O equinócio de primavera vem acompanhado de flores, ipês amarelos florescendo, dias mais longos, ensolarados e um ótimo motivo para pensarmos mais no que podemos fazer, como cidadãos, para melhorarmos a vida nas grandes metrópoles como São Paulo, das pequenas às grandes ações e mudanças.
Uma iniciativa que vai nessa direção da qualidade de vida, do bem-estar e do exercício cotidiano da cidadania é o Dia Mundial sem Carro, ou World Car Free Day. Essa data é celebrada internacionalmente no dia 22 de setembro, tendo sido criado na França em 1997. Em vários países europeus, de 16 a 22/09 é realizada a Semana Europeia da Mobilidade, com muitas atividades em um grande número de cidades, das capitais e metrópoles às cidades de menor porte.
Aqui no Brasil, desde 2003 várias organizações da sociedade civil, ongs, movimentos, coletivos e cidadãos individualmente aderem ao Dia sem Carro, que vem ganhando adeptos em um número crescente de cidades. Em 2007, inclusive, vereadores paulistanos aprovaram um projeto que criava um cinturão em torno do centro da cidade onde não era permitido o tráfego de veículos automotores particulares no Dia Municipal sem Carro. Mas, em 2009, o então prefeito vetou artigos dessa lei que justamente eram os restritivos aos veículos automotores particulares no centro.
A cada ano, no dia 22 de setembro acontecem bicicletadas e caminhadas em vários pontos da cidade, organizadas por movimentos e ongs como a Rede Nossa São Paulo, Transporte Ativo, Vá de Bike, Rua Viva, Movimento Cidade Futura e tantos outros. Os cidadãos são convidados a refletir sobre o uso excessivo do automóvel e outros veículos motorizados particulares, como as motocicletas, no seu dia a dia, sobre as alternativas possíveis, como o uso das várias modalidades de transporte público, sobre as bicicletas e caminhadas.
Se cada proprietário de um veículo automotor particular deixasse o seu carro ou moto parado na garagem ou estacionado pelo menos um dia por semana, já teríamos uma melhora considerável no trânsito caótico e estressante da cidade, nos níveis de poluição ambiental e sonora, na saúde individual e coletiva.
Para muitas pessoas é difícil abrir mão da comodidade do veículo particular, há quem trabalhe o dia todo na rua, com deslocamentos forçados para várias regiões da cidade, com muitas tarefas diárias que acabam sendo realizadas, por força do hábito, em cima de um veículo motorizado. Mas parar de dirigir seu carro ou moto por um dia na semana, buscando as alternativas viáveis, é uma atitude cidadã que certamente pode trazer inúmeros benefícios pessoais, familiares, coletivos, do ponto de vista da saúde física e mental.
Uma parcela muito grande da população se desloca diariamente nos vários tipos de transporte público por necessidade, não por opção. E esses meios precisam de investimentos e ampliações constantes em suas frotas de ônibus, redes de metrôs e trens metropolitanos, infraestrutura viária e ferroviária. Também muita gente faz grandes deslocamentos a pé ou de bicicleta todos os dias, por necessidade ou falta de opções. Cresce o número de bicicletas compartilhadas, as ciclovias e ciclofaixas precisam de manutenção e ampliação, muitos motoristas já deixam os carros em casa uma ou mais vezes por semana por questões econômicas, por tempo gasto no trânsito e desgastes vários. Alternativas como a carona solidária, os carros compartilhados, que agora começam a funcionar aqui, a combinação de várias modalidades de transporte público, as caminhadas e deslocamentos em bicicleta são complementares e iniciativas bem-vindas.
Seja por uma razão ou outra, por opção, consciência ou necessidade, a mobilidade urbana é uma das áreas que mais precisam de projetos criativos, inovadores, ambiental e socialmente responsáveis e sustentáveis, de políticas públicas e iniciativas da sociedade civil, dos segmentos empresariais e do terceiro setor.
Nesse 22 de setembro, além do Dia sem Carro, acontece também em São Paulo o Dia sem Pressa, iniciativa do movimento DesaceleraSP, que tem entre uma de suas criadoras a jornalista e professora universitária Michelle Prazeres, também colaboradora da Rede Bellatrix. O evento será na sede da Unibes Cultural, no bairro do Sumaré, com acesso fácil pela estacão de metrô da linha verde.
Há motivos de sobra para cada um exercer a sua cidadania plena nesse início de primavera e nos dias que virão, é só praticar. Um dia pelo menos, um carro a menos.
Abaixo, alguns links afins:
http://transporteativo.org.br/ta/
https://menos1carro.blogs.sapo.pt/
http://vadebike.org/dia-mundial-sem-carro/
http://www.desacelerasp.com.br/
http://www.desacelerasp.com.br/2018/09/11/documentario-contra-tempos/
Foto: Paulo Humberto