Ícone do site Titi Vidal

Personalidade e narrativas astrológicas

A PERSONALIDADE ASTROLÓGICA

Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou as coisas da vida… – Raul Seixas[1]

O universo que cerca a Terra também está dentro do homem. Os elementos e ciclos da natureza formam os doze signos que estão também em nós. Estão em nosso corpo e em nossa personalidade. Somos uma combinação de fatores e carregamos o cosmo dentro de nós. Essa combinação está presente no mapa astral de uma pessoa, sempre único e composto de diversos aspectos.

MAPA ASTROLÓGICO: HISTÓRIA DE UMA VIDA

Whe can think of astrology as our personal relationship with the cosmos, the way we link ourselves to the heavens. – Bernardette Brady[2]

O mapa astral conta a nossa história e nós contamos a história do nosso mapa.

Pode ser sentido como “um símbolo vivo do universo inteiro, visto de um determinado lugar, num determinado instante” (RUDHYAR, 1991:23).

Os ciclos astrológicos falam dos eventos coletivos e através das observações astrológicas podemos fazer um retrospectiva na história e contar o passado, podemos analisar o presente e podemos prever o futuro.

Como conta o astrólogo Maurício Bernis (2007:09), existem correlações entre as posições dos astros e os eventos humanos, já que todos os mecanismos de funcionamento do universo obedecem a cíclicas naturais. Assim, os ciclos celestes contam a história da vida terrestre.

Cada mapa astrológico é, como o próprio nome diz, um mapa que nos apresenta o caminho de vida. O mapa astrológico é também um roteiro, a partir do qual desenvolvemos nossa vida.

Quando consideramos o mapa natal, cada um tem o seu, porque como existem infinitas combinações possíveis no cosmo, o mesmo céu jamais se repete. Assim, a cada instante, temos uma configuração celeste distinta.

Regina Machado (2004:19) compara as diferentes visões possíveis em um determinado assunto a janelas das quais se vêem diferentes paisagens, de ângulos particulares. A Astrologia é uma janela, uma forma de olhar o mundo e de contar sua história, uma das muitas maneiras possíveis de contar a história da humanidade e a história de cada um de nós.

ASTROLOGIA É NARRATIVA

The sky is not a single line, the ecliptic, but a great dome of wonder that surround us, wrapping us in a cloak of mythology, stories eand constant narratives. – Bernardette Brady[3]

A Astrologia é uma narrativa que envolve interpretação. Um astrólogo “lê” o céu e traduz os ciclos celestes. Como diz a astróloga Bernardete Brady (2008), o céu não é uma simples linha, mas também contém mitologias, histórias e narrativas (tradução nossa).

Qualquer astrólogo que analise um mapa astrológico, ou seja, a história celeste de alguém, verá os mesmos sinais e símbolos, os mesmos fatos, qualidades de tempo e acontecimentos. No entanto, cada um irá traduzir de acordo com sua própria história e bagagem pessoal e conforme seu próprio mapa astrológico. Como uma narrativa que vai sendo contada, um mapa astrológico desdobra-se no tempo e conta uma história real, a história da vida de alguém. Essa história pode ser contada do passado para o presente, do presente para o passado e do presente para o futuro.

Pode-se pensar o mapa como um labirinto ou, em outras palavras, como algo que possui essa estrutura labiríntica. Conforme nos apresenta Lúcia Leão (2002:15), “os labirintos são signos de complexidade” e assim como labirintos são complexos, um mapa astrológico também é. Aliás, a própria Lúcia Leão associa os mapas aos labirintos. Ela diz que “no estudo dos labirintos, um tópico bastante importante diz respeito ao conceito de mapa

No caso de um mapa astrológico, este mapeia um labirinto cósmico, que ao mesmo tempo registra um labirinto já percorrido e projeta um labirinto a ser percorrido. Isso acontece justamente porque o mapa astrológico contém ao mesmo tempo o passado, o presente e o futuro.

Conforme Vladimir Propp (2006:21) “A narrativa assegura funções antropológicas indispensáveis à sociedade humana: funções cosmogônicas, institucionais e criativas”. E se a Astrologia é uma narrativa, ela também contém essas funções por ele apontadas. Possui especialmente a função cosmogônica que, para ele, está ligada “à maneira como uma civilização concebe a origem do universo e a sua própria localização no espaço e no tempo”. Ora, a Astrologia trabalha justamente com tempo e espaço, localizando o indivíduo de acordo com ambos fatores e, além disso, analisa a qualidade do tempo, sem para isso deixar de considerar o espaço.

Propp (2006) analisa especialmente a narrativa presente nos contos míticos, mas traça uma relação entre a história e a narrativa. Segundo ele, há uma mútua implicação entre ambas. Para ele a narrativa não apenas dá sentido à história como produz historicidade. Por isso, ainda de acordo com o conceito de Propp, a narrativa é predominantemente metonímica, pois seleciona e articula os paradigmas culturais que fazem o cotidiano.

O mapa astral de uma pessoa é seu DNA astrológico. O DNA contém informações e instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos. Da mesma forma, um mapa astrológico contém instruções e informações sobre a vida de determinado ser vivo. Portanto, é algo que conta a história real da vida de alguém. No entanto, à Astrologia pode ser aplicada a linguagem mitológica, apesar desta linguagem não contemplar totalmente esse saber. A mitologia pode, na verdade, ajudar a explicar o funcionamento astrológico e fazer uma espécie de ponte ou interface entre sua linguagem simbólica e o entendimento humano. Assim, dentre as narrativas possíveis a partir de um mapa astrológico, a mitologia com toda sua estrutura é uma das formas possíveis.

Voltando à teoria de Propp, podemos pensar que a narrativa astrológica ajuda a dar sentido à vida humana, pois permite uma explicação sobre eventos, reações e situações individuais e coletivas que conecta o homem à natureza e aponta coerência e significado à existência.

Um mapa astral e os ciclos astrológicos ajudam, portanto, a contar a história de uma pessoa e, além disso, a atribuir significado a esta história e vida humana, dando um sentido ao que acontece e atribuindo qualidade ao tempo vivido.

Cristina Balieiro e Beatriz Del Picchia (2010:18,19) ainda consideram que “A jornada para o mais profundo e autêntico de si mesmo é expressa na narrativa de uma vida” Essa é justamente uma das funções do mapa astrológico: narrar a vida. E como elas complementam: “Assim como cada pessoa é única, cada história é única e, de certa forma, mostra como a vida moldou aquela identidade e ao mesmo tempo foi moldada por ela”.

A escritora e astróloga Amanda Costa lembra (2011:56,67) que “A Astrologia, como um sistema simbólico fundado em estruturas arquetípicas” é uma “nova leitura do real” proposta pelo também astrólogo, escritor e jornalista Caio Fernando Abreu. Tanto que a Astrologia foi fundamental em boa parte do processo de escrita de Caio. Por sinal, encontramos muita Astrologia em toda obra do escritor.

Também é interessante pensar quando Roland Barthes (2011:43) diz que “… a narrativa, ao mesmo tempo, é (tient) e pretende ser (aspire)” que isso reflete a estrutura de um mapa astrológico que ao mesmo é, porque mostra uma pessoa e sua vida e ao mesmo tempo pretende ser porque também contém tendências, aspectos e possibilidades que nem sempre chegam a ser ou acontecer.

[1] Trecho da música Gitá de Raul Seixas e Paulo Coelho.

[2] Da página Astro Logos (Facebook) de autoria da astróloga Bernardette Brady.

[3] BRADY, 2008:1.

Sair da versão mobile