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O que nos dá sentido

No meu texto anterior, a voz esteve presente nos trabalhos desenvolvidos por dois grupos vocais que comentei. E o interessante é que a voz continua presente num belíssimo e tocante documentário que assisti recentemente na Netflix – The Music of Strangers – do diretor vencedor de Oscar, Morgan Neville.

Este trabalho, realizado em 2015, foi indicado ao Grammy e acompanha o renomado violoncelista Yo-Yo Ma e membros do Silk Road Ensemble por vários locais do mundo, explorando os meios pelos quais a Arte, em particular a Música, pode preservar as tradições e moldar a evolução cultural. É uma mistura de ensaios e apresentações do grupo, filmes de arquivo e entrevistas pessoais, focando nas jornadas pessoais de Yo-Yo Ma (França / EUA), Kinan Azmeh (Síria), Kayhan Kalhor (Irã), Wu Man (China) e Cristina Pato (Espanha).

É um sensível registro da paixão, do talento e do sacrifício de cada um destes músicos, que através de suas histórias individuais revelam a riqueza dessa experiência musical arrojada e a busca global pelos laços de união.

Logo no início do documentário o filho de Yo-Yo Ma conta que Leon Kirchner, compositor americano de música clássica contemporânea, disse ao seu pai quando criança: “Você é um grande músico, mas ainda não achou a sua voz”. Essa ideia ficou na cabeça de Yo-Yo Ma gerando outras perguntas: “O que isso significa?”, “Como se faz isso?”, “Porque estou fazendo isso?”.

A resposta veio muitos anos depois, quando ele foi convidado a assistir um ritual de transe de um povo que vivia no deserto, no qual os homens cantavam e dançavam. Yo-Yo Ma pergunta às mulheres que assistiam com ele por que eles faziam o ritual de transe. Elas disseram a razão mais evidente: “Para a música, para a cultura, para a medicina, para a religião. Porque nos dá sentido”.

Essa lição moveu Yo-Yo Ma a conceber, em 2000, o projeto Silk Road Ensemble, numa busca de desenvolver um trabalho conjunto. Foi assim que ele começou a aprender sobre a histórica Rota da Seda, reconhecendo nela um modelo de colaboração cultural produtiva, para a troca de ideias e tradições ao lado do comércio e da inovação. Foi assim que músicos das terras da Rota da Seda foram convidados a participar deste projeto para co-criar um novo idioma artístico, uma linguagem fundada na diferença e uma busca de maior conexão do mundo.

Desde então já foram gravados sete discos, sendo que “Sing Me Home” ganhou o Grammy de “Melhor Álbum de Música do Mundo”, em 2016. Paralelamente às apresentações, criam e oferecem novas oficinas de treinamento de música e desenvolvem programas de residência em escolas, museus e comunidades.

Em outro momento deste documentário, o clarinetista sírio Kinan Azmeh diz: “Esse projeto acrescenta à sua voz. Eu acho que o emocionante da sua viagem é isso, procurar a sua voz. Às vezes, você acha que a encontrou e, uma vez que você a tem, ela muda de novo”.

E você, já encontrou o que dá sentido à sua vida? Segue procurando a sua voz?

https://www.youtube.com/watch?v=jAic5B57J9Y

https://www.youtube.com/watch?v=26Ofj4hOVpA

 

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