Desacelerar é um processo que vem de dentro.
Uma hora, percebemos que o mundo corre e que estamos correndo simplesmente, porque nunca paramos para pensar no porquê de naturalizarmos a velocidade como regra.
Uma vez que fazemos este movimento, temos a chance de estranhar a pressa e a correria; de buscar adquirir mais consciência na nossa relação com o tempo; e de passar a fazer boas escolhas, porque conseguimos discernir melhor o que são nossas prioridades (internas, conectadas com nossa essência) e urgências (em geral, demandas apresentadas pelo “mundo lá fora”).
Nestes processos de conquista de consciência temporal, é comum identificarmos os sabotadores da nossa disponibilidade para o que realmente importa. Ou, em outras palavras, os “ladrões de tempo”.
Os ladrões de tempo são coisas, hábitos, demandas, tarefas e práticas que tiram seu foco do que realmente importa e fazem você ter aquela sensação de que o dia (ou o tempo) acabou e você não realizou nada de importante (ou do que gostaria ou ainda do que se organizou para fazer ou planejou).
Não se trata aqui de “condenar” aquelas pausas saudáveis, o “tempo para si mesmo(a)” ou mesmo as atividades que fazemos para revigorar.
Quando se fala de “gestão do tempo”, fala-se em eliminar o que rouba a produtividade do seu tempo. Quando se fala em consciência temporal, fala-se de resgatar a sensação de “tempo bem investido”. E os ‘ladrões de tempo’ estão relacionados a estes dois modos de ver as suas escolhas de tempo.
Mas quando eliminamos os supostos “ladrões de tempo” que são períodos “para nós mesmos”, eliminamos as boas pausas, o tempo da reflexão, o tempo do desfrute, o tempo da prioridade que vem de dentro e é essencial para continuarmos respirando.
Quando falamos de consciência temporal, afirmamos que é preciso reconhecer hábitos e demandas que “roubam” a nossa disponibilidade para nós mesmos, justamente para conseguir dizer os nãos que precisamos dizer e vivermos mais suavemente os “sim” que dizemos, com mais consciência e tranquilidade relacionadas às nossas escolhas.
Leia mais sobre consciência temporal aqui (https://titividal.com.br/desacelerar-nao-e-ser-devagar-e-encontrar-se-no-seu-tempo/).
Mas como reconhecer se uma atividade, hábito, rotina ou demanda é um “ladrão de tempo”?
Nas atividades do Desacelera SP em que conduzimos reflexões sobre esse assunto, costumamos provocar as pessoas a pensar de forma complexa, porque este não é um processo simples. E, em geral é um processo subjetivo e individual e depende também de múltiplos contextos.
Para ilustrar, vou trabalhar aqui com um exemplo reincidente em nossas conversas por aí: as tecnologias. É possível dizer que 8 horas por dia são um tempo adequado de dedicação para as redes sociais? Se fizer parte do trabalho da pessoa, pode ser plausível pensar que se passe tantas horas por dia conectado(a). Se não fizer parte, duas horas por dia já podem dar a sensação de “perda” de tempo com estes mecanismos.
A relação com o tempo se dá na experiência. E por se dar na experiência, a consciência temporal é sempre subjetiva, relativa e fruto da percepção de cada um(a). São estes elementos que buscamos trabalhar com cada um(a) que escolhe viver estes processos com a gente.
Tem gente que conta que fica (ou já ficou, em alguma ocasião) muito tempo em filas de espera, deslocamentos e engarrafamentos; nas compras de supermercado; em procedimentos burocráticos no trabalho ou reuniões que podiam ser mais ágeis ou trocadas por uma mensagem.
Tem gente que conta que sente que investiu mal o seu tempo em alguma situação, porque perdeu a noção de quanto tempo havia se passado ou porque não tinha clareza de suas prioridades e seus objetivos estavam confusos.
Existem outros ladrões de tempo que são relacionados a características da pessoa, como indecisão; ou excesso de perfeccionismo. Ou até mesmo a falta de organização e de planejamento. Ou ainda a atenção excessiva a detalhes, a resistência a mudanças ou a incapacidade de dizer não.
Então, é preciso compreender que, quando provocamos a nossa percepção a identificar os nossos ladrões de tempo, podemos nos deparar com hábitos, dinâmicas, demandas e afazeres cuja transformação nem sempre está a nosso alcance. Mas se identificamos estes aspectos como sabotadores de nossa disponibilidade para o que elegemos como prioridade, podemos mudar a nossa relação com eles.
Por exemplo, se identificamos que nosso maior ladrão de tempo é o deslocamento, porque passamos muitas horas no trânsito. Como mudar esta situação? Ainda que possamos nos engajar e lutar por melhores condições de mobilidade na nossa cidade; ou ainda adotar – quando possível – meios de transporte alternativos – não temos governabilidade sobre o trânsito quando ele se apresenta como condição. Mas podemos nos relacionar com o período do deslocamento de forma diferente.
Então, se vocês me perguntarem como ‘combater’ os ladrões de tempo, eu responderei: o primeiro passo é reconhecê-los. Em seguida, é preciso entender como você se relaciona com eles e como seria possível transformar esta relação. Depois, você pode, experimentar possibilidades para ver se você converte um “ladrão de tempo” em aliado da sua consciência temporal.