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Calendário inspirador para 2022 – Parte 1

Dicas de livros, séries e filmes baseados na vida e obra de mulheres que fizeram História

Por Renata Frade

Feliz 2022 a todes! 2021 foi muito desafiador para todos nós. É com muita alegria poder retomar minha coluna neste espaço tão inspirador como é o site de Titi Vidal/Rede Bellatrix. Criei um calendário de inspiração para nossos leitores baseados em figuras feministas e femininas de grande importância. Para cada mês do ano haverá uma frase motivacional de uma musa acompanhada por referências biográficas e também por leituras, filmes, séries de TV. Espero que as informações tragam a você além de conhecimento, uma sensação de preenchimento com coisa boa, que dá aquela esperança, calor no coração e vontade de abraçar a si mesmo e ao mundo para tornar sonhos em ação. 

Janeiro: 

Maya Angelou é uma poetisa norte-americana, expoente importante na luta pelo feminismo negro, pela cultura afroamericana e direitos civis. Acho que uma boa dimensão sobre a sua trajetória até a morte, em 2014, é conhecer uma obra de ficção e outra de não ficção. Lançada pela Astral Cultural, Poesia Completa reúne versos que de uma forma lírica abordam temas que pautaram a vida e lutas da autora. Eu sei por que o pássaro canta na gaiola é a primeira biografia lançada pela ativista, no Brasil também publicada pela Astral Cultural, e revela detalhes de superação e traumas relacionados ao racismo e abusos.  

Acho que a figura de linguagem do arco-íris é feliz para um início de ano. Um caleidoscópio de cores marcam a pluralidade, a diversidade, os diversos caminhos que se colocam. Por isto, complemento a dica para este mês com a série documental A Sabedoria do Tempo com Papa Francisco. Trata-se de uma proposta do Santo Padre de reunir visões sobre a vida de jovens e idosos, provenientes de diversas partes do mundo, e mostrar como essa combinação pode criar resoluções para questões complexas do mundo, como crise climática, intolerância religiosa, racismo, assim como formas mais assertivas para lidar com emoções e sentimentos, como amor e medo. As histórias de vida são complexas, dramáticas, diversas, inclusivas e pautadas por extrema beleza, tanto para famosos, como Martin Scorcese, como para anônimos.

Fevereiro:

Djamila Ribeiro é um dos principais nomes do feminismo negro no Brasil. Mestre em filosofia política pela Unifesp e colunista do jornal Folha de S.Paulo, foi secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Uma de suas obras mais vendidas e paradigmáticas é Quem tem medo do feminismo negro? (Companhia das Letras), composta por artigos publicados pela autora no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. A filósofa aborda situações de violência, abuso e racismo desde a infância, causas que defende e aborda aspectos de obras de expoentes feministas.

Proponho a você, neste mês, um combo de A Cor Púrpura: livro, filme e musical. Foi lançada em 2021 pela José Olympio uma nova edição, caprichada, deste clássico, vencedor do National Book Award, do Prêmio Pulitzer e do American Book Award, escrito por Alice Walker. A protagonista é Celie, uma mulher negra do sul dos Estados Unidos no período histórico de de segregação racial. Sofre violência de seu padrasto e do homem com quem é obrigada a se casar. Uma referência sobre violência feminina e doméstica, racismo, preconceito e desigualdade sócio-econômica construída a partir das cartas trocadas entre Celie e sua irmã Nettie. 

Estará em cartaz até 13 de fevereiro de 2022 o musical homônimo, no Teatro RIACHUELO (Rio de Janeiro). De Marsha Norman, músicas de Brenda Russell, Allee Willis e Stephen Bray, versão brasileira Artur Xexéo, direção geral de Tadeu Aguiar. 

O filme A Cor Púrpura é uma das obras mais singulares de Steven Spielberg, com Whoopi Goldberg como a protagonista Celie. Tanto o filme quanto a atriz receberam indicações de Oscar em 1986. O elenco conta, ainda, com Danny Glover e Oprah Winfrey.

 Março:

Malala Yousafzai foi a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, por seu trabalho corajoso de defesa dos direitos civis, sobretudo das crianças e meninas, do qual foi vítima de um atentado que a fez se refugiar no Reino Unido. Sua trajetória fantástica é tema da biografia Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã (Companhia das Letras), que aborda sua trajetória da infância até o atentado, em 2012. Existem outras obras sobre Malala publicadas no Brasil, inclusive voltadas ao público infantil, que você deve conhecer. 

Recomendo que assista a série de três temporadas, também do Netflix, Anne with an E. Adaptação da obra literária de L.M. Montgomery,  Anne de Green Gables, tem uma protagonista com espírito libertário muito semelhante à Malala: a órfã Anne. Uma jovem de treze anos que sofreu imensas dores e sofrimentos no orfanato, salvas pelo seu poder imaginativo e pelo amor às palavras, à leitura e literatura. Adotada por um casal de irmãos idoso, residente em um lugarejo tradicional, a menina causa uma gradual revolução de costumes na comunidade a partir de sua perspectiva feminista, igualitária, amorosa e inovadora sobre as situações que se confronta. Também muito apegada aos estudos e inteligente como Malala, Anne acredita no poder emancipador do conhecimento, sobretudo para mulheres e vítimas de preconceitos, de racismo e de bullying. A série é marcada por cenas poéticas, bastante inspiradoras.

Abril:

Grace Hooper é um dos principais expoentes do feminismo na tecnologia, com marcante participação como programadora na Segunda Guerra Mundial. PhD em Matemática em Yale, quebrou uma série de paradigmas para uma mulher, sendo alta patente na Marinha norte-americana, criadora de um dos primeiros compiladores de código de computador, dando origem à linguagem COBOL, entre outros feitos. O filme CODE: Debugging the Gender Gap aborda contextos de presença de mulheres em tecnologia no mercado de trabalho, assim como dificuldades na inclusão de jovens no mesmo. A obra apresenta alguns expoentes femininos em tech, como Grace Hopper, ainda pouco conhecidos pelo grande público. Algo que estudo no doutorado, como o patriarcado apagou em muitas gerações grandes feitos de cientistas em tecnologia.   

Maio:

Mary Wollstonecraft é autora de um dos pilares do feminismo mundial: Uma reivindicação dos direitos da mulher, de 1792. O livro é um tratado sobre a defesa dos direitos das mulheres, como educação, no início da Revolução Industrial. A autora participou da Revolução Francesa e defendia padrões sociais à frente do tempo, como o amor livre. Mãe de Mary Shelley (autora de Frankenstein), Mary Wollstonecraft inspirou o movimento sufragista na transição do século XIX para o XX. Foi escritora, filósofa, e defensora dos direitos da mulher, inglesa. 

Uma inspiração para este mês é o ótimo filme As Sufragistas, que retrata justamente o início e desenvolvimento do movimento feminino e feminista no início da Revolução Industrial no Reino Unido. A luta na rua e junto a autoridades por um grupo de trabalhadoras em busca de justas condições de trabalho e salariais, assim como direito a voto, retrata o sofrimento, as dificuldades  não apenas profissionais, mas pessoais (como em relacionamentos afetivos, criação de filhos) e como uma causa se tornou um movimento que inspirou outros feministas em todo mundo. No elenco, Carey Mulligan, Helena Bonham Carter e Meryl Streep. 

Junho:

Coco Chanel foi uma estilista francesa, fundadora do império da moda Chanel. Única estilista presente na lista das cem pessoas mais importantes da história do século XX da revista Time. Seu trabalho foi fundamental não só para a História da Moda, mas como uma quebra de paradigmas de comportamento que até hoje influenciam gerações. Um estilo único, atemporal, clássico e ao mesmo tempo moderno de ser, vestir, sobretudo ser feminino.

Apesar de não ter nada a ver com moda, recomendo que assista ao filme Encanto. Chanel e a adolescente Mirabel têm pontos em comum: foram jovens arrojadas, cheias de personalidade, com características diferentes da maioria das pessoas e precisando se auto-afirmarem na sociedade e junto a parentes e amigos, com estilo pessoal marcante.

Mirabel Madrigal faz parte da terceira geração de uma família latino-americana que vive em um lugarejo na Colômbia cheio de cor, sons, vida e magia. Cada criança que nasce na família de Mirabel recebe um poder específico que a acompanhará para sempre. Mirabel vive atormentada por ser a única pessoa entre os seus a não ter nascido com um poder especial, mas uma sucessão de desafios familiares e da comunidade farão com que atributos da jovem se revelem. Trata-se de um filme com personagens femininas fortes,  matriarcas corajosas, as quais precisaram lidar com situações de tristeza profunda sem perder a alegria de viver. Uma ode sobre acreditar em si mesmo apesar de tanta coisa contra, de vencer pela empatia, amor e união. 

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