“Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para”
(Cazuza / Arnaldo Brandão)
Depois de mais de 100 dias de isolamento social, a noção do tempo vai ficando cada vez mais forte na gente. Do tempo em que estamos afastados das pessoas queridas, do tempo em que não podemos dar um abraço, um beijo. Do tempo em que não saímos para visitar os amigos e a família, de passear e apreciar a natureza. Está sendo um tempo de ficar dentro e de imersão para dentro de nós. Está sendo um tempo de reconhecimento do que é realmente importante para nós e desapegarmos do que não tem mais sentido em nossas vidas.
Durante este tempo, perderam-se muitas vidas. Muitíssimas delas devido à pandemia, mas outras por cumprirem sua missão aqui na terra. No dia 6 de julho, uma estrela deixou de brilhar aqui para continuar brilhando no Universo – o maestro e compositor italiano Ennio Morricone. Aos 91 anos de idade, deixou uma obra gigantesca ao longo de 66 anos de carreira. Compôs mais 500 músicas para todos os tipos de filmes (dramas, romances, comédias, séries, suspenses e filmes de arte). Importantes diretores de cinema – Sergio Leone, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Giuseppe Tornatore, Pedro Almodóvar – tiveram trilhas sonoras compostas por Morricone. Em 2007, recebeu um Oscar Honorário em reconhecimento ao seu trabalho no cinema e, em 2016, o Oscar de “Melhor Trilha Sonora” por seu trabalho em “Os oito odiados”, de Quentin Tarantino.
Para apreciar a grandeza de Ennio Morricone, ouça o tema “Gabriel’s oboé” do filme “A Missão”, de Roland Joffé, que foi indicada para o Oscar como “Melhor Trilha Sonora Original”. Aqui Morricone rege a Orquestra da Rádio de Munique – https://www.youtube.com/watch?v=oag1Dfa1e_E
Abri este texto com uma reflexão sobre o tempo do poeta, letrista, compositor e cantor carioca Cazuza. Há 30 anos, ele partiu, ainda muito jovem. Sua vida foi marcada pela boêmia, rebeldia e polêmica. Na década de 80, surgiu como principal letrista e vocalista da banda Barão Vermelho. Posteriormente, seguiu carreira solo e foi considerado um dos principais poetas da música brasileira. “Meus inimigos estão no poder. Ideologia, eu quero uma para viver” é uma frase tão atual ainda e é da canção “Ideologia”, aqui cantada por Cazuza – https://www.youtube.com/watch?v=XoiF-pDzod4
Em 1972, foi lançado o álbum “Acabou Chorare” do grupo Novos Baianos, com muitas músicas compostas por Moraes Moreira, Galvão e Paulinho Boca de Cantor. Foi considerado pela revista Rolling Stone como o “Maior Disco de Música Brasileira”. Influenciados por João Gilberto, que fez uma visita aos Novos Baianos no apartamento que mantinham no Rio de Janeiro, “Acabou Chorare” foi uma guinada na carreira do grupo, que incorporou elementos da música brasileira à linguagem do rock, e estourou nas paradas de sucesso. Eu ouvi muito “Acabou Chorare”, marcou minha juventude. É uma obra atemporal e bela até hoje. Os jovens músicos de hoje têm se ligado na força dos Novos Baianos. Aqui vai uma criativa releitura de “Swing de Campo Grande”, de Moraes Moreira / Galvão / Paulinho Boca de Cantor, homenagem que João Gabriel Jardim, com participação de Rico Ayade, fez para Moraes Moreira e para “aqueles que têm uma seta e quatro letras de amor” – https://www.youtube.com/watch?v=p79ngyCDHnE
O mestre baiano Gilberto Gil, canceriano, completou 78 anos em 26 de junho. E seu aniversário foi celebrado com muito carinho por seus amigos e admiradores. Escolheram sua canção “Andar com fé”, cuja espiritualidade e posicionamento frente à vida, é tão apropriada para o tempo que vivemos … “mesmo a quem não tem fé, a fé costuma acompanhar pelo sim, pelo não” – https://www.youtube.com/watch?v=DK06zbkZ18w
Da mesma forma que vários artistas se juntaram para esta bela homenagem à Gilberto Gil, vários outros artistas – Antonio Nóbrega, Fabiana Cozza, Chico Cesar, Mônica Salmaso, Renato Braz, entre outros, incluindo o próprio Gil – participaram do vídeo da ciranda “Ninguém solta a mão, ninguém!”, composta neste tempo de isolamento por Antonio Nóbrega e Wilson Freire. Vale a pena assistir para alargar o horizonte – https://www.youtube.com/watch?v=jwMOvwYyraQ
“Nessa ciranda da maré é o movimento. Em tempos de isolamento, a ciranda vai rodar e vai fazer entre nós mais uma ponte, alargando o horizonte dos sertões até o mar”.
(Antonio Nóbrega / Wilson Freire)