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FUNDO DO POÇO

Peço licença, mas hoje eu não vou falar de livros. Não estou no clima. Hoje eu vou desabafar.

Passei por um mês difícil. Eu que sempre fui a rainha da gastrite, dessa vez, tive uma crise daquelas. Foi um mês ininterrupto com dores intensas as quais remédio nenhum resolvia. Achei estranho, tenho me alimentado melhor do que há 6 meses, não coloco o pé pra fora de casa… Afinal, o que foi que eu tive? Apesar dos exames indicarem somente uma forte gastrite, eu sei o que foi que eu tive: eu tive Brasil. Brasil de Bolsonaro. Eu tive Burnout de Brasil.

Eu sou pessoa com tendência a somatizar aquilo que sinto e acho que não consegui mais tentar levar de boa todo o caos pelo qual estamos passando: falta de vacina, medo do Coronavírus, medo de pegar o Coronavírus e morrer, medo de pegar o Coronavírus, me curar, mas ter alguma sequela, medo do meu marido se infectar e morrer, medo de que pessoas da minha família peguem e morram, medo de que os meus amigos peguem e morram… 1 ano e 3 meses cumprindo bem à risca a quarentena em casa, a cada dia vendo as pessoas nas redes sociais lamentando a morte de alguém, Nicete Bruno, Paulo Gustavo, descaso do Governo, vendo as pessoas viajarem como se não houvesse amanhã, vendo as pessoas irem a festas, falta de trabalho, Copa América, manifestações pró (Des)Governo, auto cobrança para produzir conteúdos nas redes… BUUM, explodi. Não aguentei. Eu já sabia que eu não estava dando conta. Mas, vamos falar bem a verdade: o que podemos fazer diante de tudo isso? Estamos de mãos atadas. Eu faço terapia, eu me exercito (em casa), mas, de verdade, não há nada que possamos fazer e, ao meu ver, o Brasil já chegou a um ponto que nem se eu fosse atendida por Freud e Jung, eles conseguiriam dar um jeito, rs.

Eu poderia usar a desculpa de que preciso cuidar da minha saúde mental e partir para uma semana em Trancoso? Poderia. Mas eu não consigo. Aliás, infelizmente, “cuidar da minha saúde mental” virou desculpa que qualquer pessoa egoísta tem usado para fazer coisa errada. Todos os dias, quando eu acordo, tento mentalizar que estamos com um dia a menos para o final desse combo de horrores de política + pandemia. Apesar de que, eu confesso, não estou NADA, ABSOLUTAMENTE NADA otimista para 2022. Pra falar bem a verdade, já estou me preparando para o pior…

Então, escrevo estas palavras para você que se identificou com alguma coisa que eu disse por aqui: você não está sozinho(a). Está difícil, está pesado, está emocionalmente exaustivo ao ponto de nosso corpo começar a falhar. O único conselho que posso dar e que funcionou para mim é: no que você puder dar um tempo e parar, pare. No começo, parece que vai ser pior, que as coisas vão se acumular ao ponto de você perder o controle, mas, acredite, eu parei o que eu consegui parar, aos poucos estou voltando, aos poucos estou tentando retomar as rédeas da minha vida, as minhas obrigações com saúde corporal e mental. E para tudo aquilo que você conseguir parar, acrescente uma coisa que te dê prazer e que você consiga fazer, em segurança, claro. Vai te ajudar. Não vai resolver as coisas da noite para o dia, mas vai te ajudar a enxergar aquela luzinha tão esperada no final do túnel.

Não é fácil, mas estamos juntos…

Um grande beijo e duas doses de vacina para todos nós!

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