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Sobre o Envelehecer hoje

                                 Moacyr Scliar traduz este momento com a frase: “Seja diferente. Seja igual”. Numa sociedade onde a glorificação da juventude abre cada vez menos espaço para a diferença e a singularidade, podemos constatar como envelhecer tem sido apresentado pelos meios de comunicação como sinônimo de isolamento social e até de decrepitude. O mercado tem solicitado pessoas cada vez mais jovens para exercício de funções de responsabilidade, dispensando os mais velhos. O grande foco da mídia e dos interesses econômicos voltam-se para os adultos jovens e adolescentes. Parecer torna-se mais importante do que ser. Não à toa, o mercado da cosmetologia e a indústria da beleza atingem níveis de consumo altos, mesmo diante da instabilidade econômica.  Alguns indivíduos chegam a não aceitar o envelhecimento e acabam por deprimir, escravizados pelo estereótipo dos encantos juvenis.

                              Mas, apesar destas demandas, um movimento de resistência nos chama a atenção: nestes últimos tempos, tenho observado um aumento da procura por psicoterapia e psicanálise em indivíduos com mais de 60 anos. Suas questões dizem respeito às expectativas de futuro, para além de suas dores e ressentimentos do passado. São, em sua maioria, almas jovens, com vontade de reorganizar suas vidas. E por qual razão isto tem se tornado necessário?

                             Vale resgatar algumas características desta etapa na vida. As mudanças biológicas trazem novos desafios à saúde e o corpo já não reage ao cansaço e aos excessos com tanta facilidade. Nas mulheres, a menopausa também traz perdas hormonais que alteram sono, metabolismo e o corpo. Aliado a esta dinâmica, esta etapa coincide com a aposentadoria e com a relação familiar dentro de uma outra perspectiva: a chamada “ síndrome do ninho vazio”, associada à saída dos filhos de casa, pode agravar os sentimentos de solidão.  Trata-se, inevitavelmente, de uma fase de luto. As novas tecnologias, a medicina e exames mais precisos de diagnóstico, tem colaborado com a longevidade, mas como lidar com tantas mudanças e perdas? Ocorre, então, uma espécie de descompasso entre os limites e a força da mente, que ainda pode permanecer criativa e com vontade de viver.  Cabe, portanto, a estas pessoas, o imperativo de redesenhar sua história e, de alguma forma, buscar reinventar metas e objetivos. Um indivíduo com 60 anos pode ter, hoje em dia, mais 30 anos de vida útil e, por esta razão, as relações sociais, amorosas, sua capacidade de produzir e construir um outro caminho profissional são temas recorrentes. Como uma nova adolescência, o idoso se depara com transformações importantes, que não podem ser negadas, mas, buscar suas capacidades, um novo campo de interesses e um novo olhar para a vida, possibilitará abrir outros horizontes.

                            As mídias e a moda, sempre atentas às variações sócio/culturais, desenvolveram o conceito de ageless (sem idade), onde a idade acaba por valer menos do que os hábitos e estilos. Isabella Rosselini, atriz, diretora de cinema e modelo, acaba de ser recontratada, aos 67 anos, por uma famosa linha de cosméticos, após uma demissão há mais de 30 anos.

                             A contemporaneidade tem exigido um esforço psíquico peculiar a todos, jovens ou idosos. A subjetividade de cada um trará implicações que dizem respeito também aos recursos emocionais para lidar com a dor das restrições e as saídas positivas. A vida é longa e o percurso vem sem manual de instruções….

                            Mas, como diz Simone de Beauvoir: “Viver é envelhecer, nada mais!!”

                                                                                             

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