Há 40 anos atrás as opções de trabalho e as perspectivas de futuro para um jovem de classe média estavam dentro de um quadro ao mesmo tempo previsível e específico. Principalmente nas grandes cidades, o mercado de trabalho era promissor se a escolha envolvesse cursar uma universidade. Embora o vestibular sempre fosse um grande desafio, o campo de interesses ficava entre engenharia, medicina e direito, basicamente.
Hoje em dia as possibilidades são muitas, sem contar que existem cursos técnicos das mais variadas modalidades. A tecnologia, a comunicação e a prestação de serviços provocaram desdobramentos e ramificações que permitem, inclusive, formação alternativa a todas citadas.
Diante destes inúmeros caminhos que conduzirão a vida profissional, haja vista a intensa disputa em qualquer preferência, a dúvida e a insegurança dos jovens nos dias de hoje são significativas. Esta dura batalha se apresenta por volta dos 17 anos de idade e todo este investimento pode não garantir boas respostas.
Como esperar uma atitude clara e de autoconfiança para alguém que praticamente não terminou seu processo de adolescência? Embora não reconhecida como uma etapa da vida até o final do século XIX, as mudanças culturais a consideram uma fase de transição; mudanças biológicas, fisiológicas e psíquicas trazem implicações emocionais importantes. Não à toa entendemos este momento como crítico e de muita instabilidade. Vale lembrar as ambivalências e contradições observadas: ao mesmo tempo que se busca independência e liberdade, a imaturidade emocional leva a conflitos familiares, inseguranças em relação à autoimagem e ansiedades associadas à própria sexualidade.
À complexidade deste período surgem questões contemporâneas. Vivemos um mundo onde ser feliz, belo e bem sucedido são imprescindíveis. Observo alguns pais em desespero na esperança de que seus filhos cumpram esta demanda. Muitas escolas, preocupadas com sua colocação no ENEM chegam também a alimentar ( ou até pressionar) a necessidade de resultados.
Em consequência, constatamos manifestações de depressão e pouca disponibilidade para decisões quanto ao futuro. Presos em seus quartos diante do computador ou celular, perdem-se nos horários, mergulhados nas infinitas probabilidades das séries, dos filmes e games. Curioso paradoxo este: onde se glorifica a juventude também podemos constatar desencanto e passividade.
Como um contraponto à pressão destes tempos, é provável que estes moços estejam a resistir às cobranças numa atitude de aparente acomodação ou mesmo apatia. Além de pouco preparados, não reagem com a rebeldia agressiva de outros tempos. É como se negassem sua entrada numa vida adulta competitiva e massacrante.
A reflexão e o diálogo neste momento poderão ajudar. Como a idade cronológica não determina o nível de amadurecimento, pode ser recomendável uma compreensão singular, com todas as suas peculiaridades. Será tão urgente cumprirmos metas como máquinas ou robôs? Cada um de nós, jovens ou não temos um ritmo e um tempo particular para assimilarmos as novas experiências e desafios que a vida impõe. Assim como a fruta necessita amadurecer para ser colhida, a solidariedade e respeito aos limites pode ser um caminho promissor. Às vezes, basta esperar um pouco, abrir outras possibilidades e interesses, acompanhar e orientar, se necessário.
A vida desta nova geração tem perspectivas de ser longa, não há necessidade de se buscar consequências imediatas, mas experiências enriquecedoras.
Sem aprisiona-los, quem sabe não podemos ajuda-los a voar?
Erane Paladino