Nas andanças da jornada do Desacelera SP por aí, encontro pessoas que buscam desacelerar.
Estas pessoas buscam compreender como é possível desacelerar em um mundo ultraveloz. Querem desacelerar “na prática”.
Não raro, algumas pessoas se aproximam querendo saber como podem desacelerar rapidamente.
Parece ser um paradoxo.
No entanto, entendo perfeitamente estas pessoas e esta angústia.
Uma vez que realizamos que precisamos ir mais devagar, parece urgente desacelerar. E é comum que as pessoas busquem “soluções mágicas” ou “dietas milagrosas de tempo”, como eu costumo classificar as “técnicas” que te prometem a desaceleração em curtas, rápidas e eficientes etapas.
Acontece que estas técnicas, em geral, operam justamente na lógica da aceleração, da eficência, da eficácia e da individualização do “problema” (fica aqui a promessa de um texto sobre como a velocidade pode ser uma violência sistêmica).
Desacelerar não é uma fórmula.
Desacelerar é uma escolha profunda, que mexe com estruturas pessoais, sociais, políticas, econômicas e culturais de quem vai trilhar este caminho.
O primeiro passo para desacelerar é o estranhamento.
Pergunte-se: por que tudo é tão veloz? Por que as pessoas não tem tempo? Por que EU não tenho tempo? Eu gostaria de ter tempo para as coisas que importam. E atender menos a urgências que não são minhas. Eu gostaria de ser dona (ou dono) do meu tempo.
O segundo passo é o questionamento: por que isso acontece? Que contextos estão em jogo na construção desta pressão pela velocidade? Por que estes contextos não se modificam? Qual o meu papel na reprodução destes contextos? Estou mesmo sem tempo? Posso mudar a forma como eu comunico meu tempo e como eu converso sobre o tempo com as pessoas? Podemos construir novos combinados de tempo em diferentes contextos, olhando para quando, de fato a velocidade faz sentido? Quando ela faz sentido? Quando estou apenas agindo “no automático”?
O terceiro passo está relacionado à consciência e a suas escolhas de tempo: para o que eu dedico meu tempo? Quais são as minhas prioridades? Qual é o meu ritmo? De que pausas preciso para viver as coisas com mais presença e plenitude? Que pessoas e relações são importantes para mim? Como posso dedicar mais tempo e presença para estas relações? Que opções estão a meu alcance para caminhar gradualmente para esta transição temporal?
Quando você seguir estes três passos, é possível que tome contato com coisas muito profundas que vão emergir destas reflexões. Cuide delas.
Elas são guias – únicas, singulares e só suas – para o processo de desaceleração que se inicia.
No próximo texto, trarei algumas dicas mais “práticas” de como desacelerar.
Nem rápido. Nem devagar. No tempo giusto.