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Você pensa naquilo que come todos os dias?

Comer é um atos mais naturais que fazemos rotineiramente. Afinal, nossas mães já avisam logo cedo nas nossas vidas que “saco vazio não para em pé – e nós, quando nos tornamos mães, fazemos igualzinho. Justamente por ser tão inerente à sobrevivência e tão natural nas nossas vidas, raramente pensamos de onde vieram aqueles alimentos que nos mantêm em pé diariamente. Essa reflexão falta especialmente para aqueles, que como eu, habitam os grandes centros.

Aliás, começando pelo exemplo da maior cidade do país uma pergunta: você sabia que a cidade de São Paulo praticamente não produz a comida que consome? Que dependemos do Ceagesp como grande entreposto distribuidor e dos milhares de caminhões que atravessam a cidade todos os dias? Sempre digo que se cairmos numa situação semelhante àquela do maravilhoso “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, quando a civilização se desfaz por falta de alguma questão básica – naquele caso a visão – cairemos na barbárie em menos de uma semana, justamente por causa da falta de comida que nos espreita.

Voltando ao ponto principal, de onde vem o arroz, o feijão, o bife e a salada do nosso PF de todos os dias? De fazendas agropecuárias, passando por matadouros, indústrias de embalagem e distribuição e outros caminhos. Parece óbvio, mas não é. Já estamos vendo gerações de crianças que acham que o leite simplesmente brota na geladeira já embalado em tetra pak. Afinal, nunca viram uma vaca. Perdemos a conexão com o campo, com a produção sagrado do alimento. Se não lutarmos para educar nossas crianças do ponto de vista alimentar, o quadro pode piorar.

E se a criança nunca viu uma vaca produtora de leite, o que dirá da vaca cortada em pedaços na bandeja de isopor do supermercado? Sem saber que aqueles cortes vieram de um animal vivo que passou pelo abate, preparo, embalo e distribuição, como damos às crianças e, consequentemente, a todos o direito de escolherem o que comem, sendo informados sobre aquele alimento?

Apesar de detectar pontos de discussão, como o debate sobre vegetarianismo, veganismo, agrotóxicos e outras questões sobre as quais falaremos neste espaço, acredito que ainda estamos falhando e precisamos começar contando para as pessoas que elas precisam sair do automático, pensando sobre o que ingerem. Saber a composição dos alimento, especialmente os industrializados, é um direito que deve ser exercido de modo contínuo e ensinado à todos, especialmente às populações mais vulneráveis socialmente.  

Vale conhecer o trabalho da Aliança pela alimentação adequada e saudável, composta organizações da sociedade civil de interesse público, profissionais, associações e movimentos sociais com objetivo de desenvolver e fortalecer ações coletivas que contribuam com a realização do Direito Humano à Alimentação Adequada por meio do avanço em políticas públicas para a garantia da segurança alimentar e nutricional e da soberania alimentar no Brasil. No final de 2017 a Aliança lançou uma campanha de TV veiculada também em mídias sociais falando do direito que todos temos de saber como é elaborado e do que é composto o alimento que consumimos. Vale conferir em https://www.youtube.com/watch?v=FC6eWYBYsSQ.

Ficar atento ao que consumimos nos recorda que nosso corpo é um templo sagrado e precisamos estar conectados a ele o tempo todo. Por maior gostosas que sejam as guloseimas típicas da nossa sociedade de super abundância – hambúrgueres, sorvetes, batatas fritas, refrigerantes – temos que nos lembrar que elas devem ser consumidas com muita parcimônia, ao estilo daquele velho hábito em desuso dos pais de quem já passou dos 40 anos (como eu): essas delícias são comida de fim de semana. No dia a dia, é preciso comer comida de verdade – aquela que nutre e satisfaz corpo e alma. Mas isso já é assunto para conectar um próximo texto, não é mesmo?

Imagens: arquivo pessoal da autora (Barcelona – Mercado La Boqueria/Pamplona)

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