Doenças Psicossomáticas e Stress – algumas reflexões
por Erane Paladino
Desde a filosofia antiga, a articulação entre corpo-alma, soma-psique é sempre considerada. Uma frase de Platão (428-347 A.C.) ilustra de forma didática: “ O erro presentemente difundido entre os homens é o de querer tomar separadamente a cura do corpo e a cura do espírito”. Para Aristóteles, a alma seria o princípio vital do corpo. Mesmo Leibiniz , no final de 1600, ao considerar a alma e o corpo como elementos independentes, reconhecia uma harmonia preestabelecida entre ambos. Ao longo da história, embora com uma multiplicidade de teorias e métodos, a concepção psique-soma se fez presente, na Medicina, na Psicologia e na Psicanálise.
Freud, desde seus primeiros trabalhos com as histéricas, investigava as manifestações de conversão como sintomas de origem emocional. Na época, mulheres manifestavam cegueira, paralisias e desmaios sem causa orgânica aparente. Charcot iniciou estudos no final do século XIX em busca de encontrar os possíveis motivos. Freud, em seu trabalho Estudos sobre Histeria articulação1895), feito em parceria com Breuer, considerou a relação entre possíveis conteúdos inconscientes reprimidos e as manifestações físicas. A dor emocional, portanto, era vivida no corpo e o paciente não conseguia associar, de maneira consciente, o sintoma a alguma experiência do passado. Para a psicanálise, nosso corpo, suas sensações de prazer e desprazer constituem nosso psiquismo desde os primórdios da vida através da memória sensorial carregada de afetos. O contato com o ambiente, o desenvolvimento da linguagem e a assimilação dos referenciais da cultura, permitem a constituição da nossa vida psíquica. Expressões “camufladas” de desejos ou cargas pulsionais recalcadas, geram os sintomas. As doenças psicossomáticas podem ser entendidas como o corpo a pedir socorro.
Autores da psicologia e psicanálise atual observam nos pacientes psicossomáticos uma dificuldade em trazer representações mentais para estas experiências. Geralmente, suas colocações são concretas e há pouco espaço para uma reflexão subjetiva. O autor francês Pierre Marty entende este modo de funcionamento mental como uma espécie de defesa contra as angustias e fantasmas subjacentes. Neste caso, o corpo parece dissociado da mente.
Situações de “stress” também podem contribuir com essas manifestações. Embora seja um conceito abrangente, é possível descreve-lo como resultante de um desgaste emocional contínuo, por situações que exijam vigília constante, que acabam por levar ao estado de exaustão e fadiga. Diante de situações estressantes, ficamos impedidos de relaxar ou de voltarmos a atenção para novos estímulos prazerosos. Esta demanda pode colocar à prova nossos limites emocionais e, consequentemente, físicos. Embora corpo e mente façam parte de uma trama complexa, sem necessariamente uma relação de causa e efeito, é importante reconhecer que situações extremas trazem, inevitavelmente, consequências psíquicas e físicas. A história de vida, os traços de personalidade, a organização psíquica de cada um, trará a singularidade de cada caso. Mas, é importante estarmos atentos às mensagens do corpo. No mundo competitivo dos dias de hoje, onde a performance deixa de lado a essência e os desejos mais genuínos de cada um, corremos o risco de sermos ‘tragados” pelas expectativas profissionais e sociais. Muitas vezes, demoramos para perceber o quanto estamos distantes de nós mesmos. Insônias, pressão alta, cansaço, problemas gastro-intestinais denunciam conflito ou sofrimento.
Por esta razão, a meditação e o autoconhecimento são fundamentais como forma de prevenir este auto abandono….
Não se perca de vista!!!!