Foi nos idos de 1921 que Freud escreveu a reflexão sobre movimentos sociais e até permitiu pensar, também do ponto de vista histórico e antropológico uma leitura sobre as guerras e a violência.
Para pensar esta questão, o pai da psicanálise cita o sociólogo francês Gustave Le Bon:
‘A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento. Há certas idéias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos, exceto no caso de indivíduos que formam um grupo. O grupo psicológico é um ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se combinam, exatamente como as células que constituem um corpo vivo, formam, por sua reunião, um novo ser que apresenta características muito diferentes daquelas possuídas por cada uma das células.
Surge uma espécie de contágio, uma influência coletiva que submete as questões heterogêneas para garantir homogeneidade grupal.
A outra hipótese social que poderá justificar esta manifestação está no trabalho Mal estar na Civilização, escrito em 1930, também sob influência das guerras na Europa. O autor lembra Hobbes ( o homem é o lobo do homem) e traz o “ Mal Estar” como a inevitável necessidade de sobrevivência que nos leva a viver em bando, apesar de predadores.
Com estas peculiaridades, a espécie humana ganha mais força e valentia quando está ligada a um grupo: Sob a influência de uma sugestão, empreenderá a realização de certos atos com irresistível impetuosidade. Essa impetuosidade é ainda mais irresistível no caso dos grupos do que no do sujeito hipnotizado, porque, sendo a sugestão a mesma para todos os indivíduos do grupo, ela ganha força pela reciprocidade.’
Com mais instintos e menor capacidade crítica, o grupo se alia pelo que tem em comum, e, surpreendemente regride. Com o rebaixamento da razão tende a agir pela paixão, manifestação psíquica infantil. O teste da realidade dentro da lógica e análise também ficam comprometidos e ocorre uma espécie de idealização, mecanismo psíquico associado às dissociações na percepção.
Idealizamos, muitas vezes, como defesa ao que é real e frustrante. Vivemos a paixão quando, inconscientemente, tememos o contato com nosso desamparo. Quanto mais precisamos de ídolos, heróis ou soluções mágicas, mais estamos a escapar da nossa responsabilidade como indivíduos e cidadãos. Ficaria “mais fácil”, portanto, olhar a vida a partir da dualidade “bem ou mal” de maneira absoluta, inquestionável.
Como tratamos, neste caso, de sentimentos primitivos, em algum momento, a vida real se apresentará e o confronto com a dor e com a desproteção tornam-se inevitáveis.
Decisões pessoais e políticas, a meu ver, devem ser avaliadas com uma apreciação cuidadosa e analítica, de forma madura. Observar consequências, limites e possibilidades é estratégia inteligente.
Sonhar e fazer poesia são fundamentais e alimentam nossa alma, mas elas tem outro lugar , também muito especial!!
Ou como diria Mario Quintana:
“Se as coisas são inatingíveis…..ora!!
Não é motivo para não querê-las
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das Estrelas!!!””