Vivemos tempos confusos em termos de tempo, organização de agenda e a rotina entre vida pessoal, descanso e trabalho. Com a demanda intensa pela disponibilidade constante, parece que estamos online e contatados o tempo todo, vinte e quatro horas por dia.
Muita gente que trabalha em empresa tem celular e e-mail que podem ser contatados a qualquer momento. Aliás, qualquer telefone ou e-mail pode, já que chega tudo em nossos smartphones e o fato de estarmos a apenas uma mensagem de distância faz com que estejamos sempre em alerta e prontos para o que der e vier.
As novas formas de trabalho também desorganizaram as ideias anteriores sobre trabalho, tempo, agenda e rotina. Cada vez menos gente trabalha em uma jornada regular de trabalho, com hora pra entrar, almoçar e sair. Eu mesma já trabalhei assim e sei que tem muitas vantagens. Você tem uma organização pré determinada, sabe que sempre tem que acordar naquela mesma hora e quais são seus horários disponíveis de descanso e lazer. Apesar disso, você fica refém desses horários e sobram poucas brechas para suas coisas pessoais, mas muita gente ainda acha que quem trabalha assim descansa mais e aparentemente tem mais tempo livre. Provavelmente porque em geral são pessoas que tem todas as noites e os fins de semana liberados, horários “normais” para a diversão, o descanso e o lazer.
Tenho pensado muito nisso tudo porque já faz muitos anos que trabalho por conta própria, como autônoma, e sou muito feliz por isso, apesar de alguns poréns com os quais quem também trabalha assim vai concordar que existem.
Não temos os mesmos “direitos” garantidos por lei. Não temos um salário fixo, férias remuneraras ou décimo terceiro salário. Não temos faltas justificadas por problemas de saúde. Toda vez que um médico me oferece um atestado eu fico pensando o que fazer com isso.
Mas pra mim as vantagens são inúmeras. Amo fazer minha agenda, ser dona dos meus horários e da minha rotina. Adoro poder trabalhar muito em um dia pra descansar em outro, fazer pausas tranquilas pra almoçar com uma amiga ou tomar um café no meio do dia. Adoro poder levar e buscar minha filha na escola quase todos os dias e ficar bastante tempo com ela.
Adoro decidir quantos dias vou tirar de férias ou que horas vou dormir ou acordar a cada dia. É fato que podemos trabalhar mais em muitos momentos, até porque temos que organizar bem as contas aproveitando as oportunidades de trabalho e sabendo guardar dinheiro se desejamos direito a férias e sabendo que sempre podemos ter emergências.
Por isso os períodos de descanso de quem é autônomo. Prefiro ter uma rotina minha que pode ser mudada a hora que eu quiser. Chego a trabalhar 10, 12 ou mais horas num dia, mas chego a não trabalhar algum dia da semana ou ter um almoço com duas ou três horas de duração. Prefiro, aliás, acordar um pouco mais tarde e trabalhar até mais tarde à noite. Prefiro intercalar prazer e descanso na rotina do dia a dia do que deixar tudo só pro fim de semana. Mas imagino que isso seja difícil de entender, quando nem sempre meu horário livre bate com os horários livres dos outros.
Ultimamente o que mais eu escuto é que trabalho demais e que não descanso. Juro que não sei de onde as pessoas tiram isso. Imagino que da minha produtividade, do fato de eu produzir muito e aparentemente estar sempre disponível e presente. Talvez algumas pessoas não saibam que quando um vídeo ou um texto ou um post vai ao ar, provavelmente já foram feitos antes, e que estar sempre na mídia não significa estar trabalhando aqui e agora, estar disponível o tempo todo.
Mas mais do que ficar imaginando o que as pessoas pensam, tenho pensado sobre o porque isso incomoda tanto as pessoas. Por que as pessoas acham tanto que eu preciso descansar? Não me sinto cansada! Não me sinto estressada e a maior parte das coisas que me deixa sem energia não tem nada a ver com trabalho e são coisas que não posso deixar de lado (família, casa, contas a pagar, etc).
Além disso, minha vida é cheia de momentos de descanso entre os momentos de trabalho. Um pausa para almoçar com calma, um café no meio do dia, levar e buscar a filha a pé na escola, passear com as cachorras, ler um livro, dormir até um pouco mais tarde num dia de semana (especialmente depois de trabalhar ou ficar fazendo alguma coisa da casa até tarde), almoçar com o marido uma ou duas vezes por semana, tomar uns bons banhos de banheira, cuidar de jardim, bater papo com amigos, ver um filme…se isso tudo não é lazer e descanso, me pergunto agora: o que as pessoas querem dizer com “você precisa descansar” ou “você precisa trabalhar menos?. Aliás, sempre me pergunto, menos? Já trabalho muito menos depois que virei mãe, já que por opção, não delego minha filha e faço questão de estar junto a maior parte do tempo, decisão esta que já comprometeu, e muito, o orçamento familiar. Atender 1/3 menos do que antes, por exemplo, é uma queda significativa na renda, mas tem gente querendo que eu trabalhe ainda menos…por que será?
Tudo bem, trabalho alguns fins de semana, dando aula, ou escrevendo, mas viajo ou fico em casa curtindo a família tantos outros… Almoço com minha mãe e com minha sogra com frequência, vamos ao teatro, ao cinema… isso não é momento de lazer e descanso? Será que quem me fala isso descansa deitado olhando pro teto sem fazer nada e entende que descanso precisa ser assim? Ou que é melhor ter todas as noites livres dos que algumas manhãs, como é o meu caso, ou que ginástica só se faz as 7h da manhã ou as 19h, e não meio dia, como eu consigo fazer? Será que é tão difícil entender que cada um tem seu ritmo, suas necessidades, seu metabolismo e, acima de tudo, suas vontades próprias? Será que é difícil entender que, por exemplo, escrever, é, pra mim, um momento de prazer, de descanso da mente?
Desculpe-me quem acha que esse texto é mais um desabafo, ou que estou sendo chata, arrogante ou repetitiva, mas deve ser Netuno me deixando compreender mal nos últimos tempos, ou esse meu Ascendente em Virgem passando imagem de gente ocupada o tempo todo, mas tem sido difícil explicar para alguns amigos que eu estou bem, obrigada, que o que me cansa são basicamente problemas que não posso resolver por enquanto e que não, eu não trabalho demais. Pra falar a verdade, até gostaria de poder trabalhar mais nesse momento, como já trabalhei mais antes, porque apesar das pessoas acreditarem que astrólogos vivem de luz, também temos muitas contas para pagar. Mas, por opção, nesta fase também estou investindo tempo e energia na minha filha, na minha família e em alguns projetos que são sonhos da minha vida, e estou feliz por isso. Também incluo o tempo livre, o lazer, o prazer na rotina, todos os dias (e não só no sábado ou no domingo) e se infelizmente não tenho o tempo que algumas pessoas gostariam que eu tivesse para elas, não é porque não as amo ou não quero estar junto, mas é porque é uma fase de rotina intensa, com alguns horários ditados por entradas e saídas de escola e atividades infantis, é porque agora moro um pouco mais longe, é porque agora preciso de um ritmo mais lento (exatamente o que me pedem pra fazer) e seria ótimo se cada um respeitasse o jeito de ser do outro, o momento de cada um, as escolhas que cada um faz.
Além disso, o fato de eu trabalhar interpretando o céu – e o céu não pára!, faz com que eu tenha sempre alguma coisa pra publicar ou pra contar, mas meu trabalho é prazer, é diversão, fonte de prazer, atender, ensinar, escrever, falar, me comunicar. Por favor, me deixem ser feliz, o trabalho não me cansa e, juro, não viro a noite trabalhando, nem trabalho sem parar. E mesmo quando estou cansada (quem é que nunca está?), eu sou feliz.
Ainda assim, quero muito saber. Como e quando você descansa? Conta pra mim?
Um beijo, e até o próximo texto,
Titi.33