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Por acaso ou destino, ou: quando é a hora certa para perguntar ao oráculo?

Não canso de me espantar com a sincronicidade do Universo. Este mês acabei de ler o livro “Crônica do pássaro de corda”, do romancista japonês Haruki Murakami e quero relatar um pouco nesta coluna sobre esta experiência e a confluência dos momento de dúvida da nossa vida, quando precisamos de orientação transcendental. Não por acaso, comprei o livro em agosto, recém chegada de uma incrível viagem que tive oportunidade de fazer para a terra do I-Ching: China, e depois Japão. Bom, sobre a viagem, conto em outra ocasião; mas adianto que, embora tenha aterrissado na terra brasilis no dia 30 de julho, considero que estou acabando de chegar no final de agosto…

 

Encantada com a temporalidade do Oriente, quis beber mais da fonte lendo o Murakami, autor que eu já conhecia. Sem dar spoilers, o romance envolve a relação do protagonista com um poço. Sim, um poço daqueles de água, antigos. Eis que, no final de semana, compro uma verdura no supermercado que talvez estivesse estragada, pois a cozinha ficou com um cheiro muito forte logo depois que guardei as compras; mais adiante, no mesmo dia, resolvi jogar a verdura fora e acender incensos na cozinha para aliviar o odor. Acendi os três incensos, como no ritual dos templos taoístas, logo abaixo do filtro de água, e imediatamente pensei: isso é o trigrama Água sobre o trigrama Vento, ou seja, o hexagrama O Poço. Como uma resposta que apareceu sem eu ter perguntado, o hexagrama O Poço é uma mensagem sobre como as potencialidades, se não desenvolvidas, não nos servem para nada. Se O Poço tem água e não se consegue tirar água dele, para que ele serve? Assim, a resposta às minhas inquietações profissionais, com as quais estava preocupada nas férias, me surgiu no fluxo da linguagem do Universo: O Poço fala de resultados. É preciso que eu gere resultados, que resolva minhas potencialidades em atitudes concretas (como escrever este texto e não atrasar tanto as entregas!).

 

Um oráculo que capacita o estudante a ler as mensagens do Universo é o “Flor de Ameixeira”, também chinês, baseado no I-Ching. Pode-se estudá-lo na Sociedade Taoísta em São Paulo (http://sociedadetaoista.com.br/sp/).

 

Mas nem sempre temos a sorte da resposta chegar sem a pergunta. Por isso, frequentemente quem consulta diversos oráculos passa pela mesma dúvida: existe hora certa para perguntar? No estudo do I-Ching, partimos do pressuposto que o momento da pergunta é muito importante, pois quando perguntamos já ativamos o fluxo oracular e da dúvida: se eu pergunto, é porque não tenho certeza, ou porque no momento não tenho as ferramentas necessárias para lidar com a dúvida em questão, ou seja, estou altamente vulnerável, e posso “pegar” a resposta como destino. O momento da consulta é cercado por vários cuidados no estudo do I-Ching e também aprendemos a perguntar da maneira correta, segundo a etiqueta do oráculo.

 

A máxima do “cuidado com o que deseja, porque você pode conseguir” serve para as perguntas: “cuidado com o que pergunta, porque você pode receber as respostas”. Por exemplo, quando já decidimos algo importante na nossa vida e mesmo assim queremos a confirmação do oráculo, quer dizer que não temos tanta certeza assim da decisão… e aí o ato de perguntar já não é um bom sinal. Nas situações as quais ainda não decidimos e queremos uma consulta, o ideal é estarmos em condições serenas para melhor avaliar as respostas – embora queiramos as respostas no calor das dúvidas! A hora certa é, então, um constante exercício de, antes de nos sentarmos frente a frente para perguntar o que seja meditarmos um pouquinho sobre por que pergunto o que pergunto, e com qual intenção pergunto. Sem dúvida o oráculo nos responderá à altura.

Imagem: O TAO e os trigramas do I-Ching na entrada do Palácio Taiqing, templo taoísta fundado há 2.000 anos na montanha Laoshan, leste da China. Crédito: Daniela Osvald Ramos

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