Fogo
O fogo hipnotiza. – Gaston Bachelard[1]
O fogo é o elemento da energia e da vida. Dele é feito o Sol, quente e cheio de calor. O Sol, centro do nosso sistema, é o responsável pela vida na Terra e é ele o principal representante do elemento fogo.
Diz o astrólogo Stephen Arroyo (2005:107): “O elemento fogo se refere a uma energia universal irradiante, uma energia que é excitável e entusiástica e que, através da sua luz, dá colorido ao mundo”.
O fogo é o condutor da vida e quem é de um signo de fogo sente-se portador dessa vida. Por isso são signos vivos e enérgicos, cheios de fé em si mesmos e na vida. São pessoas naturalmente entusiasmadas e que precisam de espaço para expressão dessa vida que carregam dentro de si mesmos.
Segundo Bachelard (2012:11):
O fogo e o calor fornecem meios de explicação nos domínios mais variados porque são, para nós, a ocasião de lembranças imperecíveis, de experiências pessoais simples e decisivas.
E é assim porque o fogo não perece e apesar de sua simplicidade carrega muita energia e decisão. Bachelard (2012:11) ainda nos diz:
O fogo é, assim, um fenômeno privilegiado capaz de explicar tudo. Se tudo o que muda lentamente se explica pela vida, tudo o que muda velozmente se explica pelo fogo. O fogo é ultravivo. O fogo é intimo e universal. Vive em nosso coração. Vive no céu.
O fogo contém a energia do Sol que rege o signo de Leão, que representa o fogo em sua forma fixa, majestosa e mais brilhante. Sol que é o centro e o pulsar da vida no sistema solar e que é o centro e o pulsar da vida no ser humano, pois no corpo físico rege o coração.
Pode-se dizer que o fogo é o elemento da vontade. A vontade de ser e de viver, que gera entusiasmo. E que precisa de liberdade porque quando se abafa o fogo ele simplesmente se apaga e o fogo foi feito para brilhar, para esquentar e se propagar.
E para se propagar o fogo precisa ser e ser significa viver não só dentro mas além de uma pessoal. Como diz Bachelard (2012:21): “O fogo propaga-se mais seguramente numa alma do que sob as cinzas”. É justamente por isso que ele precisa viver.
Por isso também o fogo não foi feito para ser controlado, ele foi feito para se espalhar, para iluminar e propagar a vida. Por isso também é impaciente e exagerado, por isso pode queimar.
A astróloga Liz Greene (2002:97) começa sua descrição sobre os signos de fogo dizendo:
O ciclo zodiacal começa com o fogo, a dádiva que Prometeu roubou dos deuses para ofertar aos homens a fim de que pudessem ter esperança e uma possibilidade de engrandecimento e desenvolvimento.
De fato, não é à toa que o zodíaco começa com um signo de fogo – Áries, o fogo em sua forma cardinal, ou seja, a chama e o impulso do início da criação e da vida, a iniciativa a partir da vontade e o entusiasmo do fogo que deseja se propagar.
O mito de Prometeu também é lembrado por Bachelard (2012:18). Para ele o complexo de Prometeu inclui “…todas as tendências que nos impelem a saber tanto quanto nossos pais, mais que nossos pais, tanto quanto nossos mestres, mais que nossos mestres”. E não à toa o conhecimento superior é regido por um signo de fogo – Sagitário, o fogo em sua forma mutável, a vontade em movimento que gera a curiosidade e o desejo de aprender, de conhecer e de saber mais. Entre Áries – a chama do fogo – e Sagitário – o fogo em constante movimento, existe o fogo fixo, a chama estável e o calor que nunca se apaga, o fogo do signo de Leão – o fogo mais intenso, o que mais deseja e precisa brilhar e o mais capaz de criar (e manter sua criação).
O fogo pode ser assustador para quem não conhece ou não domina seus instintos. Parece algo perigoso e Bachelard (2012:16,17) faz questão de lembrar que quando “… a criança aproxima sua mão do fogo, seu pai lhe dá um tapa nos dedose ainda reforça que “o fogo castiga sem necessidade de queimar”.
O fogo, astrologicamente falando, também pode ser muito perigoso. Ele queima, agride, consome. Pessoas com personalidade predominantemente fogo são mais propensas à agressividade e possuem maior inclinação à briga e a todo tipo de agressão. Justamente por isso são bons esportistas. Mas esportistas de fogo querem sempre ganhar. Por isso são os mais competitivos. O aries que deseja chegar em primeiro lugar. O leonino que deseja ser premiado por sua vitória. O sagitário que deseja chegar onde ninguém chegou antes. Independente de sua forma, o fogo sempre precisa ganhar e por isso compete, para ter certeza dessa sua capacidade de conquistar a vitória.
Mas o ginasta de fogo quer ganhar e não apenas porque o ato é interessante, mas por sua participação e pela lembrança que fica (GREENE, 2002:105).
Para o fogo, a competição é algo excitante, especialmente por esse seu lado mais instintivo e por essa ânsia por ganhar.
Fogo também é o elemento da paixão, porque rege os instintos. O fogo é a pura vontade e contém a coragem para conquistar o que deseja. Basta observar uma fogueira, contemplar uma chama. Ela queima sem parar e não se apaga por vontade própria. Por isso também é um dos elementos do amor, especialmente do amor do desejo e do amor sexual.
“Se a conquista do fogo é, primitivamente, uma ‘conquista’ sexual, não devemos nos surpreender com que o fogo tenha permanecido sexualizado, por tanto tempo e tão vigorosamente” (BACHELARD, 2012:65).
Áries, o primeiro signo do zodíaco e a primeira forma de manifestação do fogo, é justamente regido pelo planeta Marte, qu entre muitos assuntos rege também o sexo (e também os esportes e as competições). É talvez o signo de mais impulso sexual e de extrema paixão. É o grande conquistador do zodíaco e divide essa características com os demais signos de fogo, todos conquistadores natos.
Para Roninet “o fogo elementar é capaz de reproduzir seu semelhante” (ROBINET, 1928, apud BACHELARD, 2012:66) e curiosamente o signo Leão, o fogo em sua manifestação fixa e condensada, é também o signo da reprodução e do prazer sexual, signo que rege os filhos, ou seja, nossa capacidade de reproduzir alguém à nossa imagem e semelhança.
O fogo é o elemento que movimenta a vida, literalmente quando se pensa que o fogo em sua forma cardinal (Áries) rege a primeira paixão, a atração física e o desejo de conquistar e de se relacionar sexualmente com alguém. O fogo em sua forma fixa deseja manter o amor e a paixão. Leão é o signo que rege o amor, os relacionamentos, o prazer (inclusive o sexual) e os filhos. É a vontade que precisa se manter, a chama que precisa permanecer acesa e eternamente viva. E o fogo em sua forma mutável, que precisa sempre ir além, mas com paixão e vontade. Sagitário é o signo que precisa ir além dos horizontes, porque a vontade sempre se transforma e o fogo não pode ser abafado sem morrer. Os signos de fogo não podem perder a vontade, a energia ou a motivação, pois quando isso acontece eles se apagam e a vida perde todo sentido.
Mas por ter tanta energia e paixão, os signos de fogo são também os mais violentos, os mais briguentos, os mais agressivos. O fogo é capaz de queimar tudo, consumir o mundo em suas chamas e destruir o que encontra em seu caminho.
O fogo também é idealista. A chama sempre quer crescer e no fundo o fogo contém grande espontaneidade e até certa ingenuidade, tamanha a sua pureza. Bachelard (2012:153) diz que o fogo é puro “…na ponta da chama, onde a cor dá lugar a uma vibração quase invisível. Então, o fogo se desmaterializa, se desrealiza; torna-se espírito.
E de fato em algum lugar ou momento o fogo sempre é puro, é ingênuo, age a partir da pureza de seu coração e de seu espírito. Todas as formas do fogo são idealistas. O fogo cardinal ariano tem o ideal de ser, de começar e de chegar primeiro. O fogo fixo leonino tem o ideal de criar e ser único. O fogo mutável sagitariano, o mais idealista de todos, tem o ideal de viver além de todos os horizontes, de ser o que ninguém foi e conhecer onde ninguém conheceu.
Bachelard (2012:05) ainda fala que “… um elemento material como o fogo…” pode ser associado a “…um tipo de devaneio que comanda as crenças, as paixões, o ideal, a filosofia de toda uma vida” e também não por acaso o fogo em sua forma mutável – sagitário – rege a filosofia de vida, todas as crenças e ideias de alguém.
Também o amor é natural do fogo. O amor que começa com o calor da paixão, na forma cardinal do fogo, que se consome e se mantém na forma fixa do fogo e que se aventura e idealiza em sua forma mutável.
Para Rilke “ser amado significa consumir-se na chama; amar é luzir de uma luz inesgotável” (RILKE, apud BACHELARD, 2012:156). Bachelard complementa esse pensamento dizendo que “…amar é escapar à dúvida, é viver na evidência do coração”. O amor que também contém os outros elementos é mesmo algo que nasce do fogo e que se evidencia no coração, como bem representa o fogo.
Apesar de tanta intensidade, o fogo também reconforta. Mas para isso é preciso observação e experiência. É preciso saber lidar com o fogo. E é necessário observar atentamente o fogo. Esse também o pensamento de Bachelard (2012:23):“Certamente o fogo aquece e reconforta. Mas só tomamos efetivamente consciência desse reconforto numa contemplação bastante prolongada”. E ele ainda nos lembra que “o fogo não apenas aquece, mas também cozinha as carnes”. Isso é mais uma prova de que do fogo depende a vida.
De qualquer forma, o fogo é o elemento do ser. E o ser vem do coração, do impulso da vida. “Porque, no fundo, o homem é o que é o seu coração. É nele que a humanidade do ser humano reside e se revela. O coração é o sol do microcosmo”[2].
E talvez fosse desnecessário dizer, mas dependemos totalmente de todo esse fogo para viver: do fogo do Sol, do fogo da vida, do fogo que cozinha o alimento, do fogo da vontade e do fogo do ser.
[1] BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
[2] Meditações sobre os 22 arcanos maiores do tarô/ por um autor que quis manter-se no anonimato, 5 ed, São Paulo: Paulus, 2005, página 235