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Nossos impulsos vitais e a consciência

Meditare, ou o ditado de mim mesmo…

Ser humano, ou tornar-se humano é uma atitude complexa e que sempre levou a reflexões, e que atualmente mostra-se muito complicada. Nós homens e mulheres que partilhamos a construção do mundo, por um direito adquirido de existir achamos que somos humanos. E que também vamos ter um lugar nos céus assegurado para nosso descanso eterno. É claro que uma parcela crescente entende que não há um céu para onde ir, mas todos se propõem a ser humanos. Despertar o “Eu sou” que cala profundo em nós, nosso self, o que nos torna sujeitos das nossas ações. Este ser biológico que possui inúmeras singularidades individual-anatômica-fisiológica-imunológica-psiquica-sensual-sexual-social-planetária-universal-cosmica…

Tudo o que nos deixa individuais ganha sentido com a noção de sujeito, e nos torna únicos. Ocupamos o centro de nosso mundo para conhecer e agir, num egocentrismo que é o aspecto mais comum entre todos os indivíduos, o aspecto da existência humana mais universalmente partilhado é o fato de estarmos destinados a sermos únicos. Este paradoxo nos permite uma sensação de individualidade conjunta à sensação de pertencimento à humanidade. Uma identidade pessoal e um lugar na tribo humana que transcende as diferenças, e permite que algo passe e viva como um Eu permanente. Este Eu permite conhecer e agir e implica em ocupar meu centro, e também me situar no centro da vida neste mundo para conhecer e agir, realizando uma lógica de autoafirmação do indivíduo vivo. Ser sujeito da própria vida transcende as mudanças do ser individual. Estar de posse deste Eu permanente é a base da consciência.

O individualismo e o materialismo contemporâneos nos afastam desta meta de humanização e do conhece-te a ti mesmo. O mundo frenético da informação e mídia visual leva a um foco para fora de nós mesmos. Importa o que aparento, represento ou possuo. O que o olhar do outro vai dizer sobre mim assume o posto mais importante e nos joga numa busca frenética de adequação e modismos sem fim. Fama, dinheiro, prazer e poder tentam preencher um vazio de ser, e tentam se tornar a meta de vida. No final a frustração se encarrega de dar a verdadeira dimensão do vazio.

Só há uma base para o autoconhecimento que é nossa consciência dos nossos impulsos vitais. Nos resta procurar dentro aquilo que fora se tornou enganoso. Reconhecer que as sensações e visões que vivemos não são novas, e sim, que são projeções do passado que condicionam nossa existência. Acabamos por projetar uma ideia do mundo que transforma “aquilo que é” em “aquilo que deveria ser”. Para encobrir nosso medo desejamos controlar e acabamos observando sempre o passado, numa atividade mental do eu que nos tira do aqui-e-agora da simples existência. Precisamos esvaziar a mente desta atividade frenética do “eu”, necessitamos ter apenas atenção ao momento presente para encontrarmos por nós mesmos a atividade do próprio eu. Somente observar com atenção, sem julgamentos, interpretações ou distorções. Ficar atento e tentar prestar atenção, de modo que exista apenas a observação, com quietude da mente, sem observador. Chegamos, então, aos impulsos que nos movimentam na vida, onde a ação não é mais o pensamento, onde o pensador que quer controlar o pensamento é apenas o próprio pensamento. O pensador é o pensado. Emerge no insight, na enteléquia pura, o EU SOU.

 

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