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Grey, nosso gato-guerreiro

Era segunda-feira de carnaval. Nossa vida caminhava agitada. Tínhamos acabado de casar, havíamos mudado há poucos meses para um lar provisório até que a reforma da nossa nova casa terminasse e se as pessoas “normais” juntam as escovas de dentes, nós havíamos juntado os livros e os gatos.
Eram tantos gatos que uma parte teve que morar provisoriamente na casa nova, num cantinho sem obras reservado para essa hospedagem. Todo dia íamos visita-los. Alguns privilegiados ficaram com a gente no apartamento provisório (no 18o andar, com uma vista privilegiada de SP, mas que precisou ser telado pela segurança de todos).
Entre eles, nosso gato-cinza-guerreiro, Grey, que enfrentava há uns 6 meses um câncer agressivo e que lutava bravamente para viver. Não queria morrer de jeito nenhum. Era um gato-falante, super comunicativo, amoroso, presente. Até na clinica veterinária virou um mascote e passeava livremente por lá durante a temporada mais longa de sua internação.
Bem, quando finalmente chegou a hora da decisão, aquele momento em que ele já estava tão enfraquecido que sabíamos que em breve não viveria mais, demos um prazo a nós mesmos: depois da conversa com a veterinária decidimos que o fim do carnaval era nosso limite pra ter certeza se deveríamos mantê-lo vivo apesar do sofrimento aumentando.
Então, na segunda de carnaval, depois da consulta, voltamos para casa e compramos ingressos para um cinema. Na hora de sair, notamos algo diferente com o Grey. Estava mais triste, mais largado, mais quieto. Sentamos com ele e começamos a fazer carinho. Ele foi se desmontando, cedendo ao carinho.
Então algo inexplicável aconteceu a seguir. Eram 10 gatos em casa. Um a um, todos vieram até ele. Os mais “chegados” vieram bem perto. Cheiraram, olharam, acenaram. Deram seu alô bem claro. Os mais “distantes”, menos “amigos” do Grey, vieram perto sem se aproximar tanto. Acenaram de longe. Parecia até que faziam reverências a ele.
E então, quando finalmente o ultimo gato veio até ele, o último suspiro de vida. Em nosso colo, em nossos abraços e carinhos, decidiu partir. Um momento triste e mágico, a clara percepção do quanto esses bichos são especiais e sensíveis, e o quanto temos pra aprender com eles, sempre.
O Grey ficou pra sempre na lembrança e no coração. Alguns anos já se passaram e a memória está viva, gato falante guerreiro simpático e amoroso como ele, a gente não esquece mais.
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