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Mudança de Tempo

e_anka@gazeta.pl

Improvisar não é sair do nada para o tudo.
Antes, significa buscar no baú mental de repertórios as peças que precisam ser encaixadas e ajustá-las o mais rápido possível

(“Caminhos da Mudança”, de Eugenio Mussak)


Há dois anos comecei a publicar meus textos na Rede Bellatrix. No primeiro deles, eu chamava atenção à escuta do que ouvimos e me propunha trazer referências musicais diferentes e interessantes nos diversos gêneros, estilos e épocas.

Esta semana comecei a ler o livro “Música – Entre o audível e o visível”, de Yara Borges Caznok, amiga e profissional que admiro bastante, que logo na introdução inicia com o seguinte texto: “O debate da união da audição com a visão hoje é um fato corriqueiro e está presente na produção artística de diferentes maneiras. Há obras que exigem do espectador uma totalidade perceptiva nunca antes ousada, tais como as performances, as instalações e os eventos multimídia que requerem, além da visão e da audição, a participação do tato, do olfato e, por vezes, do paladar”.

Essa reflexão me levou a pensar como nestes tempos de afastamento social e de fechamento dos espaços culturais, as artes em geral tiveram que buscar rapidamente formas de não perder contato com as pessoas. E um dos veículos foi a “live”. No caso da música, esses encontros com cada artista em seu espaço ofereceram, mesmo que em sua maioria de uma forma bastante caseira, a possibilidade de acesso ao seu trabalho artístico via mídias sociais.

Surgiram iniciativas criativas, como a do projeto “A Nossa Música” (www.anossamusica.com.br) com o objetivo de gerar renda para músicos sem trabalho durante a pandemia. A pessoa que quiser apoiar o projeto envia um tema, para o qual dois músicos do coletivo do projeto farão uma música especialmente para ela, podendo ser canção ou tema instrumental. Essa pessoa receberá sua música em um vídeo com os músicos tocando “ao vivo” cada um na sua casa. Aprecie a bela canção “Athena”, criada com suporte deste projeto, com a cantora Marília Vargas e a pianista Juliana Ripkehttps://www.youtube.com/watch?v=skNTEeB-f1M&feature=youtu.be&fbclid=IwAR0IX1aQaCmllQRbTMzBYSJgIbJVMRMvf-2z_UyrJ-lsXuCBqNrgMtbta7g

Grupos artísticos permanentes também têm sentido a falta de se apresentarem ao público e têm buscado novas alternativas para não perder esse contato. É o caso do Coral Paulistano, corpo artístico do Theatro Municipal de São Paulo. Com imagens gravadas pelos próprios músicos em suas casas, o grupo canta “Suíte dos Pescadores”, de Dorival Caymmi, sob a regência de Maíra Ferreira. O vídeo tem a direção de João Malatian. Apreciem em https://www.youtube.com/watch?v=TmA7LvUOokY&feature=youtu.be

Independentemente do momento atual, músicos têm buscado interagir com outras linguagens artísticas e de se apresentarem fora dos padrões tradicionais. É o caso da Aurora Orchestra, dirigida por Nicholas Collon. Essa orquestra inglesa apresentou, em 2019, uma versão diferente, mais visual, da “Sinfonia Fantástica”, de Hector Berlioz. Veja o trecho “The Witches’ Sabbath” dessa obra, apresentada no BBC Proms, no Royal Albert Hall, em Londres – https://www.youtube.com/watch?v=G2aHglwKH_I

Outra experiência interessante para ver e ouvir é a que o pianista Alexandre Tharaud e o bailarino Yoann Bourgeois criaram para “Clair de Lune”, de Claude Debussy – https://www.youtube.com/watch?v=SFRiHQ-Lwzk

E não poderia deixar de citar aqui o impacto de sons e imagens inusitados que o grupo Blue Man Group cria em suas performances e que podemos apreciar em “The Forge” – https://www.youtube.com/watch?v=uHUXAcKdeaQ

Mais que um tempo de mudanças, vivemos uma mudança de tempo
(“Caminhos da Mudança”, de Eugenio Mussak)

Crédito da foto: e_anka (Free Images)

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