A MULA, OBRA DE MATURIDADE
por Ana Maria M González
O que Clint Eastwood estará nos dizendo neste filme, depois de cinco décadas elaborando cinema? Clint Eastwood está ativo em produções de cinema desde a década de 60 em que se ligou a Sergio Leone. Por um Punhado de Dólares, conhece? Ao longo desse tempo, ganhou quatro vezes o Oscar da Academia e mesmo com possíveis altos e baixos em sua longa carreira, ele tem sido uma pessoa de sucesso. É um dos cinco diretores em vida (junto com Ang Lee, Oliver Stone, Steven Spielberg e Alejandro González Iñárritu) a ter ganho dois Oscares por melhor diretor.
O filme A MULA (2018), com Clint Eastwood como diretor e protagonista nos traz a questão das drogas, um drama de família e uma personagem especial. Ele é um herói às avessas e capaz de fazer autocrítica em relação à postura que teve para com sua família. Assume suas culpas em geral. Esse filme ainda conta com estrelas em papéis menores, como Bradley Cooper e Andy Garcia, por exemplo.
A personagem Earl Stone de 88 anos é um floricultor que tem sucesso com sua plantação de lírios até que chega a internet e muda os modelos de comercialização. Sem se atualizar, ele sucumbe perante dívidas e, falido, fecha seu negócio.
Sem procurar muito, chega-lhe uma maneira de pagar as dívidas. Aceita, então, o escuso papel de mula de drogas que lhe foi oferecido por ser bom motorista. Além disso, quem vai desconfiar de um velhinho? Transforma-se em mula transportando drogas para cartel mexicano em Illinois.
Assim, ele ganha muito dinheiro embora deixe nervosos seus parceiros de crime pelo jeito pouco regular de funcionar. Seu comportamento e linguagem são desprovidos de filtros em relação às minorias latina e negra. O diretor toca em aspectos nevrálgicos da sociedade americana, marcando uma postura política e crítica.
O filme inclui um pouco de cada gênero (road movie, drama familiar e humor). Traz também uma caçada ao crime pela polícia – o ponto de maior suspense. Mas tal suspense não encerra o filme. Não configura a solução para a narrativa que vai mais longe em significados, porque a questão das drogas é apenas uma passagem na vida da personagem.
Enquanto se desenrolam questões de sua autocrítica (por ter sempre privilegiado o trabalho), vamos acompanhando a personagem em um comportamento às vezes desajeitado, sempre descolado e independente. Tem jogo de cintura e sabe se safar de situações difíceis. Como não simpatizar com ele, que mostra não ter perdido o encanto pela vida?
Tudo de forma simples e sem excessos com uma mão adequada de diretor que sabe contar histórias.
A comparação com outros filmes de Clint Eastwood como Gran Torino, importante em sua carreira, torna-se irrelevante. A MULA ainda traz um anti-herói mas em outra fase da vida, uma velhice que revê suas experiências sem culpa e com lucidez. A dureza que há em Gran Torino estaria fora de contexto. A personagem está vivendo sua velhice.
As críticas de que é um filme fraco de Clint Eastwood e que ele estaria perdendo seu estilo vem de quem não entendeu a transformação ao longo da carreira do diretor e, principalmente, quem não percebe as grandezas deste filme.
A mão correta do diretor e um bom roteiro se acrescentam às muitas particularidades reveladas a respeito da personagem. Além de ser capaz de assumir todas as culpas, ele tem muitas características de um ser único.
Único como cada uma de suas flores que surgem de novo no final do filme. Elas são a metáfora mais bonita de todos os significados em relação à natureza humana: “Elas são únicas”, diz a personagem.
O diretor é um mestre no auge de sua maturidade falando com delicadeza e flores da natureza humana.
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