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Novos paradigmas para a ciência

A cultura ocidental estabeleceu alguns paradigmas de ciência e conhecimento governado por leis basicamente apoiadas na lógica racional. Esse modo de pensar e observar a experiência, os fenômenos e o Universo, muitas vezes chega a desconsiderar as questões subjetivas e todas as implicações que envolvem um fenômeno.

René Descartes e Isaac Newton são alguns dos protagonistas desta linha de pensamento. A relação do ser humano com o mundo se apoia numa espécie de superioridade, onde graças à razão, caberia dominar o mundo e a natureza.

O referencial acadêmico ligado às ciências em geral, propõe a pesquisa onde o observador seria o elemento neutro. A objetividade no levantamento de dados, as estatísticas e medidas conduzem a análise e o positivismo é a linha mestra do raciocínio. Verdades são conquistadas e a padronização do conhecimento devidamente organizada.

Sem dúvida,,grandes contribuições foram trazidas por este molde de estudo:   a tecnologia, a medicina são exemplos nítidos no que tange qualidade de vida, longevidade, saúde. Somos também mais conscientes e informados. Mas há também, o excesso de precisão, especialidades e um distanciamento das subjetividades e suas  implicações.

Mas, de repente surge Edgar Morin e as portas parecem se abrir para uma verdadeira revolução no modo de olhar e pensar os fenômenos. Morin é um pesquisador, nasceu em 1921, em Paris. Formado em História, Geografia e Direito migrou para Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Suas idéias colocam em questão o fechamento ideológico e paradigmático das ciências tradicionais. Para o autor, não há um estado superior da razão que domina a emoção, mas um circuito intelecto/afeto que contribui para o estabelecimento de aspectos racionais. Existe um mundo psíquico independente onde fermentam  idéias,sonhos necessidades,imagens, fantasias e este mundo influencia  a nossa visão e concepção do mundo. Acaba-se o ideal onipotente do poder totalitário e fechado de verdades absolutas.

O conhecimento está envolvido e dependente do contexto, do global, do multidimensional, seja biológico, psíquico, social e afetivo. A sociedade contém dimensões históricas, sociológicas, econômicas e religiosas. Especialidades estudadas isoladamente e que eliminam o observador como variável levam a uma espécie de círculo vicioso que aprisiona o pensamento. Sua proposta é transformá-lo em “circulo virtuoso”. Para Morin, qualquer pensamento petrificado impede a crítica e a possibilidade da reaprendizagem. A vida, a natureza e a mente devem estar em constante movimento. Paradigmas imutáveis impedem o que é vital e criativo:

Assim, no lugar do método e da verdade, a recusa a modos fundamentais do pensamento simplificador. Se a origem da palavra método significa caminhada, é preciso aceitar caminhar sem um caminho definido: O círculo vicioso dá lugar a uma espiral ascendente.

Num contraponto ao método cartesiano, questiona a apoio a princípios fundamentais ou paradigmas: “Não se trata mais de obedecer a um princípio de ordem (eliminando a desordem), de claridade(eliminando o obscuro), de distinção( eliminando as aderências, participações e disjunções), que excluem o sujeito, a antinomia e a complexidade.”

  A idéia de complexo seria, então,  a ligação entre unidade e multiplicidade. Para ilustrar a idéia, Morin recorre a imagens do Yi-King ou o Livro das Transformações que apresenta o ying e o yang intimamente casados um no outro, mas distintos, ao mesmo tempo, complementares, antagônicos e concorrentes. A idéia do caos não se desliga ao processo, ou seja, para haver desordem, ordem e organização é preciso que haja interação, ou seja, um circuito solidário que acaba por criar relações complexas, ou seja, relações complementares, concorrentes e antagônicas.

Cabe no processo o reconhecimento da falha, do erro e da presença do observador.

Se nós humanos não somos máquinas, a ciência e a educação perdem seu propósito quando estabelecem normas reguladoras estáticas e burocráticas. Se todo conceito, mesmo o mais físico é criado por um espírito humano, há sempre presente,mesmo de forma clandestina uma co-presença.

Morin propõe um novo modo de pensar e conhecer e oferece um original modelo epistemológico do pensamento.  O mundo é um todo indissociado e para compreendê-lo deve-se considerar as múltiplas referências possíveis e suas incertezas. Na Teoria da Complexidade, observa-se um tecido heterogêneo e multifacetado inseparavelmente associados. O conhecimento depende de um olhar transdisciplinar:  “todo  seja maior do que a soma das partes” ou que “o todo seja menor do que a soma das partes”.

As interações são, portanto, geradoras de formas e de organização. Este movimento pressupõe a construção e reconstrução do conhecimento, uma dinâmica que permite compor, agregar e reconhecer as falhas.

Esta revolução de princípios, permite também o acesso a outras formas de conhecimento. Ou como o próprio Morin diria:

“Todos os objetos-chave da física, da biologia, da sociologia, da astronomia, moléculas,células, organismos, sociedades, constituem sistemas. Assim,cada forma singular, dentro de um sistema social, no seio de um ecossistema natural, que está no seio de um sistema solar, que está no seio de um sistema galáctico”.

 

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