Um texto sobre vida
É impressionante como a gente evita falar sobre a morte. Quantas pessoas você conhece que já deixaram claro o que desejam para o dia da sua morte? Se querem ser enterradas ou cremadas, por exemplo, se tem algum pedido especial para o seu velório? E que tenha feito um testamento, ou deixado seus desejos póstumos anotados em algum lugar?
Como já fui advogada especializada em direito da família e das sucessões, sei que a grande maioria das pessoas não faz testamento e sei também o quanto isso muitas vezes gera tanta confusão após a morte.
Já como astróloga e taróloga, já me deparei com pedido de consulta de emergência de gente que não sabia o que seria melhor fazer – enterrar ou cremar alguém que acabara de falecer, jovem ainda, e que nunca havia manifestado qualquer desejo nesse sentido.
Semana passada aconteceram algumas mortes perto de mim. Ninguém íntimo demais, mas pessoas que de alguma forma me fizeram pensar nesse tema sobre o qual eu mesma não gosto de falar: a morte. Foram quatro notícias de falecimento em menos de uma semana.
Um deles não conheci pessoalmente, mas sei que contribuiu de alguma forma importante com a Astrologia. Outro, um grande astrólogo, professor Zeferino Costa, deixará saudades em quem teve a honra de conviver com ele e fará falta para a Astrologia.
Mas o que mais marcou sua partida, nos comentários que li, foi o quanto seu legado foi importante e o quanto contribuiu positivamente na formação de tantos astrólogos contemporâneos e no desenvolvimento da prática astrológica. Deixará boas lembranças.
Também faleceu um jornalista importante, Audálio Dantas, com quem estive algumas vezes por conta do meu marido, que conviveu mais proximamente dele. Uma pessoa sensível, educado, agradável companhia além de todo seu super histórico como jornalista.
Seu velório foi impressionante. Muita gente. Mas apesar da tristeza que pairava no ar por sua partida, gente animada contando histórias e desejando manter vivo seu legado. Uma bela homenagem musical foi emocionante.
Pensei que quero música no meu velório. Que seja emocionante e que as pessoas guardem o melhor de mim. Só espero que isso demore umas boas décadas para acontecer, já que eu pretendo passar dos 90 (para ser bem sincera, quero passar dos cem).
Voltando do velório do Audálio, mais uma notícia de morte. O guarda da rua faleceu naquele mesmo dia, de repente, de infarto. É estranho ouvir a notícia de alguém que a gente vê todo dia e que tinha cumprimentado na véspera.
Sei que com tantas mortes em tão poucos dias, apesar de não ter uma relação íntima com nenhum deles, fiquei pensando muito sobre o assunto. Sobre o quanto não tenho medo de morrer, mas tenho pena da morte. Ainda tenho tanta coisa pra viver.
E o quanto desejo do fundo do meu coração que todos meus queridos vivam muito, tanto quanto eu quero viver. Detesto quando minha mãe começa a falar a lista de coisas que tenho que fazer o dia que ela morrer. Ou quando meu marido fala o que quer que eu faça com as cinzas dele. Quero que vivam para sempre.
Mas também pensei esses dias que também tenho desejos e que se ninguém souber, não fará o que eu gostaria. Talvez seja hora de dizer, ou de deixar anotado em algum lugar. Pode ser útil para meus netos, daqui umas cinco décadas, se os astros quiserem.
Mas, mais do que pensar no momento da morte e nos instantes ou dias que a seguem, pensei muito sobre a vida. Sobre construir uma vida que vale a pena. Sobre deixar um legado. Sobre viver com sentido, sobre fazer diferença no mundo. Ou pelo menos para uma ou algumas pessoas.
Pensei sobre ter uma vida boa, feliz, sobre deixar boas lembranças e fazer falta, mas tendo deixado algo que poderá para sempre ser uma lembrança nossa, e da nossa passagem que no fim é tão curta por essa vida. Também pensei em como é importante ter amigos e gente que gosta da gente. Não só para que a partida não passe em vão, mas principalmente para que essa vida seja ainda mais significativa enquanto estamos por aqui.
E é isso que eu pretendo fazer cada vez mais. Estar mais perto das pessoas que eu amo e tentar ser uma pessoa cada vez melhor, fazendo algo que seja de fato cada vez mais significativo, já que quero ter a certeza de não ter vivido em vão.
Quero ter uma vida boa, feliz e, de preferência, útil e cheia de significado, para mim e para todos que estão ao meu redor.
E viva a vida!