Emaranhamentos e destinos
por Titi Vidal
Costumamos viver com a certeza de que tomamos todas as decisões de nossa vida e que seguimos um destino só nosso. No entanto, os ensinamentos de Bert Hellinger, alemão que desenvolveu a teoria e prática das Constelações Familiares, mostra que não é bem assim. Para ele, três ordens precisam ser seguidas para que qualquer sistema, principalmente o familiar, esteja em equilíbrio. São elas a hierarquia, que pressupõe que aquilo que vem antes deve ser honrado e respeitado, e é o que dá contexto para o que veio depois existir, o dar e o receber, que pressupõe equilíbrio e troca justa nas relações (com exceção da relação entre pais e filhos, na qual pais dão e filhos recebem) e o pertencimento, que pressupõe que todos que fazem parte de um sistema, a ele pertencem e têm o direito de pertencer. Essa terceira regra tem implicações práticas quando pensamos naqueles que foram excluídos. Quem por alguma razão “deixou de fazer parte” do sistema. Em geral, estamos falando em pessoas que morreram prematuramente ou de forma trágica, os abortos e natimortos, e qualquer pessoa que tenha sido abandonada ou esquecida ou voluntariamente excluída. Apesar de ninguém lembrar, o sistema lembra. E como existe uma lei da compensação, em algum momento o próprio sistema tentará trazer aquele excluído de volta. Uma das formas mais comuns para que isso aconteça é que em alguma geração futura, algum membro da família represente quem foi excluído. Para lembrar, e/ou por lealdade ao antepassado, e por muito amor, aquela pessoa viverá situações que lembram o antepassado excluído. Viverá o destino dele, ao invés do seu próprio. Isso também significa que de alguma maneira estará mais conectado ao não do que ao sim, mais à morte do que à vida. Sem saber que alguém já viveu aquilo antes, pode reviver situações e/ou sensações parecidas. Ou poderá “lembrar” simplesmente vivendo situações de “nãos” como não dando certo no trabalho, ou no amor, por exemplo. Sobre repetir destinos, também há uma lealdade ao sistema e a quem veio antes que faz com que para pertencer, muitas vezes optamos seguir caminhos que vão contra nosso próprio destino. Claro que isso tudo é inconsciente. Então, por exemplo, numa família em que muitos ficaram doentes, um ou mais membros de gerações futuras podem inconscientemente atrair uma situação de doença para ser igual e portanto para pertencer. Ou uma família de mulheres que foram muito infelizes no amor. Uma jovem dessa geração atual pode ter esse registro interno e totalmente inconsciente que para pertencer a família ela também deverá sofrer no amor. Outra coisa bastante presente e comum nos sistemas é a culpa. Culpa pelos que sofreram. Culpa pelos que foram prejudicados por alguém da nossa família. Culpa por ter sobrevivido a uma tragédia na qual outros morreram. E assim por diante. A culpa também nos leva a viver destino daqueles que se foram, dos perpetradores e/ou das vítimas. Seja pela lealdade ao sistema, pela compensação, pela culpa ou pelo que for, fato é que muitas vezes o que acontece em nossa vida tem muito a ver com o sistema e não apenas com a nossa história e individualidade. E é ai que entra a constelação familiar, que consegue diagnosticar e trazer novas informações ao sistema, auxiliando quem deseja separar seu destino dos destinos dos que vieram antes. Mas isso só é possível quando olhamos com amor e compreensão para o passado, quando trazemos de volta quem foi excluído, quando vemos quem veio antes com gratidão, quando honramos os destinos daqueles que já se foram. E a constelação tem procedimentos próprios para tudo isso, com movimentos, palavras, frases e outras formas de restabelecer o equilíbrio dentro de determinado sistema. É um trabalho inclusivo e cheio de amor, que olha para a vida de uma outra maneira, sabendo que tudo e todos fazem parte e que só quando temos consciência disso, podemos viver a vida de forma mais plena e feliz.