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Desacelerar não é ser devagar; é encontrar-se no seu tempo

Neste texto de inauguração deste espaço aqui na Bellatrix, eu gostaria de dizer que me sinto muito grata e honrada por integrar esta rede de pessoas que estão buscando construir coisas novas no mundo e transformá-lo a partir da reflexividade. É um privilégio imenso estar aqui e dialogar com vocês. Obrigada pela atenção e pelo tempo que dedicarem aos meus escritos e pensamentos.

Neste texto inaugural, achei que faria sentido contar para vocês sobre a ideia de Desacelerar que venho vivendo, pesquisando e construindo no Desacelera SP há cerca de três anos. Antes vale dizer que o desacelerar é um projeto biográfico. Venho cultivando esta busca desde que engravidei do meu primeiro filho, Miguel, há 8 anos. Mudei minhas relações com o trabalho, com a formação, com o consumo. Mudei minhas relações. Mudei meu olhar para elas. Mudei minha escuta. Calibrei meus sentidos, buscando voltá-los para o que importa: as pessoas.

Quem me conhece sabe que eu não sou nem um pouco lenta. Mas tenho sido – e buscado ser cada vez mais – atenta. Desacelerar não tem a ver com ser devagar, necessariamente, mas sim, com cultivar sua atenção plena, a convivência afetiva com as pessoas que importam para você e com encontrar(-se) (n)o seu tempo, no seu ritmo.

A ideia de desacelerar contém, portanto, a ideia de (re)conhecer-se e desenvolver uma capacidade de se relacionar com o (seu) tempo de forma consciente. É o que tenho chamado de consciência temporal.

A consciência temporal diz respeito a estabelecer uma relação mais saudável com o tempo. É buscar questionar a velocidade como imperativo “natural” ou “inevitável” e buscar entender quando a velocidade faz sentido e quando ela não faz.

No mundo em que vivemos, em que ser rápido, ágil, veloz é desejável e faz de você alguém melhor, é difícil parar, fazer uma pausa, respirar, refletir e buscar entender quando esta pressa é de fato necessária e quando ela é apenas um ritmo social pactuado em contratos de tempo nada justos, nem transparentes.

Afinal de contas, onde está escrito que é preciso responder a uma mensagem assim que o telefone celular apitar? Onde está escrito que um email não pode esperar pelo seu tempo justo para ter aquela resposta que ele merece, com atenção e cuidado?

Na construção da pressa como valor positivo, as tecnologias desempenham um papel central. São ladrões de tempo que nos fazem perder de vista a crítica à velocidade. Nos drenam, fazendo-nos entrar em uma roda viva difícil de escapar.

Desacelerar é buscar compreender todo este universo de apelos da aceleração social do tempo, que nos convoca a cada minuto a fazermos cada vez mais coisas e mais rápido. E buscar compreender quais são as suas prioridades, para que você não fique refém de urgências que são do mundo lá fora (e não suas).

Nesta coluna, vamos passear por todos estes temas, da velocidade como algo que precisamos desnaturalizar, dos contratos de tempo e da nossa responsabilidade na construção deles na sociedade, da consciência temporal (e do contraponto que esta ideia faz com a de “gestão do tempo”), da convivência afetiva e da atenção plena como possibilidades de escapar desta lógica da aceleração. Vamos falar sobre os movimentos relacionados ao slow movement e a suas manifestações em diversos campos da sociedade e sobre como podemos desacelerar com pequenas ações cotidianas.

Feliz e grata e honrada por estar aqui, despeço-me agradecendo a sua atenção e o seu tempo dedicado a esta leitura. Que possamos construir um mundo mais lento e humano juntos.

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