A Torre
por Titi Vidal
Por Titi Vidal
A carta da Torre é possivelmente a mais temida do Tarô. Na verdade, disputa este prêmio com a carta da Morte, que também desperta medo em muita gente. De fato, ambas representam mudanças significativas, rompimentos, perdas e transformações, cada uma da sua maneira. Mas hoje vou tratar especialmente das mudanças provocadas pela carta da Torre, arcano XVI do Tarô.
Este arcano nos assusta porque mostra uma queda abrupta e radical. Um raio vem do céu e derruba o castelo todo de uma vez. As pessoas que vemos na carta estão em queda direto para o chão. Nada mais continua em seu lugar e não há como fugir disso.
Viver um momento regido pela carta da torre é como estar em um terremoto. O chão treme tanto que parece não termos onde nos segurar. As estruturas estão ruindo e nada vai continuar onde estava. Então vem o medo. Medo do que estamos perdendo e que ainda vamos perder. Medo de viver o desconhecido, de perder as estruturas, de viver na insegurança. Medo de não conviver mais com o conhecido, com aquilo que construímos ao longo de tanto tempo. Mas o fato é que não há o que fazer. Quando cai o raio, nada nos resta a não ser se jogar rumo ao chão, para onde seremos lançados de qualquer maneira.
Tal qual o Louco no início da jornada, mais uma vez temos que nos jogar no abismo, sem saber o que vai nos acontecer. Não há onde se apagar, pois tudo está mesmo desmoronando. Então, o que fazer?
O primeiro ponto importante é que temos que ter consciência de que apenas cai aquilo que não tinha uma base sólida o suficiente para aguentar o raio ou o terremoto. Cai o que não tinha estrutura para se sustentar e por isso, se vem a queda, é porque nem tudo era assim tão seguro como imaginávamos. Isso significa que quando cai a Torre, podemos ver ali na carta que a base continua, ou seja, tudo aquilo que foi bem construído se mantém, o que permite que uma nova construção seja feita em seu lugar.
Além disso, temos que perceber que o que cai na verdade são as máscaras, é aquilo que usamos para nos proteger do mundo e nós mesmos. Criamos falsas estruturas para fugir da realidade e nos proteger inclusive da nossa essência. Nos prendemos no castelo e quanto mais alta essa torre que construímos, maior será a nossa queda.
Mas é bom lembrar que se está caindo é porque não faz mais sentido, é porque não tem mais como se sustentar. Então a saída é mesmo se jogar no abismo. Claro que aqui os riscos de se machucar são bem maiores que no Louco, pois estamos em uma altura muito maior. A queda pode ser fatal. Mas se não nos jogarmos, seremos lançados e a dor pode ser muito pior.
Por isso, um dos conselhos que a carta da Torre nos dá é que sempre temos a opção de fazer a mudança por bem, de descer do topo do castelo antes que seja tarde demais. O raio está a caminho e vai nos lançar. Por isso, melhor sairmos na frente e fazer a mudança logo de uma vez.
Além disso, temos que ter esperança, lembrando que o próximo arcano é a Estrela, arcano da fé e da liberdade. Só que para vivermos toda felicidade que o próximo arcano nos promete, temos antes que nos despir de todas as falsas verdades e estruturas que cercam a nossa vida. Temos que nos lançar livres de tudo que nos aprisiona e que nos limita. Temos que abandonar tudo que não serve mais, pois só assim conseguiremos construir uma realidade mais profunda e verdadeira.
Em outras palavras, a carta da Torre pede mudanças e elas são inevitáveis. Podemos, com elas, ser levados ao fundo do poço, mas só assim conheceremos profundamente a nós mesmos e nos fortaleceremos para seguirmos adiante. É como um trânsito astrológico de Plutão, que nos leva ao mais intenso sofrimento para mostrar toda a força que temos e fazer com que possamos de fato transformar de acordo com nossa essência. E assim como Plutão, a Torre fala de mudanças definitivas, que vêm para ficar e que serão incorporadas para o resto da nossa vida. Por isso precisam ser bem vividas e observadas.
A carta da Torre, muitas vezes e justamente por tudo isso, é a grande oportunidade que a pessoa tem de se libertar daquilo que não serve mais e que ela não sabe como fazer. É, muitas vezes, o empurrão que a pessoa precisa para transformar e se libertar.
Por isso, quando estamos vivendo a Torre, temos que aprender a desapegar e acreditar que se a mudança for bem feita, logo vem a Estrela e então podemos reconstruir tudo do nosso jeito, sem falsas verdades e sem medos, de acordo com nossa própria verdade e rumo à verdadeira felicidade.
Leia também: A Estrela.