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Café e açúcar: o motor da civilização capitalista

Dois negócios têm me chamado atenção em São Paulo: o aumento exponencial do número de cafeterias e docerias abertas nas cidades, especialmente estas últimas. Nos últimos 10 anos aquelas tradicionais docerias, que vendem das balas mais simples aos chocolates importados e antes raros na cidade, se proliferam alucinadamente.

Some-se a isso o natural talento de uma cidade como SP para abrir cafeterias, e temos como negócios de destaque dois alimentos super estimulantes. Deliciosos, mas reconhecidos por fazerem o ser humano ficar alerta e trabalhar mais. Cenário perfeito para uma cidade que se orgulha de não parar.

Nada de errado com café e com açúcar, duas paixões pra mim. Consumidos com parcimônia, ambos devem fazer parte da nossa alimentação diária e, quando de qualidade, são imbatíveis. Além disso, estão ali no coração da história brasileira, com tudo de bom e de ruim. O ciclo do açúcar foi o primeiro da economia brasileira, alimentado, infelizmente, pela escravidão dos negros africanos – herança que temos a obrigação de revisitar continuamente, até que todos sejam tratados com igualdade. Já o ciclo do café é particularmente importante para São Paulo, e trouxe grande parte dos imigrantes hoje misturados ao DNA da cidade.

A questão aqui, em termos alimentares, é o exagero. Eu mesma consumo demais dos dois ingredientes. Café para acordar, café para tirar o sono pós-almoço, café pré-aula da noite. Quanto mais forte, melhor. Sem contar os cafés intermediários.

Doce? Poderia comer várias vezes por dia, começando pelo café da manhã, como fazem alguns moradores de outros países. E muitos dias começo, especialmente com geleias, que amo. O docinho pós-almoço é quase uma religião. Isso é um problema? Não. O próprio Guia Alimentar do Ministério da Saúde preconiza que um dos principais padrões de alimentação brasileira é esse docinho pós-refeições. Pequeno, gostoso, que conforta a alma.

A questão é que as docerias estão por todos os lados, e costumamos ir muito além desse docinho. Pacotes de biscoitos recheados, bolos com gordura hidrogenada, doces com 80% só de açúcar, sem outros nutrientes. A disponibilidade é alta demais, deixando muito para trás aquela realidade de brigadeiro apenas nas festas de criança.

Açúcar e cafeína são estimulantes e, como tal, combinam de modo perigoso com uma sociedade cada vez mais acelerada, produtivista e capitalista. Ambas estimulam nosso cérebro cansado a produzir sem descanso, viciando nosso corpo que quer sempre mais. Mais açúcar, mais cafeína, mais, mais… E sabemos naturalmente que tudo em excesso nos prejudica.

O que proponho aqui é uma reflexão sobre nosso consumo e o quanto pequenos atos estão ligados ao mundo acelerado e que não nos deixa sentir. Aquela fatia de manjar (amo!) pós-almoço? Tudo bem! Mas aquele doce consumido sem pensar, apenas para manter o pique, deve ser repensado. O cafezinho para manter o pique, quem nunca?, mas vamos tentar desacelerar ao invés de viciar cada vez mais nosso corpo.

Vamos juntas e juntos? Porque eu, acelerada como sou pelo meu ascendente em Áries e pela paulistanice que gruda na alma, preciso muito reduzir açúcar e cafeína da minha vida. Pelo bem do meu corpo, que já reclama há tempos de que não dá conta dos excessos. Hora dos chás (deliciosos), das frutas frescas e secas e, muito bem vinda, daquela parada para respirar e pensar, que pode mostrar que o corpo só precisa de descanso. Nada mais.

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