Cicatrizes
por Augusto Moya
Descobrimos um restaurante que serve lámen perto de casa.
Delicioso.
Apenas duas pessoas cozinhando e uma atendendo num pequeno balcão com dez lugares.
Obviamente sempre lotado.
Semanas atrás, fomos mais uma vez almoçar lá.
Pessoas na rua esperando.
Acenei para o atendente e fiquei esperando a nossa vez.
Para minha surpresa, algumas pessoas que haviam chegado depois estavam sendo atendidas antes.
Fui saber o porquê.
O rapaz, sem jeito, explicou que eu deveria ter colocado o nome na lista de espera.
Argumentei que ele tinha me visto, e por isso já deveria ter sido atendido.
Educadamente, respondeu que não poderia fazer nada a respeito.
As regras eram essas.
E fui eu quem não seguiu as regras.
Sim, saí de lá esbravejando.
Mas o errado era eu.
Eu e mais ninguém.
Voltei depois, envergonhado, para pedir desculpas pelo meu erro.
Não foi fácil.
Foi obrigatório.
O que é mais difícil para você?
Pedir desculpas ou perdoar?
Ninguém é perfeito.
Nossas falhas deixam marcas.
Pequenas (ou não), para nos lembrar diariamente a necessidade de evoluir.
Cicatrizes são o resultado dessas aulas práticas.
Um jeito doloroso de aprender.
Mas, no tribunal onde todos somos culpados, só queremos enxergar a cadeira do juiz.
Errar é humano, mas o erro do outro é mais condenável que o meu.
Uma dose a mais de empatia, por favor.
De todos os lados.
Seja na hora do erro.
Seja na hora do perdão.
Quem muito atira pedras, cuidado.
Algumas delas podem voltar na sua direção.
Nelson Mandela e seu carcereiro, Christo Brand, conviveram diariamente por décadas.
Foram obrigados a isso.
Uma relação dura entre presidiário e guarda.
Respeitavam-se, apesar das muitas diferenças.
Quando Mandela virou presidente, Christo o acompanhou no gabinete.
Permaneceram amigos até o fim da vida.
Não somos Mandela, infelizmente.
Minha esperança é que possamos ser o carcereiro