Construção
por Priscilla Olyva
Oi, eu sou a Priscilla, tenho 35 anos e sou atriz. Moro em São Paulo e amo livros. A Titi me convidou para estar aqui com vocês e compartilhar desta minha paixão. Obrigada, Titi, pela confiança, pelo espaço e por achar que eu sou uma pessoa digna de ter algo para partilhar, rs. Então, a partir de agora, uma vez por semana (juro que eu vou tentar ser disciplinada com isso), eu vou estar por aqui.
A minha paixão por livros vem de longa data, desde que eu era pequena. Acredito que esta tenha sido a grande herança ou a maior característica que eu puxei da minha mãe. Eu sempre a via com livros, a ouvia, ao telefone com as minhas tias, falando sobre o que ela estava lendo. Os livros, desde sempre, me rodeavam. Inclusive, à época do jardim de infância, eu estudava em uma escola que tinha uma feira de livros. Parece um tanto estranho que eu consiga ter a memória tão clara disso, mas eu me lembro constantemente da felicidade que senti no dia em que a minha tia foi à feira da escola e me deu o livro do Bambi que eu tanto queria. Apesar de não estar mais comigo, eu me recordo da capa branca e dura, das ilustrações e o quanto eu tinha desejado aquele livro. Acho que foi o primeiro que eu posso falar que eu desejei: eu quis aquele livro, eu pensava nele, eu sonhava com ele…
Aí, conforme eu fui crescendo, a literatura foi entrando cada vez mais na minha vida e de uma forma muito natural. Sim, eu fui a criança que não se importava e até gostava quando a professora passava algum livro para ler. Assim, entrei no maravilhoso mundo da Coleção Vagalume, de Pedro Bandeira, Teresa Noronha, de Ziraldo, de Maria José Dupré e o seu cachorrinho Samba… Por falar em Maria José Dupré, é dela o livro que mais li na vida: “Éramos Seis”. Eu já o li tantas, tantas e tantas vezes, principalmente na minha adolescência. Já faz alguns bons anos que eu não o leio, mas tenho sentido um chamado que talvez seja hora de se perder novamente por suas páginas e pelas ruas daquela antiga São Paulo. Várias vezes, enquanto a minha mãe lavava louça, eu lia “Éramos Seis” em voz alta para ela e, sim, fazendo os sotaques, mudando as entonações de vozes, colocando a personalidade dos personagens, o que só comprova que não foi à toa a escolha da minha profissão. Já estava em mim.
Meu primeiro contato com os grandes clássicos foi com “O Primo Basílio”. Foi com ele que eu entendi que um outro mundo estava se abrindo. Foi inesquecível o dia em que um professor do cursinho esclareceu e esmiuçou “Macunaíma” para mim, do arrepio ao ler as primeiras páginas de “Os Miseráveis”, de desejar viver na festejante Paris de Heminwgay…
E se antes era a minha mãe quem lia os livros e me passava, hoje sou eu quem os leio e passo para ela. Acredito, verdadeiramente, que não há melhor forma de se conectar com uma pessoa senão com os livros e que, no fundo, somos uma mera construção das palavras que lemos.