“Bom dia! Você gosta da Bíblia? Me permite entregar um trecho da Bíblia pra você? Você é feliz? Qual é o único caminho da felicidade? A Bíblia, claro! Toma, minha filha! Leia para ser feliz”! E então, a porta do elevador abriu e a senhora saiu. Eu segui com o material da Bíblia nas mãos até o meu andar, revivendo a cena que acabará de acontecer. Abri a porta do escritório decidida a escrever sobre felicidade.
Ao abrir o material que a senhora do elevador me deu, dei de cara com um artigo sobre a correlação entre o dinheiro e a felicidade e li uma colocação sobre o que causa infelicidade: ANSIEDADE E PERDA DE SONO POR CAUSA DA PREOCUPAÇÃO COM O DINHEIRO, me lembrei do meu artigo anterior (Simplifique a Sofrência). Nele falei sobre minha tática para não me preocupar com os problemas, que é olhar para eles como se já tivessem passado. Certamente foram resolvidos e eu aprendi algo com eles. Então, não me pré-ocupo, ou seja, não me ocupo deles antes da hora. Nem deixo que as dificuldades tirem meu sono, roubem minha vida. Desta forma as soluções chegam sem sofrência.
Gostei mais das dicas para trazer felicidade, do que dos tópicos sobre o que traz infelicidade. Ser generoso, ficar satisfeito e grato pelo que tem, dar importância as pessoas e não as coisas, enfim, conselhos inspiradores, que não são novidades pra ninguém, mas que por vezes vivemos sem considera-los. De forma geral, o material que recebi, assim como a senhora que me deu, apostam que existe felicidade plena e que ela é decorrente da fé.
Quando eu fiquei cadeirante, eu me sentia o suprassumo da superação e felicidade. Fui super feliz por uns 4 anos da minha vida. Quando as pessoas me perguntavam sobre o que aconteceu comigo para estar em uma cadeira de rodas, eu respondia: “Sofri um acidente de moto em 2001, não lembro do momento do acidente, então não sei se eu bati no carro ou se o carro bateu em mim, mas também não me importo com a culpa. O fato é que a responsabilidade é minha, pois eu tinha 21 anos e sabia os riscos que corria ao subir em uma moto. E minha vida está ótima, trabalho, sou casada, tenho uma filha, sou muito feliz! ”
Consequentemente, era muito comum receber de volta frases como: “Nossa! Você é um exemplo de vida! ” ou “Parabéns, você é uma inspiração pra mim! ” E assim eu ganhava alguns admiradores e sem perceber despertava incômodos em algumas pessoas. Eu era admirada pelas pessoas que eu não convivia e entre aquelas que eu conviva, muitas não gostavam de mim, eu tinha graves problemas de convivência.
Tenho uma grande amiga, daquelas que entram na nossa vida pra ocupar o camarote VIP do nosso coração, sabe?! O nome dela é Tabata, nos conhecemos no hospital de reabilitação Sarah em Brasília, no momento inicial da deficiência em nossas vidas. Ela ficou cadeirante devido a um acidente de carro. Quando eu cheguei no Sarah, um mês e meio após meu acidente em 2001, os enfermeiros já conheciam a Tabata e ela chegaria para sua segunda internação uma semana após a minha chegada. Eles diziam assim: “Tabata vai ficar nessa maca ao lado da sua aqui na enfermaria, vocês são muito parecidas, serão amigas”! Ambas de São Paulo, praticamente da mesma idade e de fato muito parecidas, os enfermeiros tinham razão, nos tornamos amigas.
Certo dia, estávamos falando sobre felicidade e Tabata disse assim: “ninguém é feliz, felicidade é um estado, tem dias que a gente está feliz e tem dias que estamos tristes”. Falou e disse Tabs! É isso aí! Ouvi aquela frase, concordei, mas não pratiquei, continuei me achando o suprassumo da superação e felicidade.
Até que, em 2006, fiz um curso de especialização em psicologia de grupos, direcionado para profissionais de qualquer área. Na minha turma éramos em 23 pessoas, o primeiro semestre foi um laboratório, convivemos entre nós e como na vida real, com algumas pessoas eu tinha problemas de convivência. Durante uma atividade, um colega da turma, engenheiro, diretor de uma empresa multinacional, me deu um seguinte conselho: “Carol, eu acho que entendi o que acontece com você, você pode ser feliz, só não precisa falar! ”
Pronto! Nesse momento eu entendi tudo, a minha “felicidade” tão escancarada e a todo momento reafirmada por mim era o que incomodava algumas pessoas e isso faz todo sentido. Felicidade de fato, não incomodaria. O problema é que a minha felicidade não era tão real assim, se fosse, eu não precisava ficar reafirmando. E daí surgiam os incômodos. É claro que eu não era feliz em todos os momentos, isso nem é possível, ‘felicidade é um estado! ’, a Tabata já tinha me dito isso anos antes.
Para a pergunta que intitula esse artigo: ‘Ser feliz ou estar feliz? ”, a resposta é óbvia: estar feliz! Viver sabendo que a tristeza também faz parte é muito pesado, mas é a única verdade nessa utopia de felicidade plena. Então, curta a felicidade e respeite a tristeza.