A observação acima só fica possível de se entender ao pesquisarmos o que é a verdadeira felicidade. Nestes períodos de crise, como nossa sociedade vivencia atualmente, costuma gerar muitos problemas de ordem prática em nossas vidas. Isto se soma ao inevitável transcorrer da vida que por si só se encarrega de aflorar nossos processos interiores. Então, está garantido também, as crises internas de tempos em tempos. Muitas vezes gostaríamos de fugir deste mundo, ir para um outro lugar mais bonito e sem outras pessoas que possam incomodar. Às vezes as coisas ficam tão feias que, no fim das contas, só queremos renascer num paraíso depois de morrer. Se depender de eliminar todos os problemas, todos os desafios para a felicidade vir até nós, estaremos em apuros. Mas, largar de uma coisa e logo se agarrar a outra, o tal do apego ao mundo, está na raiz do problema. Neste mundo nada é permanente, tudo invariavelmente passa, até nossas vidas, e esta é a verdadeira raiz do sofrimento. Não há nada solido a se agarrar e isto gera muitas aflições. Assim, basta uma pequenina coisa fora do lugar, algo que não saiu como queríamos, uma vírgula mal colocada, e nosso mundo desaba. Logo cedemos às aflições. Não da para funcionar desta maneira. Precisamos de uma outra atitude para enfrentarmos as dificuldades. Temos que apreciar o momento, perseverar sem saber a saída e acolhermos estas situações difíceis como oportunidades para acabar com as aflições. A palavra crise vem do grego Krisis, que significa momento oportuno, e tem um deus associado ao tempo de crise que é Kairos, o deus da oportunidade. Nos dizeres do Mestre Budista Pu Hsien, “o paraíso e o inferno residem no espaço de um pensamento”. Apreciando as situações difíceis, nós podemos usar este tipo de atitude para encarar, entender e resolver cada uma delas. As dificuldades também não são eternas. E quando formos capazes de apreciar tudo ao nosso redor, nós já estaremos no paraíso. Para estar no inferno, basta queimar de agitação, remoer de vingança incapaz de perdoar, buscar consideração alheia, preocupar-se o tempo todo. Somos assim, no prazo de um dia passamos várias vezes do céu para o inferno e vice-versa, numa dança sem sentido. Quando os problemas se tornam oportunidades, ultrapassar as dificuldades nos trás um aumento de sabedoria, um entendimento maior das coisas, uma atitude positiva frente a vida. Muitas vezes, ao relembrarmos períodos difíceis de nossas vidas somos surpreendidos por uma felicidade nostálgica. Éramos felizes apesar dos problemas, ou como estamos aprendendo, justamente por termos estes problemas. Uma ida de vida feliz independe da bem-aventurança ou da desventura naturais do viver. Sem sombra de dúvidas, se nossa vida é feliz e afortunada ou se é triste e angustiante tem a ver com nossa capacidade de entendimento, com nossas percepções e com nossos pensamentos. A verdadeira felicidade reside no espaço entre um pensamento e outro.