Dona Arruda
por Rodrigo Volponi
Ainda muito pequeno, por volta de aproximadamente sete anos, senti pela primeira vez um dos aromas mais marcantes de todas as ervas que já conheci até hoje. Lembro-me, com detalhes, dela sendo cruzada, em frente ao meu rosto, diversas vezes, em movimentos lentos e, cadenciados, pela minha mãe. Ao mesmo tempo em que ela fazia esses gestos também dizia algumas palavras inaudíveis, mas que a minha alma, mesmo muito jovem, as escutava com a maior atenção. Era o meu primeiro contato, consciente nesta vida, com uma das plantas medicinais e espirituais mais conhecidas. Era o meu primeiro encontro com a Dona Arruda.
Lembro-me de estar deitado no sofá da sala, olhando para o teto, o qual tinha um pé direito bem alto, típico das casas daquela época. Nele havia um lustre de vidro, cor de caramelo e marrom para o qual eu direcionava minha atenção naquela minha condição febril, enquanto minha mãe, sentada ao meu lado, segurava com a mão direita apenas um galhinho, daquela poderosa planta, enquanto fazia o seu benzimento.
Benzer, de acordo com o dicionário, pode ser interpretado como abençoar ou invocar a graça Divina sobre alguém ou alguma coisa, por meio de gestos, sinais ou orações. Acrescentaria, também, que para praticar o benzimento é preciso um tanto de amor. Taí uma coisa uma coisa que nunca faltou em casa.
Presenciei, inúmeras vezes, Dona Jane, minha mãe, rezando à distância para curar os quebrantes de parentes e vizinhos. Sempre do seu jeito simples e amoroso, prática que aprendeu com minha Avó, Dona Aracy. Seu ritual contemplava um pratinho com um pouco de azeite de oliva virgem, um galinho da Dona Arruda, às vezes uma velinha branca e, sempre, as suas preces.
Com minha mãe, pude aprender sobre a Dona Arruda algumas coisas, como por exemplo que um vaso colocado do lado esquerdo da entrada da casa afasta os maus espíritos; que em caso de dores de cabeça, causadas pelo famoso mau-olhado, um galhinho na orelha esquerda alivia bem; que utilizada em banhos ajudam a nos descarregar; entre outras coisas.
Porém têm duas que acredito serem bem importantes para utilização de todas as e plantas em geral:
– Quando ativada de forma correta e, usada ao serviço do bem, as ervas têm realmente o poder de ajudar as pessoas nos campos material, emocional ou espiritual.
– Para que a magia, naturalmente, aconteça, o segredo está no respeito e no carinho pelo reino do mundo vegetal.
Sempre vi minha mãe conversando e cuidando de cada uma de suas plantas como verdadeiras amigas. Em retribuição, ervas como a Dona Arruda protegem a nossa família há gerações. Essas duas Donas me ensinaram que a sabedoria é algo que se colhe com a vivência e que a cura, para diversos males pode estar logo ali, no jardim.
“O mundo todo é uma grande farmácia e Deus seu principal farmacêutico.”
(Paracelso)
Foto: Kireyonok Yuliya – Freepik
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A Ruta Graveolens é o nome científico dado a Dona Arruda. O Dona é por minha conta e respeito mesmo. Conhecida desde a Grécia antiga esta planta era muito utilizada em banhos, escalda-pés e, até como tempero no preparo de alguns alimentos no entanto sua indicação é apenas para uso externo, por ter efeito abortivo. Não é aconselhado o uso em mulheres grávidas.
Algumas de suas propriedades medicinais são: analgésica, calmante, antiasmática e anti-inflamatória.
Antes de manipular e utilizar qualquer erva no corpo sempre faça um teste simples de alergia esfregando a planta na pele para ver se acontece alguma reação.
Dica de leitura: Para conhecer mais sobre ervas e suas propriedades indico o livro: Rituais Com Ervas do Adriano Camargo.