FILME: A LIVRARIA
Há filmes que reafirmam nossas preferências pessoais. A Livraria fala de amor à literatura e aos livros. Paixão explícita em minha vida. Mas esse filme vai além quando com surpresas, cutuca e traz luz a lugares escondidos, surpreendentes, luz à necessidade de coragem para dar vida a nossos sonhos. Não é fácil ter coragem para levar nossos sonhos à frente!
A CORAGEM E O SONHO
A LIVRARIA, o filme de Isabel Coixet, é baseado no livro de Penelope Fitzgerald de mesmo nome. Vale lembrar que esse filme na premiação Goya (da Academia de Artes e Cinema espanhola) em 2018 foi indicado em onze categorias e ganhou três : Roteiro Adaptado, Diretor e Melhor Filme. Isabel Coixet é veterana e conta entre seus inúmeros filmes A HISTÓRIA SECRETA DAS PALAVRAS.
No final dos anos 50 em uma pequena cidade do litoral da Inglaterra, Florence Green (Emily Mortiner) coloca em prática o sonho de abrir uma livraria. Ela não sabe que encontrará todo o tipo de resistência de figuras importantes da cidade.
E assim, pouco a pouco vamos descobrindo quais são essas resistências e como se constroem as alianças políticas que se colocam contra esse projeto tão aparentemente eficiente e útil para a cidade.
Enquanto Florence trabalha para a manutenção de seu projeto, desenvolve vínculos de afeto e cumplicidade com a pequena Cristine e com o Edmund Brundish, figura solitária e misteriosa, em torno da qual muitas histórias são inventadas. Trata-se de um povoado pequeno em que as conversas e fofocas se multiplicam acerca de todos os habitantes.
E as forças do poder em suas variadas formas de manipulação acabam por desmoronar seu sonho. Florence vê seu investimento ser destruído até que vai embora sem auferir nenhum benefício de todo seu esforço.
Mas, a narrativa não acaba nesse vácuo de frustração e desconsolo. Ele apresenta uma surpresa que não será contada aqui. Nem esse filme se limita a essa história, que guarda complexidades e finas análises da natureza humana que poderão colocar á prova nossa capacidade de percepção. Tudo isso em um pequeno contexto social com um pedaço de uma natureza grandiosa.
Fica o convite para esse filme delicado e bonito em que o trabalho de câmera com marcações especiais substitui um excesso desnecessário de palavras. O universo criado pela diretora tem ação aparentemente lenta e essa escolha é significativa. Uma leitura em voz alta pelas personagens traz inovação na maneira de narrar substituindo a simples leitura de cartas escritas entre elas, dando um toque (especial) literário à história.
Por sua vez, a paisagem e os ventos nas ramas das árvores e folhagens são detalhe que é também parte importante da beleza desse filme.
Trata-se de uma história de amor aos livros, à leitura e à coragem humana, uma das mais importantes virtudes da natureza humana segundo um essencial diálogo entre Florence e Edmund.
E para nós, sobra a sensação de que os sonhos merecem ser perseguidos porque os movimentos nessa direção deixarão rastros mesmo que não nos apercebamos deles. Há uma rede de influência mágica e sutil entre as pessoas que é amplificada gerando frutos, em princípio, invisíveis.
Mais à frente, tais rastros dirão a que vieram. E haverá sua manifestação e, então, tudo estará em paz.