Atento à voz do tempo
por Angelo Mugia
“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”
(Ariano Suassuna)
Em toda virada de ano, jogamos ao Universo um punhado de expectativas para o novo ano. É a consciência de um ciclo de tempo – 365 dias, 12 meses, 52 semanas, 4 estações – que se encerra e logo dá início a um novo. A passagem entre um e o outro é propício para a reflexão, avaliação de como fomos impactados pelos fatos ocorridos e pelas nossas atitudes frente a eles. Planos e desejos são feitos para o ano que se inicia, sempre com grande dose de esperança. Momento propício para a semeadura de vontades que queremos que floresçam ao longo dos próximos doze meses. As sementes que eu lancei ao Universo são as de Esperança, Imaginação, Coragem e Amor, pois desejo que frutifique um 2021 com mais Justiça, Criatividade, Força para lutar e Empatia para com os outros. O meu anseio é para que sejamos mais saudáveis de corpo, alma e espírito.
Depois de um 2020 tão dolorido e desafiador, é importante ver que também tivemos avanços e mudamos muitas coisas. “Se amargo for já ter sido, troque já esse vestido (troque o padrão do tecido). Saia do sério, deixe os critérios, siga todos os sentidos (faça fazer sentido). A cada mil lágrimas sai um milagre”. Ouça este trecho da canção “Milágrimas”, de Itamar Assumpção sobre poema de Alice Ruiz, com ela e Anelis Assumpção (filha de Itamar)
“Desenhando nessas pedras, tenho em mim todas as cores quando falo coisas reais. E no silêncio dessa natureza, eu que amo meus amigos, livre quero poder dizer – Eu tenho esses peixes e dou de coração. Eu tenho essas matas e dou de coração” – Este é um trecho da canção “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que está no belo vídeo-concerto “Pai Grande – Uma homenagem a Milton Nascimento” com Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP), Coralusp e Orquestra de Câmara da USP (OCAM). Foram reunidas músicas deste compositor que falam de resistência, luta e esperança. A concepção do projeto é do maestro Gil Jardim, também criador dos arranjos e diretor musical, e Eduardo Fernandes. Conta com os solos vocais de Virgínia Rosa e Tiago Pinheiro e as participações especiais de Luciano Khatib (palmas e cajon), Vitor Ferreira (trompa), Rafaela Lopes (harpa), Renato Raul dos Santos (marimba) e João Gabriel Godoy Jardim (violão)
Na minha opinião, um dos principais lançamentos da Netflix em 2020 foi o documentário “Emicida – AmarElo – É tudo para ontem”, concebido e dirigido por Emicida, com cenas de making of e do show que ele apresentou em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo, como também animações e depoimentos de vários artistas (Wilson das Neves, Marcos Vale, Majur, Fabiana Cozza). Emicida é o personagem e o narrador da história da negritude brasileira, que com sua fala tranquila, mas com muita razão e propriedade, nos faz refletir sobre nós e nosso país. É tocante, é lindo. “Viver é partir, voltar e repartir. Partir, voltar e repartir” é um trecho da canção “É tudo para ontem”, que Emicida em parceria com Felipe Vassao e Thiago Jamelao, canta com Gilberto Gil no encerramento do documentário.
Ter esperança não pode ser uma atitude passiva diante da vida, de aguardar algo. Esperança é desejar e ter uma atitude de luta por algo que anseia, que deve ser seu por direito, por justiça. Esta é a mensagem que Peter Tosh e Bob Marley passam em “Get up, Stand up”, que pode ser ouvida nesta criação com músicos de várias partes do mundo para o projeto Playing for Change – Clique aqui para conhecer
“Amanhã está toda a esperança por menor que pareça, o que existe é para vicejar. Amanhã, apesar de hoje ser a estrada que surge para se trilhar. Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar. Amanhã, ódios aplacados, temores abrandados será pleno” – Em 1977, Guilherme Arantes compôs “Amanhã”, que continua expressando os nossos sentimentos de um tempo futuro que vingue, brilhe, viceje e tenha plenitude. Nada melhor do que ouvi-la na voz de Caetano Veloso (clique aqui para ouvir)
“A esperança não será a prova de um sentido oculto da existência, uma coisa que merece que se lute por ela?”
(Ernesto Sábato)
Crédito da foto: Len Nguyen