Estes dias, resgatei um vídeo maravilhoso do Marcos Piangers em que ele explica que as crianças não nascem sabendo o valor das coisas e nós, adultos, é que ensinamos para nossos filhos o valor das coisas. No vídeo, ele explica que quando consumimos, compramos aquele produto com nosso tempo. Você já parou para pensar nisso?
Marcos afirma que nossa vida é uma ‘gincana’: trabalhamos dia e noite para ganhar dinheiro para comprar coisas das quais não necessariamente precisamos, muitas vezes para suprir a ausência em momentos em que estávamos justamente correndo para poder gastar aquele dinheiro com aquela coisa da qual não necessariamente precisamos.
Que loucura parece ser isso, não?
Mas muitos de nós vivemos nesta roda viva.
Nos apegamos a padrões de vida e consumo que construímos sem perceber muito bem o que estávamos fazendo. E quando paramos para olhar, comprometemos relações preciosas e tempo de convivência com pessoas que amamos em nome de que mesmo?
Falo em relações em geral, porque com filhos certamente estas coisas “gritam”, mas isso vale para todo tipo de relação que zelamos. Amigos, parentes, relações amorosas…
O que as pessoas que amamos querem de nós é presença e atenção.
E quantas vezes tentamos suprir ausências com presentes?
Não estou aqui tentando dizer que não devemos presentear. Eu mesma amo presentear as pessoas. Gosto de olhar algo que penso “isso é a cara dela” e entregar para alguém que sabe que aquilo teve um significado, que me fez lembrar desta pessoa e que faz sentido para a nossa relação. E penso que presentear é um gesto fundamental de carinho e atenção.
Quando falo desta roda viva, me refiro aos mecanismos de presentear como compensação ou de presentear ‘por obrigação’. Nas datas comemorativas, se incentiva um consumo exacerbado. Temos que olhar para a lógica que nos leva a comprar; que nos leva a consumir pelo simples fato de que é um “pacto social” fazer aquilo. Especialmente nestas datas, o mercado quer nos fazer crer que somos menos se não conseguirmos presentear quem amamos. E mais: quer nos fazer crer que amamos menos, porque não presenteamos. E nós mesmos não estamos acostumados a presentear “apenas” com a presença. Ficamos sem jeito quando nestas festas, chegamos “de mãos abanando”.
Mas lembra daquele ciclo que mencionei no começo do texto?
E se a gente fizesse o exercício oposto?
E se – em vez de trabalhar feito loucas e loucos e correr e não ter tempo para nada e no final da semana ter a sensação de que não vivemos -, a gente fizesse um exercício de pensar: o que é suficiente? Do que eu preciso de fato? O que faz sentido e é essencial para a minha vida? Fazendo esta “conta” e invertendo o jogo, conseguiríamos chegar ao quanto precisamos trabalhar para ganhar aquilo que precisamos para viver uma vida que é suficiente.
Viveríamos com menos.
E vivendo com menos, nós não somente fazemos um exercício de desacelerar; nós fazemos um exercício de amor ao planeta, consumindo menos recursos. Fazemos um exercício de economia e consciência. Fazemos um gesto de amor e cuidado com a humanidade.
Experimente inverter a conta.
Se você buscar a suficiência, vai perceber que é possível decrescer seu padrão de consumo com abundância e prosperidade. Isso tem a ver com riqueza. Que não é necessariamente sinônimo de dinheiro ou de posses e bens materiais. Talvez você seja mais feliz com menos, talvez corra menos e esteja mais presente e atento, valorizando o que importa: as pessoas e não as coisas.