Como é a sua casa?
por Titi Vidal
E o que isso tem a ver com você, seu momento, suas emoções, suas memórias e sua vida?
A casa costuma ser nosso refúgio, né? Aquele lugar pra onde voltamos todos os dias. Nosso porto seguro, onde dormimos, comemos, tomamos banho, convivemos com nossos familiares e onde ficam quase todas as nossas coisas. É o lugar pra onde sabemos que sempre podemos ou devemos voltar e por isso é também a base para muita gente.
Não é à toa que a casa também tem um lugar especial em nosso mapa astrológico. E a casa da casa é a casa 4. A base do mapa. Sua cúspide é chamada Fundo do Céu e é nesse lugar que vemos também o começo e o fim da vida (sim, ficam no mesmo lugar!), nossas origens, a família, parte dos antepassados e, entre várias outras coisas, os imóveis e a casa onde a gente mora.
É na casa 4 que vemos tanto o perfil da família de origem como da família que construímos na vida adulta. É incrível essa relação, por mais inconsciente que seja, entre as origens e as escolhas futuras, entre a relação de nossos pais e as que formamos ao longo da vida.
E isso vale também para a casa. Para ser igual ou diferente disso, levamos conosco referências da casa onde nascemos, onde crescemos, onde já vivemos um dia. Pelo menos de uma parte dela, ou do nosso quarto ou quintal da infância.
Na casa, vivem também as memórias, as histórias, o passado. Mas também o futuro, os gostos, os desejos, as seguranças e inseguranças, as bases ou falta delas.
Quando vemos a casa 4 em um mapa, sabemos o tipo de casa ideal e também se de fato essa casa é real. Se a casa é grande ou pequena, aberta ou fechada, com ou sem natureza, com muita ou com pouca gente, com tudo junto e misturado ou com cantos e espaços só daquela pessoa. Se a casa é arrumada, organizada, perfeita. Se tende a ser bagunçada, desorganizada, caótica. Sempre um reflexo do que vai dentro do dono da casa, é claro.
Isso porque a casa 4 também é a casa onde depositamos boa parte das nossas emoções, incluindo aquelas que são herdadas e construídas ao longo da infância.
Não é a toa que a casa 4 abre com o fundo do céu, a parte mais “baixa” do mapa, o “chão” onde a gente pisa. Se a casa 4 é firme, os passos também são. A pessoa é segura. O andar é mais confortável, porque há apoio e estrutura pra isso. Claro que aqui estamos falando sobre a família e sua história, e sobre coisas extremamente complexas. Mas isso também inclui a nossa casa. Se ela vai bem, meio caminho está andado, porque por mais difícil que seja nosso dia, temos um lugar seguro pra onde voltar e descansar, sozinhos ou nos braços dos nossos queridos.
Dependendo do mapa natal, esse “chão” pode ser um mar, um poço fundo, algo caótico, inseguro e turbulento. Outras vezes, é terra firme, estrutura, uma verdadeira base. Mas ao longo da vida, podemos viver situações e momentos tão diferentes ali. Podemos viver trânsitos e progressões importantes e sentir uma base mais ou menos estruturada. Podemos criar ou perder uma base. Podemos de repente pisar em falso e desabar no espaço. Podemos voar ou nos afogar. Podemos encontrar terra firme após uma longa viagem. Tanta coisa pode acontecer.
E sempre que alguma coisa importante acontece na casa 4, de um jeito ou de outro todo mapa sente seu tranco. Primeiro porque estamos falando de um ângulo importante do mapa. Se um planeta passa por ali, na casa 4, inevitavelmente fará aspectos importantes para o Meio do Céu, seu oposto, seu destino, sua carreira, seu futuro. Mexerá também com seu Ascendente, ou seja, com você. Sua imagem, comportamento, personalidade. A vida é toda mexida. E ainda tem a casa 7, o outro, o casamento, as relações. Os 4 pontos que também são eixos da vida: o eu e o outro, minhas origens e meu futuro, minha base e meu futuro.
Se você tem por exemplo Netuno na casa 4, como é o meu caso, é tão comum que de tempos em tempos a casa se desorganize e a gente pareça flutuar. Mas há quem tenha Saturno, e precisa de ordem e regra constante. E tudo sempre tem seus prós e seus contras.
Ao viver um trânsito ali, temos que avaliar bem o que a vida está pedindo pra essa base ficar mais segura (ou mais suave). E é tão incrível como a própria casa, como imóvel e como lar, respondem a cada um desses aspectos. Seja no ritmo da casa, na organização excessiva ou na bagunça exagerada, seja nas relações entre quem mora na casa, na necessidade de uma reforma ou reparos em geral, ou até numa mudança de casa. Às vezes, um simples ato de comprar algo novo pra casa ou mudar um móvel de lugar já é uma boa indicação de que alguma coisa está mudando dentro, em suas emoções e memórias. Alguma coisa vindo à tona. Alguma coisa nova. Uma mudança de vida. Uma organização interior. Algo nessa linha.
É incrível, por exemplo, como muita gente relata que o simples fato de arrumar um armário ou organizar uma gaveta exerce um poder de organização interna e de vida, capaz de gerar movimentos importantes, dentro e fora de nós mesmos.
Quando conhecemos a casa de alguém, podemos radiografar parte da sua alma. Podemos entender mais sobre a pessoa ou sobre seu momento. Podemos enxergar parte de suas memórias, de sua história e tantas coisas mais sobre sua vida. E é bem por isso que tem muita gente que não leva qualquer um para dentro da sua casa. Talvez isso devesse valer para todos nós.
Mas é por isso também que casa tem que ter vida, movimento, até mesmo um pouco de bagunça, indícios e indicativos de que a vida ali está acontecendo. E tenho pensado muito nesse momento tão particular da minha própria vida. Saturno transitando na minha casa 4 e tantos desafios de vida. Tão pouco tempo para arrumar a casa (meu ascendente e minha Lua em virgem querem morrer). Mas a vida também é isso. Conhecer e reconhecer cada momento, cada limite, cada detalhe. E seguir o fluxo e os conselhos dos astros. Até porque tudo é cíclico e porque tudo sempre passa. Ficam os aprendizados, as memórias. Memórias estas que ficam também na casa. Nas paredes, nos sofás (às vezes arranhados pelos gatos), no piano sempre tocado ou empoeirado, dependendo da época, nas gavetas esperando uma manhã para serem organizadas, nas caixas que trazem gratas surpresas e lembranças quando são abertas sem querer.
Falando em lembranças e memórias, tente pensar na casa da sua infância, e também se você já viveu em muitas ou poucas casas. Tente traçar uma linha do tempo, tente relacionar com o seu “eu” de cada momento e com a sua história de vida. Toda história também pode ser contada a partir daí…
E fica aqui um conselho: comece a observar sua casa para entender mais sobre você, sobre sua vida, sobre seu momento. Perceba o que da casa tem ou não tem a ver com você. E se não tem, talvez seja hora de mudar alguma coisa, em você ou na casa, porque uma mudança provavelmente levará à outra…E conhecer seu mapa, sua própria casa 4 natal, ou seu momento atual com relação a ela, com certeza trará informações tão importantes sobre sua vida e destino.
Mas, ao arrumar sua casa, lembre-se sempre do Carlos Drummond de Andrade:
“Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação
e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico,
um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando,
ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras
e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições
fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca
ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.”