sua composição “Lamento das Águas” com “Bebê”, de Hermeto Pascoal, com participações de Rüdiger Liebermann (violino), Walter Seyfarth (clarinete), Egor Egorkin (flauta), Conrado Goys (guitarra), Sidiel Vieira (baixo) e Thiago Rabello (bateria) – https://www.youtube.com/watch?v=JA7ndav4CiQ
Não é somente o samba que é apreciado como ritmo brasileiro, mas também o nosso choro, que você poderá apreciar na versão com o renomado violoncelista norte-americano Yo-Yo Ma, nascido na França e de origem chinesa. Ouça “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo, com participações do clarinetista cubano Paquito D’Rivera e do violonista brasileiro Romero Lubambo. Essa música integra o CD “Obrigado Brazil” que Yo-Yo Ma gravou em 2003 – https://www.youtube.com/watch?v=Hs7REKDNxKw
A qualidade da música popular brasileira é reconhecida como uma das grandes riquezas culturais do nosso país. E não há preconceito de tocá-la nas mais importantes salas de concerto e nem pelos mais importantes músicos do mundo, como este próximo momento, em que o famoso maestro indiano Zubin Mehta rege a Orquestra Sinfônica Heliópolis, da qual ele é patrono, em “Aquarela do Tico-Tico que só dança samba”, belo arranjo de Chiquinho de Moraes para músicas de Ary Barroso, Tom Jobim e Zequinha de Abreu, em gravação ao vivo no Theatro Municipal de São Paulo, em 2012 – https://www.youtube.com/watch?v=ZkSBoj086yA
E para terminar, vamos ouvir a frase que abre este texto no contexto da canção da qual foi retirada – “Festa Imodesta” -, com seu compositor Caetano Veloso e a cantora Teresa Cristina – https://www.youtube.com/watch?v=0v6akyE6Uxs
“E acima da rima a nota da canção bemol natural sustenida no ar. Viva aquele que se presta a esta ocupação – Salve o compositor popular” (Caetano Veloso)