Você é feliz com o que você tem? Você consegue ver o lado bom daquilo que já conquistou? Das pessoas que estão ao seu lado?
Coraline, do Neil Gaiman, é um livro de terror para crianças, mas eu acho que especialmente para as crianças que já passaram dos 30. Coraline é uma história assustadora sobre uma menina corajosa. Bem resumidamente: Coraline se muda com os pais para um apartamento, que era originalmente uma casa enorme dividida em vários apartamentos. Um dia, enquanto sua mãe foi ao supermercado, ela resolveu abrir uma porta de madeira maciça que tinha na sala de estar. Eis que neste dia a parede de tijolos, que costumava ficar atrás desta porta, tinha sumido. No lugar, um longo e escuro corredor que dava em outro apartamento. Quando Coraline chegou ao outro lado do corredor, percebeu que estava em um apartamento idêntico ao seu, até os móveis eram os mesmos! Porém, ela percebeu que havia ainda mais semelhanças. Lá neste outro lugar, ela tinha uma outra mãe e um outro pai. Idênticos aos originais, talvez um pouco mais pálidos e com botões costurados no lugar dos olhos. Eles eram muito mais legais. Eles a deixavam brincar o tempo todo, sempre tinham as suas comidas favoritas, eles davam total atenção a ela. Coraline já se via morando definitivamente com os seus outros pais. Até que, em um certo momento, ela começou a perceber que havia algo de errado. Aquele lugar, que à primeira vista parecia tão legal, escondia muitos mistérios e era até mesmo sombrio. Coraline conseguiu escapar de volta para a sua casa, porém o estrago já havia sido feito: seus verdadeiros pais tinham desaparecido. Assim começa a luta e a busca (um verdadeiro jogo) para que Coraline os reencontrasse. Neil Gaiman diz que Coraline é a história que ele queria ter lido e aprendido com ela em sua infância: ser corajoso não é não ter medo, ser corajoso é ter medo e mesmo assim, fazer o que é certo. (Para ver a resenha completa clique aqui).
Quantas vezes a gente se pega pensando, idealizando que, se algo acontecesse da maneira como gostaríamos, seríamos mais felizes? Quantas vezes colocamos a nossa felicidade e realização sob responsabilidade de eventos, coisas e pessoas? Assim como aconteceu com Coraline, será que se as coisas e pessoas fossem exatamente como idealizamos, seríamos, de fato, mais felizes?
Saber valorizar aquilo que temos no momento é a melhor maneira de saber valorizar tudo que chegará até nós no futuro. Também serve para nos ajudar a enxergar quando algo não está nos fazendo bem. Não estou aqui falando que não devemos sonhar, buscar evoluir, alcançar conquistas materiais, nada disso. Mas saber dar valor àquilo que já é nosso faz essa busca pela prosperidade (em todas as áreas) ser menos penosa. Porque se algo der errado, você se decepcionar ou perceber que aquele caminho tão desejado não é o seu, você já está amparado por questões, pessoas e coisas com as quais você já se sente minimamente realizado.
Acredito que idealização é uma questão inerente ao ser humano. Algumas pessoas idealizam mais, outras menos. Só não podemos apostar todas as fichas nela e deixá-la solta por aí, causando estragos na nossa vida.
Idealizar com os pés no chão pode ser a melhor forma de trilhar o seu caminho em segurança e sem deixar de sonhar.
Editora : Intrínseca;
Capa dura : 224 páginas
ISBN-10 : 8551006754
ISBN-13 : 978-8551006757