Das células ao universo.
Uma série de fatos, de acontecimentos com início e fim, com abertura e fechamento. Por vezes se repete, recomeça, reinicia; por vezes é único.
Nosso corpo, máquina finita, passa pelo ciclo terrestre. Nossas células, desde o nosso comecinho, desde nosso eu embrião, se replicam, se dividem. Dividem para crescer, para formar um ser maior. Entram no ciclo celular de replicação do material genético, de crescimento do seu conteúdo. E quando estão cheias, tão cheias de conteúdo a ponto de transbordar, se dividem. Partilham a matéria para crescer como um organismo maior. Abdicam do individual para entrar no coletivo. Porque é assim que é a nossa existência. Conectada, coletiva, em rede. Os atos de cá afetam os acontecimentos de lá.
A lua cicla. De nova passa a crescente, se enche e míngua a seguir. Como as células, como as mulheres. Os planetas giram, completam ciclos ao redor do sol. A natureza cicla, as estações do ano mudam, passam numa sequência e se repetem.
Mulheres ciclam. Passam por fases durante a vida: infância, puberdade, vida reprodutiva, climatério. Passam por fases durante o mês: menstruam, proliferam, ovulam, secretam. Passam por fases durante a gestação: novas quando recebem o positivo, crescem com o novo ser, enchem-se e transbordam com o nascimento, mínguam no puerpério. Os filhos voam e elas seguem em novo ciclo.
A alguns olhos podem parecer curiosas todas essas semelhanças. Mas, na verdade, em que momento esquecemos que somos parte do todo, da natureza? Que não haveria motivo para sermos diferentes? Nós apenas nos afastamos da nossa essência menos racional e, com o tempo, fomos desaprendendo a observar os nossos ciclos, os nossos sinais, fomos esquecendo de correlacioná-los com os ciclos maiores.
Aprender mais sobre a nossa natureza, sobre nosso corpo, sobre o seu funcionamento, nos permite aceitar melhor a nossa vivência, a nossa periodicidade, a reconhecer nossos sentimentos típicos de cada fase. Permite que sejamos mais gentis conosco e que nos julguemos menos.
Hoje vivemos uma lua cheia, o ápice de um ciclo. Dizem que as emoções estão à flor da pele, que os sentimentos e reações estão exacerbados. Ora precisamos extravasar, ora precisamos acalmar. Hoje vivemos uma pandemia, um ciclo que também terá fim. Mas algumas coisas não podem ser apressadas, atropeladas, a natureza nem sempre nos permite saltar fases. Simplesmente é preciso passar por ela, através dela. A forma como cada um escolhe encarar os fatos e passar pela fase reflete-se no todo. Porque não somos mais que um grão, uma micro engrenagem de uma ferramenta maior, de um ciclo universal.