Água
Da água vem toda vida. – O Alcorão[1]
Aproximadamente setenta por centro do planeta Terra é composto de água. Coincidência ou não, setenta por cento do corpo humano é composto por água. O líquido que a terra contém é a grande maioria do nosso ser: nosso enquanto ser humano, nosso enquanto habitantes do planeta Terra. Óbvio, portanto, que precisamos de água para viver. Podemos ficar algum tempo sem alimento, mas não sobrevivemos sem água. Não sobrevivemos sem o sangue que circula em nosso corpo.
Astrologicamente, água é o elemento associado às emoções e aos sentimentos. Ou como bem define Amanda Costa, “o elemento água simboliza os sentimentos e os estados inconscientes e anímicos” (2011:80).
Por isso os signos de água, Câncer, Escorpião e Peixes, são também os mais sensíveis de todos. Sentem profundamente e transbordam sentimento. Ou nas palavras de Liz Greene (2002:361):
Os signos de água se movem como no reino da natureza: pelo instinto, muito à vontade com o irracional, com o inexplicável e às vezes com o mágico. Eles são completamente motivados pelos sentimentos – e sentimentos, como todos admitirão, exceto algumas pessoas obsessivamente cientificas e materialistas, não são algo que se posa medir através de estatísticas, definir como hipóteses ou colocar dentro de leis racionalmente compreensíveis.
Por isso, além da sensibilidade, também existe uma relação direta entre água e inconsciente e, consequentemente, a água também está ligada aos sonhos e à imaginação.
A imaginação é, afinal, um dos dons mais fortes do elemento água (GREENE, 2002:363). Para Liz Greene “pessoas de água têm uma imaginação maravilhosa. Elas são também sensíveis, receptivas e profundas”.
Mas a água é, segundo Bachelard (2002:06) “…um tipo particular de imaginação” Para ele, aliás,
a água é também um tipo de destino, não mais apenas o vão destino das imagens fugazes, o vão destino de um sonho que não se acaba, mas o destino essencial que metamorfoseia incessantemente a substância do ser.
Á água compartilha com o ar a faculdade de imaginar, de sonhar e a possibilidade de se deixar influenciar por tudo que acontece à sua volta, assim como a grande habilidade de influenciar tudo aquilo que toca.
Assim como o ar, a água arrasta as coisas, leva uma coisa de um para outro lugar e é capaz de transformar tudo por onde passa. A água é o mais transformável dos elementos (GREENE, 2002:361).
Bachelard (2002:09) nos apresenta a água dizendo que não é o infinito que encontra nas águas, mas a profundidade. E de fato a água é o elemento mais profundo dos quatro. Está dentro da terra e está na superfície. Está em nós e está em todo lugar. Desce do céu, por meio da chuva. Brota de dentro da Terra.
Bachelard (2002:10) fala que “Uma gota de água poderosa basta para criar um mundo e para dissolver a noite” e ainda que “A água assim dinamizada é um embrião; dá a vida um impulso inesgotável”.
Água que dá impulso à vida e que leva em si mesma toda a vida. Da nascente de um rio até seu ingresso no mar, a água leva em si mesma tudo que toca. Mesmo que a água possa ser potável ou impura em diferentes trechos de um rio, o rio é sempre o mesmo e aquela água carrega consigo tudo que dela fez ou faz parte.
O mundo da água é o mundo dos sentimentos. As emoções que são inclusive fortemente influenciadas pela Lua, regente natural do signo de Câncer, a água em sua forma cardinal. Segundo Stephen Arroyo (2005:110):
O elemento água representa o reino da emoção profunda e das reações de sentimento, indo desde paixões compulsivas e temores irresistíveis, até uma aceitação e um amor que abrange toda a criação.
…
Os signos de água, como a natureza da própria água, não tem solidez ou forma própria.
Por isso a água é o elemento mais adaptável de todos, capaz de se moldar e fazer parte sempre. “A água é o mais transformável dos elementos”, retomando Liz Greene (2002:361).
Mas apesar de sua fluidez passar uma aparente passividade, a água é forte e poderosa e de todos elementos o mais capaz de transformar. Tanto é que a água, aos poucos e com sensibilidade, com cuidado e paciência, vai moldando a terra, vai dando uma nova forma à toda a natureza.
Basta olhar para os caminhos formados pela água na natureza, as cachoeiras e os rios. Até mesmo quando pensamos nas infiltrações e vazamentos vemos o estrago de que a água é capaz, apesar de sua aparente fragilidade.
Astrologicamente, a água é encontrada sob três formas. A água cardinal, Câncer, que pode ser comparada a um rio, que nasce e segue seu destino, com energia e vontade. A água fixa, Escorpião, as lagoas aparentemente calmas e tranquilas, porém profundas e cheias de mistérios e perigos. E a água mutável, Peixes, o mar infinito, que sempre se transforma.
Bachelar (2002:119), ainda sobre a água, lembra que “É o sentimento que constitui o valor fundamental e primeiro”. Ele ainda complementa dizendo que
…se o sentimento pela natureza é tão duradouro em certas almas é porque, em sua forma original, ele está na origem de todos os sentimentos. É o sentimento filial. Todas as formas de amor recebem um componente do amor por uma mãe
Astrologicamente, a grande regente dos sentimentos e do mundo das emoções é a Lua, que também rege o signo de Câncer, a água primeira, em sua forma cardinal, o impulso da emoção. A Lua também rege a mãe e é está relacionada ao primeiro afeto que recebemos (ou deveríamos receber). A Lua tem a ver com a relação da criança com sua mãe (desde o útero) e toda essa relação influencia a vida emocional de uma pessoa durante toda sua vida. A Lua, regente do signo de Câncer e planeta mais conectado ao elemento água, interfere nas marés e em todas as águas do mundo. E nas águas do ser humano, interferindo diretamente no ciclo menstrual da mulher, nos humores e emoções de todas as pessoas.
Em suas conclusões sobre o elemento água, Bachelard (2002:193) diz que a água é a senhora da linguagem fluida, da linguagem sem brusquidão, da linguagem contínua, continuada, da linguagem que abranda o ritmo, que proporciona uma matéria uniforme a ritmos diferentes”.
A água é o elemento que nunca se perde, mas que sempre se transforma. Que pode ser congelada ou transformada em vapor, mas que sempre pode, de uma ou outra forma, voltar ao seu estado líquido.
E de certa forma, o elemento água é aquele que sempre muda. Mas quando pensamos em pessoas de elemento ar, elas mudam porque mudam seus sentimentos (GREENE, 2002:363). E como essas pessoas são totalmente influenciadas e movidas por suas emoções, cada sentimento que se transforma pode refletir em grandes mudanças em suas vidas. Essas mudanças podem ser lentas e sutis ou turbulentas e agressivas.
Ao falar da poesia da água, Bachelard (2002:293) diz que
a água é a senhora da linguagem fluida, da linguagem sem brusquidão, da linguagem contínua, continuada, da linguagem que abranda o ritmo, que proporciona uma matéria uniforme a ritmos diferentes.
O fato é que a água está sempre em movimento, transformando e sendo transformada, captando receptivamente tudo que vem até ela, levando de forma fluida e contínua seu conteúdo por onde passa, capturando e deixando resíduos, moldando e sendo moldada, continuamente, da nascente de um rio até a imensidão do mar.
Como essa água que capta tudo que nela entra, os signos de água também têm a ver com a memória, com as lembranças, especialmente daquilo que marca emocionalmente. A realidade da água é emocional, é construída pela sua imaginação, com seus sentimentos.
“Quando amamos uma realidade com toda a nossa alma, é porque essa realidade é já uma alma, é porque essa realidade é uma lembrança” (BACHELARD, 2002:120,121) e isso também retrata bem os signos de água.
O amor e o romantismo também fazem parte do mundo da água. Signos de água são românticos e nas histórias de amor sempre encontramos referencias à Lua (regente do signo de Câncer, a água em sua forma cardinal), ao sexo (extremamente associado ao Escorpião, a água em sua forma fixa) e ao mar (totalmente ligado ao signo de Peixes, a água em sua forma mutável).
É como diz Liz Greene (2002:363): “Nos relacionamentos, o conteúdo são geralmente os signos de água”.
[1] COSTA, Amanda. 360 Graus: Inventário Astrológico de Caio Fernando Abreu. Porto Alegre: Libretos, 2011.19