Da Justiça ao Julgamento (arcanos maiores do tarô)
por Titi Vidal
Da Justiça ao Julgamento. O chamado, uma oitava acima.
Dei um salto. Eu percebi. Que momento intenso! Mas, qual é O CHAMADO, se tantos são os chamados?
De onde vim para onde vou? A vida chama. De novo, paro, penso, reflito, repenso tudo.
O tudo de novo. De novo. Novo.
Para A. Jodorowsky, todas as energias do tarô se concentram no Julgamento, que indica o nascimento de uma nova consciência, onde feminino e masculino se encontram.
Esse arcano fala de uma emergência aliada a um desejo irresistível, de um trabalho que já foi realizado e acima de tudo, de um CHAMADO.
Animus e anima encontram-se nessa carta que parece de um ser andrógeno divino, que representa bondade e sabedoria.
Mas se antes já enfrentamos a Justiça, agora estamos no próprio Julgamento. E com ele uma nova vida desperta, depois de uma longa temporada nas profundezas do inconsciente. O que está dormindo, desperta. O que está morto, renasce.
Tudo que está oculto, ou em gestação, sobe à superfície e aspira um mundo superior. Há um desejo de evolução e uma música divina que toca, uma força que desafia a morte, a vida prevalece.
Há um chamado imperioso para que se viva em uma nova dimensão. E essa carta é um anúncio desse despertar. Nela, há uma abertura mental e quando tiramos essa carta, significa que estamos sendo chamados.
As dificuldades vêm se não ouvimos e , em especial, se não atendemos esse chamado, que muitas vezes nada mais é do que um chamado para sermos nós mesmos. A nossa essência quer vir a tona.
Então, sua pergunta deve ser: QUAL É O CHAMADO?
Esse chamado é, sem dúvida, para ingressar em uma nova dimensão de percepção, ate agora desconhecida. Há uma ressurreição espiritual, uma iluminação, uma percepção consciente de alguma coisa. É um som, um comunicado direto, um som persistente que não pode ser ignorado. A vida chama. A alma chama. q
Estamos mobilizados para ação, sendo convocados por um poder que vai além de nós mesmos. É o início de uma nova ordem, de uma nova interação entre consciente e inconsciente.
Aqui, ressurgimos após uma longe noite, de volta a um mundo de onde partimos no início da jornada. Mas nós mudamos e o mundo mudou. O louco está transformado. Não somos mais os mesmos e o mundo também não é. Assim, é tudo novo, de novo.
Quando alguém renasce, todas as pessoas que o cercam despertam para uma nova vida. O chamado de um é o chamado de todos. A mudança de um muda todo seu mundo e todos que o rodeiam.
Essa carta indica vitalidade e saúde. Voltamos renovados de corpo e espírito, revitalizados.
É hora de resgatar e liberar aspectos pertencentes , por justiça, a nós mesmos, e que foram mantidos como garantia no inconsciente. É uma carta bastante profunda essa, por isso tão difícil de ser entendida.
O aumento da percepção importa necessariamente em aumento da responsabilidade.
A provação acabou, mas temos que enfrentar o desafio da nova luz, e da nossa luz.
Ser resgatado é uma honra, significa ser chamado para uma nova vocação. Aliás, a carta do Julgamento fala mesmo em vocação, você está na sua?
Disse C.G.Jung que “quem tem vocação ouve a voz do homem interior e é chamado”. Quem tira a carta do Julgamento está ouvindo agora esse chamado para servir a um poder acima e além de si mesmo.
Se responder ao chamado, dará um passo à frente na vida, para além de tudo que já conheceu ou imaginou. É uma revivicação da vida. É morte e renascimento, é sacrifício do ego e sua dedicação a um poder além de si mesmo. É o poder da vida, do destino, que está fora, mas que também está dentro de nós mesmos.
É uma promessa de que todas as nossas qualidades podem ser unidas e consolidadas num ser humano completo. Ou seja, podemos ser e viver plenos.
Atender ao chamado é aceitar o convite para um novo nascimento, é nascer para ser o “eu mesmo” que todos desejamos ser. Vamos nessa?