“ O que pode estar por trás dos diagnósticos associados aos transtornos de ansiedade
Os textos culturais de Freud, levantam questões importantes sobre as relações humanas e o processo civilizatório. Para além da problemática individual somos frutos do social no seu mais amplo sentido. Desde o nascimento, ou até antes dele, o bebê depende completamente do ambiente. Do ponto de vista biológico, nascemos muito prematuros em relação a outros animais e precisamos de atendimento incondicional para sobreviver durante anos. Alguns antropólogos levantam a hipótese de que necessitamos viver em grupo também pela necessidade de sobrevivência, pois somos frágeis também como espécie.
Em Mal Estar da Civilização, Freud cita Hobbes e levanta algo contraditório na condição humana: “O homem é o lobo do homem”
Por este raciocínio, observamos o ser social, sua dependência emocional do outro, mas ao mesmo tempo, levantamos também sua necessidade individual, competitiva e, quem sabe, predatória. Aspectos paradoxais convivem e, certamente, trazem o que Freud denominou “ Mal Estar”: precisamos viver em sociedade e, por esta razão, as leis, os valores e as normas, são as ferramentas que permitem evitar ou controlar a barbárie. Torna-se, então, possível analisar uma sociedade por estes referenciais e deduzir os reflexos nas emoções e no psiquismo dos indivíduos que dela fazem parte. Ou seja, se para a psicanálise Freudiana o homem é consequência não só de seus fatores constitucionais e pulsionais, mas também, de suas experiências com o meio, pensar o homem em sociedade permite analisar também relações sociais, valores, ideologias e seus reflexos no psiquismo individual.
Neste sentido, qual ou quais seriam as principais angústias do homem moderno?
Será possível observar sintomas “sociais” e relaciona-los às queixas e conflitos nos indivíduos, que acabam por desenvolver sintomas associados aos transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, insônia?
Acredito que a pressão e a competitividade nos tempos modernos sejam um destes fatores. Vivemos um dinâmica social que fortalece estes aspectos. Nas cidades grandes, os deslocamentos são difíceis e o mundo capitalista exige “performance”, resultados, metas, numa expectativa sempre idealizada: lança-se para o futuro sempre um novo desafio e as medidas destes projetos nunca ficam completamente satisfatórias. Há sempre algo novo a ser conquistado e o clima de instabilidade e incerteza, é visto por aqueles que esperam produtividade como motivador.
A questão é pensar o quanto este estímulo incansável motiva ou desgasta…..
Este modelo, embora propulsione a competitividade e a necessidade de auto superação, gera, por outro lado, um sentimento de insegurança pessoal e, muitas vezes, culpa, por assimilar individualmente, a impotência de nunca se conseguir alcançar exatamente o que lhe é cobrado e esperado.
Como se não bastasse, expectativas de conhecimentos gerais, domínio de línguas, ginástica, beleza, jovialidade , muito bom humor e disposição para enfrentar as batalhas, aumentam o “stress”.
Demonstrar sofrimento, cansaço ou desânimo são pontos pouco valorizados nesta sociedade. No mundo que glorifica tanto as aparências e as imagens devemos ter a preocupação especial de não nos perdermos de vista.
Vivemos neste momento e somos compelidos a reconhece-lo, mas é fundamental não nos levarmos pelos apelos superficiais e idealizados de felicidade e prosperidade.
Nunca deixe de lado quem você realmente é, o que alimenta de verdade sua alma e o que faz sentido em sua vida.
Por esta razão, os trabalhos de autoconhecimento, a meditação, as artes, os estudos filosóficos e os momentos de introspecção são tão importantes.
Não podemos mudar o mundo, mas podemos preservar o que é essencial para cada um…….e, muitas vezes, o que nos faz mais feliz nem fica tão distante……..
Erane Paladino